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Thiago Braz terá carreira cuidada por família de Neymar: "exemplo pra mim"

Fabio Aleixo e Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

05/10/2016 06h00

Uma das principais estrelas do Brasil na Rio-2016, Thiago Braz terá sua carreira gerenciada pela NN Consultoria, a assessoria criada pela família de Neymar para cuidar do futuro do jogador. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o campeão olímpico do salto com vara contou que os rumos profissionais do craque do Barcelona foram fundamentais para que ele escolhesse a agência como parceira.

“Se você for olhar para a carreira do Neymar ela é bem assessorada, um exemplo para mim. Eu gostaria de ter o mesmo e foi o porquê de ter escolhido eles”, disse Thiago Braz, que falou sobre como se aproximou da empresa. “Era algo importante para mim. Selecionei o máximo que pude e este foi o melhor caminho para mim. Tinha bastante gente me procurando. Antes da Olimpíada, eu procurava e tive várias portas na cara”, completou o saltador.

"Precisava não me preocupar com nada. Antes, eu tomava conta da minha carreira. Eu e minha mulher. As pessoas ligavam, mandavam mensagem. Com várias trocas de telefone não dava para chegar até mim. E tinha outros problemas. Conta bancária, conversar com o COB (Comitê Olímpico do Brasil), confederações e também resolver dívidas lá fora, como aluguel, água, luz, internet e e eu me preocupava e isso influenciava muito nos treinamentos. Eu ia treinar com a cabeça cheia e chegava em casa exausto. Tinha de pensar no treino, em contas para pagar, de uma gestão que não tinha para ter tranquilidade e chegar no Rio sem preocupação", explicou.

O título olímpico não mudou só o gerenciamento da carreira. Na entrevista de uma hora, Thiago fala dos próximos objetivos na carreira, o assédio que passou a receber no Brasil e no exterior e até da relação com o antigo clube, que surpreendentemente voltou a existir. O que segue igual é a relação com Renaud Lavillenie, o francês que ficou com a prata. Os dois pareciam ter “feito as pazes” no Rio, mas o primeiro encontro na Europa mostrou que não está tudo resolvido.

Veja, abaixo, os principais trechos da conversa:

Reencontro com Lavillenie foi frio

“Na Olimpíada foi legal. Nós conversamos e achei que ia mudar um pouco. Fazia um ano e meio que não nos falávamos tão bem e até comentei isso nas entrevistas. A gente conversou um pouco e parecia tranquilo. Quando fui para o outro lado, em Zurique, fui cumprimentar ele no hotel e ele me deu a mão, mas meio que não querendo. Praticamente não mudou nada. Não sei se foi fachada”.

Nota da redação: No momento da prova, Lavillenie estava há quase dois anos sem falar com Thiago. Depois de perder o ouro, ele criticou as vaias que recebeu da torcida e disse, na primeira entrevista coletiva, que “não estava lá para fazer amigos”. As pazes só vieram após uma intervenção do recordista mundial Sergey Bubka.

O que Bubka disse para tentar aproximar os rivais?

"Na minha visão acredito, que é bom [ter rivalidade]. Chega na competição, um quer ganhar do outro e isso ajuda a crescer. E foi isso que o Sergey (Bubka) comentou. Que não seria bom ter intriga fora da prova, mas a gente melhorando ia trazer muita competitividade e evolução. Era bom manter a guerrinha e melhorar o resultado para, quem sabe um dia, os dois baterem o recorde mundial. Mas que fora da pista seguíssemos sendo amigos. Dentro da pista pode ocorrer guerrinha, mas disse que seria legal sermos amigos fora".

Aplaudido por europeus na primeira disputa com o francês

"Foi em Zurique. Foi a primeira vez que andei no carrinho em que apresentam vencedores e medalhistas antes da competição começar. Gostei bastante. E o Lavillenie não participou desta volta. Depois que saltou e ganhou a prova, ele deu volta olímpica. Não sei se foi padrão, mas acho que ele quis dar uma provocada".

Primeira prova de 2017 será na França

"Conversei com meu treinador após a Olimpíada. Tivemos três competições só para encerrar a temporada. Depois, tive um mês de férias e dia 10 já volto a treinar e pegar forma. Volto dia 23 de outubro para a Itália e meu treinador tem a ideia de vir ao Brasil e ficar talvez até dezembro. Em janeiro volto a competir. Tenho uma competição na França praticamente confirmada em 28 de janeiro. Já vai ser pressão, querendo ou não. Escolhemos lá por ser uma das primeiras e mais fortes. É se preparar para competir na casa do Lavillenie, ver como estaremos no começo do ano. O Vitaly [Petrov, treinador de Thiago] não vai cobrar resultado grande no indoor, mas vamos para ser cutucado por eu mesmo. Me motiva [competir na França]. Fico com a pulga atrás da orelha. Vou para casa do cara, vai saber o que ele pode preparar para mim. Se tiver vaia, vou preparado. Competi depois da Olimpíada com ele e não foi na casa dele, mas ele estava para ganhar a Liga Diamante e todo mundo estava torcendo para ele, mas me anunciaram como campeão olímpico e teve aquele peso. Na casa dele vai ser um pouco mais pesado, talvez".

Bubka, Petrov e Isinbayeva acham que ele pode bater o recorde. Por quê?

"Eu me espelho bastante no Bubka, o estilo dele me agrada muito. O estilo que o Petrov ensinou a ele eu adapto, tento praticar e copiar. Não que eu tenha o salto do Bubka, mas o estilo é parecido. Ano que vem eu não boto fé. Para 2018, eu acredito. Tenho vontade de chegar em 2018 mais preparado. Ainda temos algumas reservas na técnica que não usei. 2017 é um ano de adaptação, tentar saltar além de 6 metros de novo e 2018 se preparar para algum recorde".

Nota da Redação: O 6,03 m que deu o ouro a Thiago é a maior marca da vida do brasileiro. O recorde mundial outdoor de Bubka é 6,14 m, de 1994. Lavillenie, em competições outdoor, chegou até 6,05 m, no máximo.

Recorde é o próximo grande objetivo?

"Do Vitaly é, eu ainda tenho outros. Além do recorde mundial, quero medalha em Mundial, Pan-Americano e tentar ser campeão da Liga Diamante, que é uma competição que eu gosto, mas conseguindo recorde mundial estarei bem satisfeito [risos]".

Temeu pela carreira se não fosse bem na Rio-2016

"Eu tive medo. O Brasil agora vai tirar parte do apoio que teve para a Olimpíada e eu dependia disso para viver lá fora. E isso me deu mais pressão para a Olimpíada. Arrumei briga com todo mundo aqui para arriscar a vida lá fora. Depois da Olimpíada acalmou. Eu pensava todo dia no banho. Eu chorava com a minha esposa: ‘Se não der certo, como vamos viver?’ Confiei em Deus e deu certo, mas não foi fácil. No meu coração ficam as marcas".

Nota da Redação: Até 2014, Thiago treinava na BM&F Bovespa, em São Caetano, sob o comando de Elson Miranda, técnico e marido de Fabiana Murer. Quando decidiu mudar-se para a Itália para treinar com Vitaly Petrov, ficou sem clube e teve de pedir ajuda ao COB e à CBAt para pagar o treinador e sua estrutura de trabalho em Fórmia, na Itália.

Ainda deve ao treinador e passou perrengue na Europa

"Não foi um momento fácil. Tinha a escolha de ficar no Brasil ou ir para fora, mas aí não tinha quem ajudasse. Foi uma decisão difícil de tomar. Me tranquei no quarto, tentei conversar com Deus e ele me disse que poderia ir. Cheguei na confederação e o pessoal disse que ia me apoiar em tudo. Aí tomei a decisão de sair. Cheguei lá e tive de organizar tudo. Não tinha a liberdade que tinha no Brasil, em que não me preocupava com nada. Mas ou eu me arriscava ou ficava na mesma. Preferia acreditar que lá fora seria melhor, mas passamos dificuldades grandes lá.

Tinha 5 euros para pagar um sorvete. Pagava a conta e o que sobrava chupava um sorvete. Não estávamos aproveitando, como muitos podem pensar. Fomos lutar, melhorar resultado. Ainda devo para o meu treinador, preciso pagar uma última parcela a ele. Tinha de pagar aluguel sempre, pagar almoço, janta entre eu e minha mulher. Mas eu tinha o principal, que era a confiança do meu treinador. Depois disso, tudo clareou. Meus resultados melhoraram, mas as dificuldades continuaram. Acho que vai acalmar agora".

Agradece Fabiana e Elson pelo apoio, mas segue sem falar

"Eu não tenho nada contra ele [Elson]. Foi uma decisão que tomei. Mesmo sem apoio deles, não culpo eles de nada. Eles me ajudaram no início da minha carreira. A Fabiana me ajudou e o Elson apoiou, mas eu tive de decidir. Não teve mais [contato] depois que separei. Agradeci o que fizeram por mim. A gente não se conversa, mas não tenho rancor. Se vier conversar, eu converso. Se tiverem que vir conversar, que venham também, mas não tem contato direto".

Homenagem do antigo clube após o ouro surpreendeu

"Foi uma surpresa. As regras do clube não são deste jeito, mas acho que estão melhorando a regra, começando a olhar de outra maneira. Acho que viram depois da Olimpíada que é interessante ter atletas com sonhos diferentes, e não uma pessoa que queira ficar só no Brasil. Abri portas para isso. Eu entrando de novo ou não na BM&F podem ver deste jeito. O sonho de cada um não pode ser bloqueado por técnico ou opinião de dirigente. Cada um tem que ser livre para ver o melhor. Eu não sei se vou entrar de novo na BM&F. Tenho contrato com Orcampi e agora vou ver ser se renova ou não."