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No DF, Lula liga Bolsonaro a morte no PR e pede: 'Não caiam em provocação'

Camila Turtelli e Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

12/07/2022 20h48

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu o tom hoje (12) contra Jair Bolsonaro (PL), e ligou a postura do presidente ao clima de violência política da pré-campanha e ao assassinato do petista Marcelo Arruda por um bolsonarista em Foz do Iguaçu (PR) no fim de semana. Aos militantes em Brasília, ele pediu que "não caíssem em provocação".

No ato, a campanha do ex-presidente prestou homenagem a Arruda e firmou posição de seguir saindo às ruas, porém de forma pacífica. A segurança do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, na região central da capital federal, foi reforçada para tranquilizar militantes.

A morte do militante petista no último sábado (9) tomou a campanha lulista nesta semana. O caso foi considerado como uma espécie de "última fronteira" depois de recorrentes ataques à caravana do pré-candidato do PT à Presidência, como a bomba lançada no evento do Rio de Janeiro, na semana passada. A campanha afirma que é necessário agir o quanto antes para evitar novos casos.

Arruda foi assassinado a tiros na noite de sábado enquanto comemorava seu aniversário de 50 anos com temática do PT, usando bandeiras, cores do partido e fotos de Lula. Os disparos foram feitos pelo agente penitenciário Jorge José da Rocha Guaranho, que está internado —autoridades divergem sobre seu estado de saúde. Segundo o boletim de ocorrência, ao invadir a festa, ele gritou "aqui é Bolsonaro".

Lula tratou do caso logo no início do seu discurso. Em sua sexta disputa à presidência, ele disse que nunca havia debatido violência política como se debate hoje, relembrou os casos de ataques contra sua caravana e criticou Bolsonaro.

"A sociedade brasileira começa a perceber o que está em jogo. Vi, na rede social, que o presidente está preocupado, estava tentando entrar em contato com a família da pessoa que morreu. Se o Bolsonaro quiser visitar as pessoas pelos quais ele é responsável pela morte, ele vai ter que ter muita viagem, porque não chorou uma lágrima pelas 700 e poucas mil vítimas do covid", criticou o ex-presidente.

"Estão tentando fazer das campanhas eleitorais uma guerra. Estão tentando colocar medo na sociedade brasileira. Estão querendo dizer que tem uma polarização criminosa — e é interessante porque o PT polariza nas eleições para presidente desde 1994 e não tem sinal de violência", completou.

Os partidos que apoiam a pré-candidatura de Lula já começaram a procurar outras legendas para debater um plano de pacificação da campanha eleitoral. O objetivo é unir pré-candidatos e instituições em torno de uma iniciativa contra a violência política, que vá além da frente ampla. O problema é que nem os petistas nem os aliados do presidente acreditam que este adotará um tom mais ameno a ponto de desestimular a radicalização.

"É uma pessoa com comportamento desumano, do mal, que não pensa o bem sobre ninguém a não ser sobre si próprio, não tem compaixão pelas pessoas que estão dormindo na rua, que estão nas filas dos açougues pegando osso para comer, pelos milhões de desempregados", completou Lula, em um dos discursos mais duros contra Bolsonaro.

Desde o ocorrido, o PT tem debatido em responder o discurso bélico reforçando a ida às ruas, porém sem aumentar o clima de tensão. Lula reforçou isso em seu discurso.

"Eu não quero ninguém brigando, ninguém aceitando provocação. É isso que nós temos que fazer nesses três meses. Nesses três meses, nós vamos ter que multiplicar na rua, mas temos que dar uma lição do moral. Nossa arma é o amor que temos em nós. Se alguém provocar vocês, mande morder o próprio rabo", bradou Lula.

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), abriu o ato falando do caso e pedindo um minuto de silêncio em homenagem a Arruda e a outras pessoas que foram mortas por violência política, como a ex-vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em março de 2018, e o músico Moa do Katendê, assassinado no dia do 1º turno das eleições de 2018.

Na primeira reunião da coordenação de campanha após o assassinato, ontem, ela já havia instruído militantes a seguir indo às ruas. "Nossa maior segurança é o povo na rua, é a mobilização", disse.

O esvaziamento dos atos após os casos de violência era uma preocupação na cúpula do PT. Para o evento desta terça-feira, foram divulgadas orientações com dicas de seguranças para os participantes, avisando o uso de detector de metais na porta, proibindo a entrada de bandeiras com mastros e cabos, entre outras.

Militante pede paz em evento da pré-campanha do ex-presidente Lula (PT), em Brasília - WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO - WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
Militante pede paz em evento da pré-campanha do ex-presidente Lula (PT), em Brasília
Imagem: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Os últimos eventos de violência trouxeram apreensão à claque lulista, mas não chegaram a afastar o público do ato programado para hoje. Militantes que foram ao centro de convenções para o ato relataram preocupação com a segurança, mas disseram ter confiado no reforço das precauções tomadas pela equipe do presidenciável para comparecerem.

"O que eles [bolsonaristas] querem é isso [meter medo]. Eu até tive um pouco de receio, mas pensei: não posso fazer isso, porque, se a gente não resistir, nada muda", disse a aposentada Marília Ramos ainda na fila de entrada para o centro de convenções.

Já no interior, o padre franciscano em formação Hugo Junqueira disse que inicialmente também teve receio, mas resolveu ir. "Fiquei, sim, um pouco com medo, mas depois tive com o deputado Leandro, que foi meu professor, e pediu para eu vir tranquilo, não era para eu preocupar não", afirmou Junqueira ao UOL.

Agenda em Brasília

Antes do ato público, Lula e o pré-candidato à vice-presidência Geraldo Alckmin (PSB) foram à sede da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) receber documento com sugestões de políticas públicas de empresários do setor, onde a segurança também foi reforçada.

Mais cedo, Lula ainda esteve com políticos do Amazonas, no hotel em que está hospedado. O senador Omar Aziz (PSD-AM) disse que levou a preocupação com a segurança sobre os últimos acontecimentos.

"Passou da ameaça para a coisa concreta", disse o senador ao UOL. "Isso é um retrocesso muito grande". Ele afirmou que Lula classificou como "absurdo" citando os eventos de Uberlândia e Foz do Iguaçu.