Topo

Maratonista que temia ser morto após protesto na Rio-16 reencontra família

Wilfredo Lee/AP
Imagem: Wilfredo Lee/AP

Do UOL, em São Paulo

15/02/2017 14h14

Quase seis meses depois de um protesto que mudaria o destino de sua vida, o maratonista etíope Feyisa Lilesa reencontrou a família em cenas comoventes registradas por fotógrafos no aeroporto de Miami, na última terça-feira.

O sorriso em seu rosto ao ver a corrida de sua filha de seis anos Soko ao encontro de seu abraço resume a felicidade de Feyisa Lilesa por um momento que esperava desde que resolveu não voltar à Etiópia. O motivo: temia ser morto por causa do protesto que realizou contra o governo do país ao conquistar a medalha e prata na Olimpíada do Rio de Janeiro.

Lilesa - Wilfredo Lee/AP - Wilfredo Lee/AP
Imagem: Wilfredo Lee/AP
Com um visto especial concedido pelos Estados Unidos após três meses de espera no Brasil, Feyisa Lilesa estabeleceu residência na cidade de Flagstaff, no Arizona, enquanto tentava resolver a situação de sua família que continuava na Etiópia. Após muita espera, o maratonista enfim pôde reencontrar Soko, seu filho Sora (de 3 anos e meio) e a sua mulher Iftu Mulia. Eles também receberam vistos especiais de residência nos Estados Unidos.

“O meu maior presente é poder vê-los novamente. Foi bem difícil esses meses”, disse Feyisa Lilesa em entrevista à NBC. “Enquanto eu estava correndo ou dormindo, eu só conseguia pensar na minha família e no que estava acontecendo com o meu povo. Isso estava constantemente na minha cabeça”, completou.

Tudo começou quando Feyisa Lilesa cruzou a linha de chegada na Olimpíada do Rio de Janeiro fazendo um sinal de xis com os braços, um gesto de apoio a protestos contra o governo da Etiópia.

Em entrevista após a conquista, Lilesa fez uma dura manifestação contra o governo etíope, acusado por ele de assassinar dissidentes de etnia diferente. O fundista de 26 anos faz parte da etnia oromo, que compõe um terço do país mas se considera alijada do poder. Ao final da entrevista, ele disse que tinha medo de voltar ao país e ser assassinado.

A escolha pelo protesto e pelo exílio nem de perto levam o sentimento de arrependimento a Lilesa. Para ele, a história pode servir de lição para uma luta que ainda está longe de terminar, Em outubro do último ano, a Etiópia decretou estado de emergência para conter os protestos de dissidentes como Lilesa.

“Eu acredito que ter assumido o risco de colocar a minha família naquela posição, de potencialmente colocá-los em perigo, foi uma grande lição para muitas pessoas. Às vezes, precisamos nos sacrificar para ganharmos concessões e mudarmos uma situação. Neste sentido, a minha atitude inspirou pessoas a lutarem pelos seus direitos e resistiram ao governo da Etiópia”, completou.

Entenda o caso

Os protestos começaram a ocorrer em novembro de 2015, quando o maior grupo étnico do país, a oromo, começou a pedir mais autogoverno, presença nas instituições políticas etíopes e uma maior redistribuição da riqueza.

A etnia também pede respeito a sua identidade, já que diz viver uma marginalização e perseguição sistemática por parte das forças governamentais, que utilizaram a força contra seus protestos pacíficos em mais de uma ocasião.

O regime etíope enfrenta um movimento de contestação antigovernamental sem precedentes nos últimos anos, que também conta com a participação da etnia amara, o segundo grupo majoritário, que também se considera marginalizados pelo governo.

O regime dos amara, apoiado pelo governo militar anterior e uma estirpe de imperadores, foi substituído pela liderança dos tigray, a etnia minoritária que sustenta o atual partido governante, após a queda do ditador comunista Mengistu Haile Mariam em 1991.

Com informações da EFE.