A Montevidéu de Galeano, o homem que amava a bola

Por Diego Iwata Lima e Leo Burlá

Decifrando a América do Sul

Se a taça da Libertadores da América recebesse o nome de Eduardo Galeano, em homenagem póstuma, haveria justiça. O uruguaio que morreu em 2015 soube como poucos decifrar e traduzir a difusão de sentimentos que chamamos de sul-americanismo, tão representados na paixão sudaca pelo futebol.
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La Ciudad Vieja

Tão conhecido por suas obras literárias quanto pelo amor à bola, Galeano, 'hincha' do Nacional (URU), tinha ainda mais uma paixão indisfarçável: Montevidéu, em especial perto da zona portuária, a Ciudad Vieja. O UOL Esporte foi conhecer alguns dos redutos de Galeano na capital celeste, onde ele deixou saudades. E se deparou com histórias e unânimes manifestações de apreço pelo jornalista.
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O vazio que não existe

O estádio Centenário era um lugar quase místico para Eduardo Galeano. Uma espécie de antena que condensa e se carrega com a energia da paixão de milhões de torcedores que por lá já passaram. "Já alguma vez entrou num estádio vazio? Experimente. Pare no meio-campo e ouça. Não há nada menos vazio do que um estádio vazio. Não há nada menos mudo do que as bancadas sem ninguém." Eduardo Galeano, "Futebol ao sol e à sombra"
Nicolás Celaya/Xinhua

Um contestador

Neste prédio envidraçado está a atual sede da publicação independente "Brecha", veículo com o qual Galeano colaborava regularmente.
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O canto de Galeano

O Cafe Brasilero era o canto preferido de Galeano na sua cidade. E a palavra canto é aplicada, neste caso, também fidelidade geográfica, já que a "sua mesa" ficava num dos cantos do salão. Florencia Gómez Oribe, gerente do Cafe Brasilero, contou ao UOL que Galeano foi fundamental para que o estabelecimento, o mais antigo de Montevidéu ainda em funcionamento, de 1877, seguisse funcionando.
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Um amigo do local

"Quando os donos se queixavam, ele dizia: 'deixe funcionando, as coisas vão virar'", contou Florencia. Galeano levou para o local várias de suas tardes e noites de autógrafos ao longo dos anos. E o Cafe Brasilero de fato encontrou dias mais prósperos. Galeano batiza um café especial por lá, com licor, creme e doce de leite.
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Raridades

A livraria Linardi y Risso fica bem próxima do Cafe Brasilero. Charmosa desde sua fachada com toldo alviverde, o espaço é conhecido por ter sido o lugar favorito de Galeano para comprar livros. A loja tem obras raras e primeiras edições em seu acervo.
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El Chanchito

Galeano tinha muita amizade com Adolfo Linardi, pai de Andrés Linardi, que hoje administra o local. "Ele vinha muito e eu o atendia. Ele era calado, retraído, não era uma personalidade que, por si só, atraísse muita atenção", afirmou. "Mas ele foi muito importante para nossos negócios". Galeano tinha paixão por porcos. Tanto que tinha acordo com seus editores internacionais: pelo mundo, ele não fazia questão, mas no Uruguai, ele é que lançava os seus livros, por uma editora própria, a 'El Chanchito' - 'O Porquinho'.
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O Sol Uruguaio

Por fim, Galeano gostava de encerrar suas tardes nas charmosas e ensolaradas Ramblas, à beira das praias do rio da Prata que circundam o lado sul da cidade. Seu trecho predileto ficava na Rambla Gran Bretaña.
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Publicado em 26 de novembro de 2021.
Diego Iwata Lima e Leo Burlá