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Moraes: Brasil errou ao subestimar ataques da extrema direita na internet

O ministro do STF Alexandre de Moraes vai presidir o TSE durante as eleições deste ano - Felipe Sampaio/STF
O ministro do STF Alexandre de Moraes vai presidir o TSE durante as eleições deste ano Imagem: Felipe Sampaio/STF

Do UOL, em São Paulo

03/06/2022 10h32

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes afirmou hoje que o Brasil subestimou os ataques de grupos de extrema direita à democracia através das redes sociais. O comentário foi feito pelo ministro em sua participação no evento de encerramento do Congresso Brasileiro de Direito Eleitoral (CBDE), em Curitiba.

"Não é um jogo político democrático. As milícias digitais embaralham as notícias falsas em meio às verdadeiras, tirando a credibilidade da mídia. Não se pode subestimar o movimento da extrema direita para atacar a democracia na internet. Esse foi um erro do Brasil", disse Moraes, que também é vice-presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Na avaliação do ministro, esse movimento surgiu principalmente por casos de corrupção que surgiram na política nos últimos anos, com esses grupos utilizando esse argumento para fragilizar as instituições brasileiras.

Determinados setores passaram a pensar: "como vamos aproveitar esse momento de fraqueza do Legislativo, da política, para atentar contra a democracia?". E passaram a se utilizar de um instrumento que havia nascido, sido utilizado e ganhado muita força para a divulgação de ideias democráticas, que foram as redes sociais. [Eles] passaram a cooptar essas redes sociais. Alexandre de Moraes, ministro do STF

Ainda de acordo com o ministro, foi com essa estratégia que esses grupos, que ele classifica como "milícias digitais", passaram a divulgar seus discursos.

"De uma forma competente e extremamente organizada, determinados grupos passaram a capturar setores das redes sociais para divulgar discurso de ódio, racistas, contra a democracia, as instituições, baseados em casos de corrupção principalmente. De forma estruturada e profissional", disse o integrante da Suprema Corte ao defender que o Judiciário deve combater essas práticas.

"Não podemos fazer a política judiciária do avestruz, enfiar a cabeça em um buraco e fingir que nada acontece", completou.

'De tédio, ninguém vai morrer'

Diante desse contexto, Moraes previu que as eleições de outubro deste ano serão turbulentas. "De uma coisa, temos certeza: este ano e os últimos acontecimentos mostram que, de tédio, ninguém vai morrer este ano, de monotonia, ninguém vai morrer. Cada dia uma aventura para que a gente possa lidar", afirmou.

Ontem, o ministro Nunes Marques derrubou duas decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que determinaram a cassação dos mandatos de dois parlamentares bolsonaristas: o deputado Valdevan Noventa (PL-SE) e Fernando Francischini (União Brasil-PR).

Hoje na vice-presidência do TSE, Moraes vai presidir Corte Eleitoral durante as eleições deste ano. Ele assumirá o cargo em agosto.

'Constituição por si só não garante que não ocorrera turbulência'

Durante a palestra, o ministro também ressaltou que o Brasil vive o maior período de estabilidade democrática da República, mas isso não garante tranquilidade.

"A Constituição por si só não garante que não ocorrera turbulência, ela garante que, através dos instrumentos, a estabilidade sera mantida. Ninguém pode prever se haverá ou não turbulência", afirmou. "Se nós formos olhar, só o Brasil, nesses últimos anos, teve dois impeachments. Turbulência total."