Giancarlo Giampietro e Vicente Toledo Jr.
Em São Paulo (SP)
Depois de comandar o marcador durante quase toda a partida, a seleção brasileira vacilou no último quarto e voltou a ser derrotada pela Austrália, desta vez por 88 a 76, no Mundial de basquete feminino.
"São detalhes. Jogamos 35 minutos bem, mas os cinco minutos que jogamos mal nos custaram a vaga na final e a medalha garantida", lamentou o técnico Antônio Carlos Barbosa.
Com isso, as australianas decidirão o ouro, enquanto as donas da casa jogarão pelo bronze no próximo sábado. Na outra semifinal, a Rússia
venceu por 75 a 68 e colocou os EUA no caminho do Brasil.
Esta foi a terceira derrota consecutiva do Brasil para as rivais da Oceania em semifinais das mais importantes competições internacionais - já haviam perdido na mesma fase nos Jogos Olímpicos de Sydney-2000 e Atenas-2004. Em 11 confrontos em torneios dessa envergadura, a Austrália tem nove vitórias.
"É cliché, mas perdemos para uma grande equipe, que tem ficado com medalhas em Mundiais e Olimpíadas desde 1998. Não foi nada de anormal", comentou Barbosa, que elogiou a regularidade do time australiano durante a partida.
"Elas não têm altos e baixos durante a partida. Contra a Austrália não pode ter queda de rendimento, é fatal. Elas são constantes desde o primeiro minuto de jogo. É difícil jogar contra um time assim", disse.
A técnica australiana Jan Stirling reconheceu a boa partida das brasileiras, dizendo que isso valorizou ainda mais a vitória de sua equipe. "Não sucumbimos à pressão da torcida. Ficamos firmes mesmo quando estávamos atrás no placar", ressaltou.
"A decepção do Brasil é compreensível. A gente sabe como é difícil jogar um Mundial em casa, a expectativa é muito grande. As brasileiras jogaram muito bem, tornaram a nossa vitória muito difícil, por isso estou orgulhosa do meu time", completou.
A cestinha da partida foi a australiana Penn Taylor, que já havia sido a melhor em quadra na vitória sobre o Brasil pela segunda fase, com 26 pontos. A ala Belinda Snell contribuiu com mais 22 pontos, acertando três arremessos da linha de três.
Pelo Brasil, o destaque foi Iziane, com 16 pontos e duas roubadas. Em tarde apagada e sofrendo com bolhas nos pés, Janeth marcou apenas sete pontos e pegou três rebotes.
O jogoComo já era esperado, a partida começou bastante equilibrada, com ambas as equipes mostrando nervosismo e cometendo erros em excesso, principalmente a Austrália, que perdeu seis posses de bola só no primeiro quarto.
OS NÚMEROS DA DERROTA |
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43,8% | Dois pontos | 52,6% |
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33,3% | Três pontos | 45% |
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80% | Lances livres | 77,8% |
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25 | Rebotes | 32 |
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11 | Assistências | 13 |
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13 | Erros | 16 |
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28 | Pontos - banco | 6 |
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Brasil | Estatística | Austrália |
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O Brasil saiu na frente, usando bem a altura e a experiência da pivô Alessandra, e liderou o placar nos primeiros seis minutos. Com Lauren Jackson bem marcada, as australianas dependeram da boa pontaria da ala Penn Taylor para se manterem próximas - ela fez 13 pontos e não errou nenhum arremesso no primeiro período.
A equipe visitante passou à frente na primeira jogada bem sucedida da cestinha Lauren Jackson, que fez 11 a 10. A marcação por zona das australianas desestabilizou momentaneamente o ataque brasileiro, que não conseguia acertar arremessos de fora.
Mas a vantagem da Austrália durou pouco, e Iziane recolocou o Brasil à frente por 17 a 15. Os dois times seguiram trocando cestas até o final do primeiro quarto, que terminou empatado em 21 a 21.
Os primeiros pontos do segundo período foram da seleção australiana, que acertou um chute de três para fazer 24 a 21, aproveitando rebote ofensivo apanhado dentro do garrafão brasileiro.
A ala Micaela entrou bem no lugar de Janeth e empatou devolvendo a bola de três. No ataque seguinte, ela puxou o contra-ataque e sofreu falta antidesportiva de Lauren Jackson, virando novamente o marcador para 25 a 24. O lance incendiou a torcida, até então pouco participativa.
Érika, que substituiu a titular Alessandra, também encontrou espaço para jogar no garrafão e, com duas cestas seguidas, ampliou para 33 a 29. Micaela fez mais uma, e o Brasil abriu seis pontos (35 a 29), a maior diferença do jogo até então.
Mas a equipe da casa voltou a vacilar nos rebotes, e permitiu nova reação das adversárias, que foram para o intervalo perdendo por apenas um ponto (40 a 39).
Na volta dos vestiários, a torcida brasileira se preocupou com a demora de Janeth, que cuidava de bolhas causadas pela bota de esparadrapo usada para proteger seu tornozelo.
Ela chegou a tempo, mas o time brasileiro também demorou a entrar no jogo e viu a equipe rival passar à frente com duas cestas consecutivas (43 a 40). O momento adverso só começou a mudar quando a estrela Lauren Jackson cometeu sua terceira falta e foi para o banco.
Logo em seguida, Penn Taylor também teve que sair por problemas com faltas, abrindo caminho para a reação brasileira. Um arremesso de três pontos perfeito de Iziane pôs o Brasil de novo na frente, por 49 a 46.
Dentro do garrafão, Alessandra e Êga fugiam bem da marcação australiana, preocupada com o excesso de faltas. Embalado, o Brasil aproveitou o bom momento e fechou o terceiro período sete pontos à frente (64 a 57).
Quando tudo parecia indicar uma vitória tranqüila das anfitriãs, deu "branco" no time brasileiro. Com a formação reserva em quadra, o Brasil não soube aproveitar o excesso de faltas das principais jogadoras australianas, que desequilibraram.
Em menos de cinco minutos, a Austrália descontou os sete pontos de desvantagem, passou à frente por 69 a 68 e abriu seis de frente (74 a 68). Um dos destaques do Brasil no jogo, a pivô Alessandra ficou quase todo o último quarto no banco de reservas, enquanto Lauren Jackson deitava e rolava no garrafão brasileiro.
O técnico Barbosa só recolocou Alessandra em quadra quando faltavam pouco mais de dois minutos para o final do jogo, atendendo o pedido incessante da torcida. À essa altura, porém, a Austrália já vencia por 81 a 74. A partir daí, as visitantes apenas administraram essa vantagem para se garantirem na decisão.