Topo

Mulheres que se colocam sofrem as consequências, diz pré-candidata do PSTU

Vera Lúcia, pré-candidata do PSTU à presidência - Romerito Pontes/Divulgação
Vera Lúcia, pré-candidata do PSTU à presidência Imagem: Romerito Pontes/Divulgação

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

10/05/2022 04h00

Dos doze atuais pré-candidatos à presidência da República para as eleições deste ano, só três são mulheres e apenas dois são negros. Vera Lúcia, 54, pré-candidata pelo PSTU, é a única mulher negra.

Pernambucana de Inajá, Vera cresceu em Sergipe, onde se formou em Ciências Sociais pela universidade federal e desenvolveu carreira política. Foi filiada ao PT entre 1992 e 1993, quando foi expulsa e se tornou grande crítica do partido. Em 1994, ajudou a fundar o PSTU, sigla pela qual disputou a presidência em 2018. A chapa puro-sangue acabou em décimo lugar, com 0,05% dos votos.

Apesar de nunca ter ocupado um cargo público, Vera tem um quadro amplo de disputas. Já concorreu quatro vezes à prefeitura de Aracaju (2004, 2008, 2012 e 2016); duas à Câmara por Sergipe (2006 e 2014); uma ao governo sergipano, em 2010; e uma à prefeitura de São Paulo em 2020 —além da presidência.

Crítica tanto do presidente Jair Bolsonaro (PL) quanto do ex-presidente Lula (PT), primeiro colocado nas pesquisas, Vera diz que é preciso "reverter a lógica" do capitalismo, expropriar a riqueza dos bilionários e revogar as reformas trabalhista e previdenciária.

"Não há igualdade sob capitalismo"

Única mulher negra a concorrer na disputa à presidência neste ano, Vera diz que houve "avanços pontuais" tanto na questão de gênero quanto de raça, mas pondera que, sob o sistema capitalista, não há como "acabar com a opressão".

"Houve alguns avanços pontuais, fruto das lutas das mulheres, como um maior debate e conscientização sobre a questão da desigualdade de gênero e racial, e sobre as pautas femininas, como a legalização do aborto, mas é um processo contraditório", diz a pré-candidata.

Para ela, a pandemia escancarou esta contradição, com "uma explosão da violência doméstica e dos feminicídios" e o maior impacto do desemprego entre as mulheres, além da "sobrecarga doméstica" com jornada dupla.

"A participação feminina no mercado de trabalho retrocedeu 30 anos: 96% dos empregos formais perdidos em 2020 eram femininos. Metade das brasileiras passou a cuidar de alguém na pandemia. As trabalhadoras que ficaram em home-office sofreram não só com a dupla mas com jornadas simultâneas de trabalho", afirma Vera.

Há uma contraofensiva ideológica por parte de Bolsonaro e dos setores reacionários contra os direitos e as conquistas femininas e dos setores oprimidos. As ideologias de opressão aumentaram. As mulheres que se colocam nos espaços de representação também sofrem as consequências dessa contraofensiva, não é à toa que a discussão sobre violência política de gênero está tão em voga.
Vera Lúcia, pré-candidata do PSTU

Ela também vê retrocesso provocado pelo racismo no Brasil, com desigualdade salarial e falta de oportunidade de empregos. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em dezembro de 2021, negros e pardos ganhavam 58% da renda de brancos no Brasil.

"O genocídio da juventude negra nos bairros pobres pela violência policial continua com chacinas, como as do Jacarezinho no Rio de Janeiro. A impunidade também continua, como se verifica na não elucidação do assassinato de Marielle Franco, depois de quatro anos", lembra Vera.

A pré-candidata cita o ativista negro norte-americano Malcom X e insiste que, por mais que haja melhorias, enquanto o sistema for o mesmo, não haverá mudanças estruturais.

"O capitalismo é um sistema de exploração e opressão, enquanto esse sistema existir essas conquistas serão sempre incompletas e estarão sempre ameaçadas", conclui a pré-candidata.

Expropriação das fortunas bilionárias

O que seria essa mudança de estrutura, então? Para Vera, transferir a renda e as "riquezas do país" para os trabalhadores e a maioria da população brasileira.

O principal problema do Brasil hoje, diz ela, é "a dominação das grandes empresas, dos bancos, grandes indústrias, empresas agropecuárias e comerciais".

Para inverter essa situação, ela prega que é preciso não só revogar todas as reformas promovidas nos governos Michel Temer (2016-2018) e Bolsonaro, como trabalhista e previdenciária, como expropriar as fortunas dos bilionários brasileiros.

"O Brasil pode proporcionar empregos e salários decentes para o povo. Mas, sem romper com a grande burguesia, que enriquece mesmo num contexto de pandemia, às custas dos trabalhadores, não tem como", afirma Vera. Para mudar isso, ela destaca:

  • revogar todas as reformas e privatizações das estatais;
  • expropriar 315 bilionários e as cem maiores empresas;
  • não pagar a dívida pública aos banqueiros;
  • emprego para todos os trabalhadores, com um plano de obras públicas para construir 6 milhões de casas e saneamento básico;
  • fim da precarização do trabalho, com a garantia da carteira assinada, férias, décimo terceiro e aposentadoria para todos;
  • redução da jornada de trabalho diária para seis horas para todos, sem redução dos salários;
  • dobrar o salário mínimo já, rumo ao salário do Dieese em três anos.

Nem Lula nem Bolsonaro

É neste contexto que Vera diz que derrotar Bolsonaro "é fundamental, mas não basta". Em recado direto a Lula, a ex-petista afirma que seus oito anos no Planalto "não foram de esquerda" e critica, em especial, a grande aliança do PT para esta eleição, dizendo que "não se pode governar para todos".

"Lula gerou uma enorme expectativa em 2002, mas o PT governou com e para os banqueiros, as grandes empresas nacionais e multinacionais", diz ela, que avalia que a chapa com o PSB e o ex-governador Geraldo Alckmin, tucano histórico, é repetir esta fórmula.

Existe um ódio crescente contra Bolsonaro. Trata-se de um ódio justo contra esse governo de ultradireita, talvez o pior de toda uma história repleta de péssimos presidentes. Mas Lula não vai responder as necessidades dos trabalhadores junto com Alckmin, que simboliza sua parceria mais uma vez com as grandes empresas.
Vera Lúcia, pré-candidata do PSTU

"É preciso fazer tudo diferente. Nós defendemos a independência política dos trabalhadores frente à burguesia. Defendemos um governo dos trabalhadores, apoiado em sua mobilização e organização", afirma Vera.

A pré-candidata também não comenta quem apoiaria em um segundo turno entre Lula e Bolsonaro, os dois mais bem cotados nas pesquisas. "Nós estamos disputando a eleição nesse momento. Quando houver segundo turno e se houver segundo turno, discutiremos esse tema", conclui.