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Notícia-crime da Defesa é 'ação política' a mando de Bolsonaro, sugere Ciro

Ciro Gomes, ex-ministro e presidenciável do PDT - Divulgação
Ciro Gomes, ex-ministro e presidenciável do PDT Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

24/06/2022 09h57Atualizada em 24/06/2022 14h26

O pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) rebateu hoje o Ministério da Defesa e as Forças Armadas, que apresentaram à PGR (Procuradoria-Geral da República) uma notícia-crime contra ele. Ciro sugeriu que se trata de uma "ação política" a mando do presidente Jair Bolsonaro (PL).

No texto, o pedetista não cita o nome de Bolsonaro, mas afirma que a "ação política" partiu do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio de Oliveira, que "possivelmente" obedece a ordens de "seu comandante supremo", ou seja, o presidente da República.

Na última terça-feira (21), em uma entrevista à rádio CBN, ao comentar as mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, Ciro disse que as Forças Armadas são coniventes com os crimes ocorridos na região da Amazônia. Segundo o político, o narcotráfico é claramente protegido por autoridades brasileiras. Como resposta, as duas instituições entraram com a medida pedindo a instauração de investigação para apurar a fala do pedetista.

Nesta sexta-feira (24), Ciro divulgou nota nas redes sociais em que afirma ter exercido o seu direito de liberdade de expressão, "sem excesso ou qualquer discurso de ódio", segundo ele. Ao dizer que há uma "holding do crime" que age impunemente e sob a conivência de autoridades na região amazônica, o pedetista nega também que estivesse se referindo às instituições, mas sim "a possíveis erros de alguns membros".

"Em nenhum momento, disse que as Forças Armadas, enquanto instituições de estado, estariam envolvidas com essa holding criminosa. Afirmei - e reafirmo - que frente à desenvoltura com que um tipo de estado paralelo age na área, é impossível não imaginar que alguns membros das forças de segurança possam estar sendo coniventes por dolo ou omissão", iniciou o pré-candidato.

Sem citar nomes, Ciro Gomes também sugeriu que a instauração da investigação tenha sido a mando do presidente Bolsonaro para interferência no processo eleitoral. Ciro e Bolsonaro são rivais nas eleições que serão realizadas em outubro.

"Assim como não confundo a ação das Forças Armadas com possíveis erros de alguns membros, não confundo, também, a essência da instituição com a linha imposta por comandos temporários que tentam submetê-la a caprichos políticos e interesses eleitorais", prossegue.

"Não me surpreende que a iniciativa desta ação política contra mim - e contra a minha pré-candidatura - parta de um Ministro da Defesa que, possivelmente obedecendo ordens de seu comandante supremo, vem se notabilizando por tentativas de interferência no processo político", acrescenta.

Nota de Ciro Gomes na íntegra

Fui surpreendido por uma nota agressiva e intempestiva do comando das Forças Armadas, que, além de descontextualizar o que afirmei em entrevista à [rádio] CBN, ameaça-me com notícia crime, equivocadamente baseada nos artigos 286 do Código Penal e 219 do Código Penal Militar.

A nota, que mais uma vez explicita o grau de politização do atual comando das Forças Armadas, tenta distorcer a crítica que fiz ao notório descontrole que impera, em áreas da Amazônia, onde uma "holding do crime' age impunemente.

As mortes trágicas de Bruno Pereira e Dom Phillips são os últimos episódios desta realidade pavorosa.

Em nenhum momento, disse que as Forças Armadas, enquanto instituições de estado, estariam envolvidas com essa holding criminosa.

Afirmei - e reafirmo - que frente à desenvoltura com que um tipo de estado paralelo age na área, é impossível não imaginar que alguns membros das forças de segurança possam estar sendo coniventes por dolo ou omissão.

Ao responder pergunta específica do jornalista, exerci meu direito de liberdade de expressão, sem excesso ou qualquer discurso de ódio. Muito menos com desrespeito a uma instituição que prezo e defendo.

Inclusive, afirmei, na mesma entrevista, que os militares são elementos essenciais a um Projeto Nacional de Desenvolvimento, além de ressaltar a importância do fortalecimento das Forças Armadas em um possível governo que eu venha a presidir.

Assim como não confundo a ação das Forças Armadas com possíveis erros de alguns membros, não confundo, também, a essência da instituição com a linha imposta por comandos temporários que tentam submetê-la a caprichos políticos e interesses eleitorais.

Não me surpreende que a iniciativa desta ação política contra mim - e contra a minha pré-candidatura - parta de um Ministro da Defesa que, possivelmente obedecendo ordens de seu comandante supremo, vem se notabilizando por tentativas de interferência no processo político.

Como fez, há pouco tempo, quando comunicou de forma unilateral e autoritária ao Tribunal Superior Eleitoral que vai indicar nomes de militares para fiscalizar as urnas eletrônicas.

Pergunto: qual competência constitucional ou legal dá autoridade a ele para indicar nomes para fiscalizar urnas eletrônicas? Indicação de militares para esta finalidade é típico desvio de função e finalidade.
Ciro Gomes

É caso, a meu ver, de improbidade administrativa por violação aos princípios da administração pública. Isto, sim, é claramente passível de punição legal.