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PSDB deve se reunir na semana que vem com Doria para discutir candidatura

Doria vem tendo atritos com o presidente do PSDB, Bruno Araújo, desde o início do ano - Reprodução
Doria vem tendo atritos com o presidente do PSDB, Bruno Araújo, desde o início do ano Imagem: Reprodução

Rafael Neves

Do UOL, em Brasília

18/05/2022 12h10

Deve ficar para a semana que vem a reunião em que a cúpula do PSDB tentará convencer o ex-governador de São Paulo João Doria, vencedor das prévias de candidatura presidencial do partido, a desistir da corrida pelo cargo. As lideranças da sigla, que se reuniram ontem à tarde, queriam que Doria fosse hoje mesmo a Brasília para discutir o assunto, mas o tucano deverá permanecer em São Paulo essa semana.

No encontro do partido ontem, sem a presença de Doria, a impressão majoritária foi a de que o ex-governador tem poucas chances eleitorais, mas não há consenso sobre a alternativa. Hoje o PSDB se reúne com MDB e Cidadania, na capital federal, para ver o resultado de uma pesquisa voltada a orientar a escolha por um candidato único da terceira via, mas isso não será um ponto final nas negociações.

Segundo o presidente do PSDB, Bruno Araújo, a reunião com as legendas de centro, marcada para hoje à tarde, não terá o peso de definir a decisão dos partidos. O grupo oposto à campanha de Doria espera um resultado favorável à senadora Simone Tebet (MS), o nome escolhido pelo MDB. Mas, segundo Araújo, os dados do levantamento não serão sequer abertos ao público inicialmente.

"O resultado da pesquisa de amanhã [hoje] vai ser colhido como uma opinião pessoal desse conjunto de representantes. E vai ser levado, no momento apropriado, para o partido", disse Araújo ontem. Segundo o tucano, Doria ainda é tratado como pré-candidato do PSDB, mas deverá ser confrontado com as "dificuldades" de levar a campanha adiante.

"A pré-candidatura dele está mantida, é legítima, é o processo das prévias. Agora, é justo que todos os lados coloquem as dificuldades que têm. O governador Doria tem maturidade de entender o quadro e, mais ainda, ajudar a tomar uma decisão", afirmou Araújo. "Vamos ver juntos, recolher nossas impressões e conversar internamente o passo seguinte", completou.

As prévias se deram em um momento político, e hoje temos hoje o desenho de um novo momento político. É uma avaliação desses dois momentos que tem que ser feita"
Bruno Araújo, presidente do PSDB, sobre as prévias no partido vencidas por Doria, em novembro do ano passado

Impasse

Doria se tornou um nome na corrida presidencial após ter vencido, no final de novembro do ano passado, as prévias do PSDB para a escolha da candidatura. Em uma eleição tumultuada, marcada por hostilidades e problemas no aplicativo de votação, Doria teve o apoio de 53,99% dos filiados e derrotou o então governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

Até o momento, porém, o ex-governador de São Paulo não conseguiu decolar nas intenções de voto para presidente. Conforme mostra o agregador de pesquisas do UOL, o postulante do PSDB tem oscilado entre 2% e 5% nas pesquisas e não consegue ir além do quarto lugar nas sondagens.

A falta de perspectiva no crescimento de Doria levou o PSDB, já dividido, a procurar alternativas. Desde o início do ano, os tucanos vêm buscando legendas de centro, como o MDB e o União Brasil, para tratar de uma possível aliança para as eleições. Com uma destas siglas, o Cidadania, o PSDB deverá formar uma federação partidária, o que unirá as legendas não apenas na campanha, mas também durante os quatro anos seguintes.

Com o MDB não houve convergência suficiente para uma federação, mas as legendas vêm estreitando laços. Os emedebistas propõem a candidatura presidencial da senadora Simone Tebet (MS), que ganhou notoriedade no ano passado ao inquirir depoentes na CPI da Covid. O desempenho dela nas pesquisas, porém, é ainda inferior ao do tucano.

Hostilidades

As conversas do PSDB com o MDB já estavam avançadas no final de março, quando uma manobra de Doria aumentou as tensões. De última hora, o tucano ameaçou desistir da pré-candidatura e se manter no governo de São Paulo se não recebesse "apoio explícito" da cúpula tucana em torno de seu nome para a presidência.

A jogada irritou parte dos aliados de Doria, que já contavam com a renúncia dele ao cargo para que o vice, Rodrigo Garcia, assumisse o Palácio dos Bandeirantes. O partido tem como prioridade a recondução de Garcia ao governo paulista, que os tucanos comandam desde 1995.

No fim das contas, Doria deixou o governo como combinado, mas as tensões não se dissiparam. Logo nos primeiros dias de abril, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, passou a afirmar a aliados e a outros interlocutores, como empresários, que as alianças partidárias em busca do nome da terceira via valem mais do que as prévias tucanas que apontaram Doria como candidato.

Araújo saiu da coordenação da campanha de Doria e as hostilidades cresceram. Até que na semana passada, em reunião com o MDB e o Cidadania, os partidos anunciaram que definirão seu candidato a partir de pesquisas quantitativas e qualitativas, cujo resultado deve ser revelado amanhã.

Acuado, Doria enviou uma carta aberta a Araújo, chamando de "tentativa de golpe" a intenção tucana de buscar outra candidatura. No texto, o ex-governador de São Paulo lembrou que Araújo reforçou, em carta assinada em março, que as prévias seriam respeitadas pelo PSDB.

"Continuo à disposição do partido para a formação de projetos com outras agremiações, mas não abrimos mão da posição de protagonista do projeto nacional do nosso partido, nos termos da decisão soberana da maioria de seus filiados", escreveu Doria.