Giancarlo Giampietro e Vicente Toledo Jr.
Em São Paulo (SP)
Treinador da seleção brasileira feminina desde 1997, Antônio Carlos Barbosa chegou ao seu "limite" nesta quinta-feira, após a derrota do Brasil para a Austrália por 88 a 76 na semifinal do Mundial. Contestado por alguns comentaristas e vaiado por parte da torcida, ele não escondeu sua insatisfação com o que chama de "cultura" de culpar o técnico.
"Não tenho dúvidas do que eu fiz e do que eu posso fazer como técnico de basquete. Temos que mudar essa cultura de perguntar para o técnico porque o time perdeu. Não é tudo culpa do técnico, minha paciência se esgotou", disse o treinador durante a entrevista coletiva após a partida.
Momentos antes, Barbosa falava sobre acalmar os ânimos e levantar o moral das jogadoras para a disputa da medalha de bronze. Mas ele mesmo explodiu ao ser questionado sobre suas atitudes no último quarto do jogo, quando o Brasil viu a vantagem de sete pontos construída a duas penas durante a partida ser pulverizada em minutos.
"Não tenho dúvidas do que eu fiz e do que eu posso fazer como técnico de basquete. Temos que mudar essa cultura de perguntar para o técnico por que o time perdeu. Não vou mais ficar ouvindo dizerem o que eu deveria ter feito", esbravejou.
O Brasil entrou no último quarto do jogo contra a Austrália com sete pontos de vantagem. Em quadra, apenas a ala Iziane fazia parte do quinteto titular. Jogadoras experientes como Janeth, Helen e Alessandra estavam no banco.
Em questão de minutos, as visitantes tiraram a diferença e passaram à frente, acabando com o sonho brasileiro de ir à final. Foram duas as principais reclamações sobre o trabalho do treinador no período decisivo.
A primeira é que ele demorou muito para pedir um tempo e paralisar o jogo, o que só fez quando a Austrália já estava na frente por 69 a 68. "Foi rapidíssimo. Eu já tinha gastado dois tempos, tanto que quando faltavam quatro minutos não tinha mais tempo para pedir. Devo ter bobeado em não parar o jogo, bobeei mais uma vez, como tantas outras vezes", ironizou.
A segunda foi a decisão de manter a pivô Alessandra durante quase todo o quarto no banco de reservas. Mesmo com dores no ombro esquerdo, ela vinha sendo o destaque do Brasil, tanto no ataque quanto na marcação de Lauren Jackson, principal cestinha do campeonato.
"A Érika estava bem no jogo. Foi com ela em quadra que nós abrimos nove pontos no terceiro quarto, por isso decidi mantê-la no lugar da Alessandra", explicou Barbosa, que disse ter tentado de tudo para reverter a reação australiana.
"Troquei as jogadoras, gastei meus três tempos, tentei mexer com a equipe, mas não funcionou. Os 38 minutos que jogamos bem são mérito das jogadoras, mas os dois minutos em que fomos são culpa do técnico", afirmou o treinador.
Barbosa ainda atacou seus colegas de profissão que trabalham como comentaristas de TV na cobertura do Mundial. Segundo ele, falta ética e hombridade a alguns desses profissionais. "É cômodo falar na TV a solução para algo que você nunca solucionou quando teve chance. Outros nunca chegaram até aqui, e outros são apenas teóricos", afirmou.
"Eu desafio todos eles a fazer uma mesa redonda comigo para ver quem entende mais de basquete. Vamos colocar na mesa currículo e títulos. Vamos discutir tática, estratégia de jogo, tudo. É fácil sugerir quando você nunca fez", completou.
Apesar das críticas e do desabafo, Barbosa continua prestigiado junto à direção da CBB (Confederação Brasileira de Basquete), que vai mantê-lo no cargo.
"Esse é um momento de calma para analisar o trabalho da comissão técnica. O importante é ver que nossas jogadoras lutaram e perderam jogando bem. Mesmo o quarto lugar não seria nenhuma derrota. E nós já temos o Pan e o Pré-Olímpico chegando", disse o presidente Gerasime Bozikis, o Grego.
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