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ANÁLISE

Com Lula estagnado, aliados querem que Bolsonaro troque golpe por campanha

 O presidente Jair Bolsonaro na convenção do PP que oficializou a aliança com o PL - Adriano Machado/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro na convenção do PP que oficializou a aliança com o PL Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

08/08/2022 12h00

Esta é parte da versão online da newsletter UOL nas Eleições 2022, enviada hoje (8), que traz destaques semanais e notícias dos bastidores da política. Na newsletter completa, Alberto Bombig ainda fala sobre novas adesões de entidades à Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito e sobre os bastidores da campanha para o governo de São Paulo. Quer receber antes o pacote completo, com a coluna principal e mais informações, no seu e-mail, na semana que vem? Cadastre-se aqui.

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Aliados de Jair Bolsonaro (PL) no Congresso perceberam na virada de julho para este agosto que não existe, fora do círculo mais restritos formado em torno do presidente da República, apoio concreto e significativo para uma tentativa de golpe por parte do atual mandatário.

Em sentido contrário, porém, estão crescendo, na percepção de experientes parlamentares governistas, as chances eleitorais do presidente no embate contra Lula (PT), conforme indicam as mais recentes pesquisas do banco BTG, feita pela FSB, e da Genial/Quaest, que trouxe boas notícias para Bolsonaro. A consolidação dos levantamentos dos principais institutos está no Agregador de Pesquisas do UOL.

Na combinação desses dois movimentos, expoentes do centrão avaliam que Bolsonaro deveria deixar de lado a estratégia de tensionar o sistema eleitoral e ameaçar a democracia para se dedicar com mais afinco à campanha eleitoral propriamente dita, que começa oficialmente neste mês.

Conforme a síntese deste momento feita por um experiente conhecedor do jogo eleitoral, Lula está andando de lado, enquanto Bolsonaro dá sinais de que está subindo aos poucos nas pesquisas. No entanto, observa ele, o "gabinete do ódio" não começou a trabalhar com força máxima, os benefícios do Auxílio Brasil começam a ser pagos nesta terça-feira (9), a campanha publicitária do benefício ainda não foi para o ar e a propaganda sobre as realizações do governo virá no horário eleitoral.

Para usar uma expressão futebolística, o "ponto futuro" onde a bola estará no final de setembro e no início de outubro indica que, se nada de substancial mudar na campanha do petista, Bolsonaro e Lula estarão mais próximos nas pesquisas e a chance de ocorrer um segundo turno será grande. Não é por outro motivo que já tem tanta gente na campanha do presidente defendendo um recuo dele na postura de confrontar as instituições e atacar a democracia.

Nesta semana, a leitura do manifesto pela democracia, com quase 1 milhão de assinaturas, evidenciará ainda mais o isolamento do presidente em seus ataques às instituições e nas ameaças de melar as eleições deste ano.

Em linhas gerais, diante das manifestações públicas recentes, é possível dizer que Bolsonaro não possui apoio nem dos Estados Unidos nem da elite econômica nacional para um eventual golpe. Vale lembrar que, no dia 19 de julho, a embaixada americana no Brasil divulgou nota para afirmar que as eleições brasileiras são um modelo para o mundo.

"Como já declaramos anteriormente, as eleições do Brasil são para os brasileiros decidirem. Os Estados Unidos confiam na força das instituições democráticas brasileiras. O país tem um forte histórico de eleições livres e justas, com transparência e altos níveis de participação dos eleitores", dizia a nota.

Dias depois, o manifesto da Fiesp pela democracia, publicado em jornais do país, também evidenciava as dificuldades do golpismo de Bolsonaro. "No ano do bicentenário da Independência, reiteramos nosso compromisso inarredável com a soberania do povo brasileiro expressa pelo voto e exercida em conformidade com a Constituição", afirma a entidade no documento.

Nesse sentido, o ato previsto para a próxima quinta-feira (11), a leitura da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, tem tudo para se transformar em um marco. O evento reunirá juristas, empresários, organizações da sociedade civil e artistas.

Se tudo transcorrer como previsto pelos organizadores, o roteiro cênico do ato, sua simbologia, a diversidade e o apelo mediático dos apoiadores gerarão consequências eleitorais, ainda que não seja essa a meta, adversas para Bolsonaro, e ampliar o isolamento do presidente.

Restará, então, para Bolsonaro, em sua toada golpista, contar com apoio dos militares. Mas há muitas dúvidas se eles, fora do círculo bolsonarista, apoiariam uma tentativa de virar a mesa.

Assim, é muito provável, segundo um parlamentar do centrão, que o presidente acabe se convencendo de que ainda tem chances eleitorais, como mostrou a edição anterior deste newsletter, e que a vitória de Lula no primeiro turno está ficando a cada dia mais distante.

Por isso, a ideia do centrão é evitar que o ato do feriado de 7 de Setembro, Dia da Independência, se transforme em uma celebração golpista e aumente ainda mais a rejeição ao presidente em setores da classe média e do empresariado. Não será, fácil, porém, "desarmar os espíritos" do núcleo mais duro do bolsonarismo, na expressão de um parlamentar: Bolsonaro acredita ter um compromisso com seus apoiadores mais fiéis de levar até o final da campanha sua pregação contra as urnas eletrônicas.

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