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PF vai monitorar ameaças e estima R$ 57 mi para proteger presidenciáveis

O ex-presidente Lula, o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro Ciro Gomes, candidatos à Presidência - Reprodução e Pedro Ladeira/Folhapress
O ex-presidente Lula, o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro Ciro Gomes, candidatos à Presidência Imagem: Reprodução e Pedro Ladeira/Folhapress

Paulo Roberto Netto

do UOL, em Brasília

31/05/2022 14h37Atualizada em 31/05/2022 18h25

A Polícia Federal estima gastos de R$ 57 milhões para garantir a segurança dos candidatos à Presidência nas eleições deste ano. A operação inédita contará, de acordo com a corporação, com equipes dedicadas e especializadas na proteção a autoridades e fará o acompanhamento de eventuais ameaças aos presidenciáveis.

Os valores se referem a despesas operacionais de ao menos R$ 25 milhões, como pagamentos de diárias e hospedagens de agentes que acompanharão as campanhas, e outros R$ 32 milhões para compras de equipamentos, como 71 veículos SUVs blindados, coletes à prova de balas, uniformes, equipamentos de radiocomunicação e kits de pronto-socorro.

A proposta da PF foi apresentada aos partidos políticos nesta terça-feira (31) na sede da corporação, em Brasília, e ocorre em um momento de preocupação de campanhas com a eventual polarização durante o pleito.

Em 2018, episódios de violência contra candidatos marcaram as eleições, o mais emblemático sendo a facada contra o então candidato Jair Bolsonaro (PL), em um evento em setembro em Juiz de Fora (MG).

Sete partidos estiveram presentes na reunião realizada hoje, segundo o UOL apurou: PT, PDT, MDB, PCdoB, Avante, PROS e União Brasil. O PL, de Bolsonaro, não participou. Como presidente, Bolsonaro já conta com a segurança do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).

O advogado Cristiano Zanin, que defende o ex-presidente Lula (PT), esteve no local e disse, na saída, que o encontro foi positivo.

A PF estima um mínimo de 300 a 400 agentes deslocados para a operação de segurança dos presidenciáveis — número que pode ser maior a depender do risco apresentado a cada candidato e à atuação de núcleos da Polícia Federal nos Estados.

É notório que é uma eleição que vem se mostrando bastante polarizada, despertando sentimentos fortes de paixão. Isso é fato. Mas isso não implica, necessariamente, em dizer que é uma eleição com maior risco. A gente está se preparando, se dedicando para fazer um bom trabalho em um ambiente que haja tanta paixão"
Delegado Sandro Avelar, diretor-executivo da Polícia Federal

Segundo a PF, cada candidato terá um próprio plano de segurança, que será elaborado após o registro da candidatura, em agosto. Hoje, há 12 pré-candidatos à Presidência.

A proposta levará em consideração fatores como a exposição do presidenciável, a possibilidade da candidatura atrair mais riscos ao candidato, as ameaças recebidas ao longo da campanha e os riscos da agenda específica do presidenciável em uma escala de 1 (menor risco) a 5 (maior risco).

A partir dessas informações, será feito o planejamento da segurança e o efetivo de agentes que será deslocado. Se uma ameaça concreta for detectada, a equipe poderá ser reforçada.

"Ameaça concreta é o que deixou de ser expectativa e se tratou de algo palpável, seja por telefone, pelas redes sociais, ou alguma informação de inteligência que chegue de fonte segura. Em vários momentos, uma ameaça pode se tornar concreta e, para isso, será feita uma análise", disse Avelar.

O acompanhamento das ameaças e revisão da análise de risco do candidato será feita pelo chefe da segurança de cada candidato, mas as campanhas também poderão informar eventuais casos que considerem relevantes, assim como as secretarias estaduais de segurança pública.

Partidos podem escolher agentes

De acordo com a PF, os partidos políticos poderão escolher os agentes que irão compor a equipe de segurança dos candidatos a partir de um rol de agentes selecionados pela corporação. A ideia é dar mais segurança às legendas e garantir maior confiança na relação com os policiais.

O que posso dizer é que a PF qualificou e diversificou o seu efetivo para ter uma atuação melhor do que teve em 2018 e tenho certeza que a de 2026 será melhor que esta de 2022"
Thiago Marcantonio Ferreira, coordenador de proteção à pessoa da PF

Nos casos de deslocamento do candidato, os agentes poderão contar com o reforço de equipes da PF já treinadas para o acompanhamento de autoridades nos Estados, além das polícias estaduais, se for o caso. Há também a possibilidade da PF propor ao candidato que contrate seguranças particulares, situações específicas.

Em paralelo, a PF criou um núcleo de inteligência voltado para a segurança de presidenciáveis. O grupo ficará responsável por processar e trocar informações sobre riscos aos candidatos.

"É um trabalho de inteligência sendo feito para subsidiar e assessorar a atuação em campo das equipes", afirmou Ferreira. "Uma dinâmica de eleições exige isso".

Uma exigência da PF é que os candidatos apresentem uma agenda prévia dos compromissos do candidato com ao menos 48 horas de antecedência. A falta dessas informações tem sido uma reclamação constante em ocasiões anteriores, uma vez que é a partir delas que a PF passa a realizar a logística para a proteção dos candidatos.

Violência política marcou campanha em 2018

A preocupação com a segurança dos candidatos neste ano é reflexo de diversos episódios que marcaram a última corrida eleitoral.

Em Minas, Bolsonaro foi esfaqueado por Adélio Bispo e correu risco de morte. Inquérito da PF concluiu que Adélio agiu sozinho em um crime sem mandantes e foi considerado inimputável, ou seja, incapaz de responder pelos próprios atos, por sofrer de distúrbios mentais. A pena foi revertida em internação por tempo indeterminado para tratamento psiquiátrico.

Ainda em 2018, dois ônibus de uma caravana do ex-presidente Lula foram atingidos por entre Quedas do Iguaçu (PR) e Laranjeiras do Sul (PR). No ano passado, um inquérito do episódio conduzido pelo MP-PR (Ministério Público do Paraná) foi inconclusivo.

Fora da campanha, o ano também foi marcado pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes. O crime até hoje não foi completamente solucionado.

Uma pesquisa recente, da UFRJ (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), mostrou que os casos de violência contra políticos aumentaram 48,7% no primeiro trimestre de 2022 em comparação ao último trimestre de 2021. Foram registrados 113 casos de violência.

Entre todas as formas de violência, os homicídios foram contabilizados 21 vezes, sendo 6 deles apenas na Bahia, estado com maior número de assassinatos.

O PT foi o partido mais atingido por episódios violentos, com dez casos. Outros 22 partidos também foram vítimas. O levantamento da Universidade é feito desde janeiro de 2019. Desde então, foram registrados 1.108 casos de violência política.