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OPINIÃO

A realização da eleição para presidente está ameaçada? Colunistas opinam

O presidente Jair Bolsonaro (PL) - Alan Santos/PR
O presidente Jair Bolsonaro (PL) Imagem: Alan Santos/PR

Do UOL

07/05/2022 04h00

Empenhado em lançar suspeitas sem comprovação sobre a lisura do sistema eleitoral brasileiro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez nesta semana novas ofensivas contra o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), com envolvimento de integrantes das Forças Armas.

Colunistas do UOL analisam se a ampliação de questionamentos de Bolsonaro quanto ao processo eleitoral e insinuações golpistas põem em risco a realização das eleições para presidente da República em outubro.

O ministro da Defesa, general da ativa Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, pediu na quinta-feira (5) ao TSE que divulgue questionamentos e sugestões das Forças Armadas sobre as eleições. No mesmo dia, Bolsonaro disse que o PL, seu partido, vai contratar uma empresa para auditar o processo eleitoral.

Segundo Bolsonaro, "o TSE pode ficar em situação complicada" se a empresa constatar que é "impossível auditar o processo". Na ocasião, o presidente disse: "Ninguém quer dar golpe".

Veja a seguir a opinião dos colunistas do UOL:

Com ou sem uma eleição em outubro, a democracia brasileira já está sendo alvo de profundas punhaladas. O golpe já é uma realidade. No século 21, não precisamos aguardar por tanques nas ruas para que a democracia morra. O golpe acontece sempre que se questiona as regras do jogo, quando se mina a confiança da população no sistema eleitoral, quando se ataca a legitimidade da oposição ou a liberdade de imprensa. E tudo isso já é a realidade no Brasil. Para a comunidade internacional, o que está em jogo no país em 2022 não é um projeto político de um líder e nem um partido político. Em questão está a sobrevivência da democracia e nossa inserção no mundo."
Jamil Chade

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Há pouco, relendo Levitsky e Ziblatt, em 'Como as democracias morrem', marquei uma frase que se
enquadra em nosso embate eleitoral: 'Nenhum líder sozinho consegue destruir a democracia, nenhum líder sozinho pode salvar a democracia. A democracia é um empreendimento compartilhado'. Sendo compartilhada, exigirá esforço de muitos para preservá-la. Vejo, a despeito das divergências diárias, que as instituições responsáveis estão se preparando para colaborar no esforço da estabilização do ambiente. Não custa, todavia, acionar diariamente a sirene de alerta para a sociedade manter-se atenta."

Otávio Rêgo Barros

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Há algo de muito errado na vida de um país quando a toda hora os representantes das instituições da República são obrigados a vir a público para repetir obviedades. A platitude que precisa ser recitada como mantra é a seguinte: nas democracias, o processo eleitoral é de responsabilidade dos civis. Esse bê-á-bá institucional está sendo ignorado pelas Forças Armadas que, a título de garantirem a normalidade das eleições, fazem movimentos fora do normal. Apuração paralela das eleições, contestação de urnas eletrônicas, assédio a autoridades do TSE, nada disso deveria estar na pauta dos militares. Apesar disso, cada vez mais aumenta a simbiose entre fardados da ativa e o discurso golpista de Bolsonaro. O risco está à vista de todos, desde os arapongas da CIA à torcida do Flamengo."
Chico Alves

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As eleições irão ocorrer. Bolsonaro acha que poderá vencer. E se tentar 'melar', sabe das consequências internacionais. Está claro. O golpe preparado por Bolsonaro e os seus aliados militares será pós-eleição perdida. Não precisa ter esfera de cristal para perceber que a fraude eleitoral será a palavra de chave. Isso para disparar orquestrada reação social e consequente intervenção militar, sob justificativa de se manter a lei e a ordem. Pano rápido: em 1932, a Justiça Eleitoral chegou para combater abuso de poder governamental, oligarquias regionais, clientelismo rural, plutocracia. A urna eletrônica, por evitar fraudes, foi o grande avanço. Como a ditadura de Getúlio Vargas, que extinguiu a Justiça Eleitoral, Bolsonaro quer acabar com ela para se manter no poder."
Wálter Maierovitch

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O golpe teocrático-miliciano já se encontra em marcha batida, em plena luz do dia, e só não se sabe ainda se será consumado antes ou depois da abertura das urnas, a depender do cenário desenhado pelas pesquisas eleitorais. Uma coisa é certa: Bolsonaro e os militares já deixaram claro que não admitem deixar o poder por nada nesse mundo. O voto popular para eles é apenas um detalhe."
Ricardo Kotscho

Brasil discute medidas de prevenção de incêndio com país pegando fogo


As eleições não estão ameaçadas porque Bolsonaro não tem as condições objetivas para dar um golpe de estado. Elas seriam apoio interno da elite econômica e política, unanimidade nas Forças Armadas, cenário internacional favorável, apoio de fatia significativa da imprensa e um governo minimamente funcional. Nenhuma dessas condições está presente na conjuntura brasileira. A elite política e econômica lida com um governo que fabrica crises em série, gerando instabilidades institucional e econômica péssimas para o ambiente de negócios."
Kennedy Alencar

Bolsonaro quer dar golpe, mas não há condição objetiva para sucesso

O futuro é que está ameaçado. Por mais que Bolsonaro e os bolsonaristas possam querer, a eleição não está ameaçada. Todas as instituições que dão sustentação à democracia têm se mostrado contrárias a uma virada de mesa. O problema é o day after, se Bolsonaro for reeleito. Primeiro porque ele não tem compromisso com nenhum projeto a não ser o seu projeto pessoal e dos filhos. Segundo porque estará mais forte do que nunca e legitimado para cometer qualquer insanidade. O Congresso costuma dar respaldo a tudo que seja proposto por presidentes recém-eleitos. E os titubeantes militares --que hoje não têm a menor disposição de afrontá-lo-- terão menos disposição ainda logo após Bolsonaro ser sufragado pelas urnas."
Tales Faria

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A realização da eleição não está ameaçada. O que está sob risco é a aceitação do resultado da eleição, quer dizer, a diplomação do vencedor, se ele não for Bolsonaro. Ele está fazendo todos os movimentos preparatórios neste sentido e, como é um fato que nunca aconteceu desde a volta do regime democrático, as pessoas não estão acreditando. A mobilização do Exército como uma Justiça Eleitoral 2, como uma espécie de Corregedoria da Justiça Eleitoral, órgão paralelo, uma justiça recursal, é algo inédito e absurdo. Bolsonaro quer encontrar motivo para contestar eleição, se perder."
José Luiz Portella

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A má notícia é que a democracia brasileira morreu. A péssima notícia é que ela não foi para o céu. A questão não é saber se o Apocalipse de Bolsonaro ameaça as eleições. O capitão e seus generais sabem que os brasileiros irão às urnas. Não ignoram que os votos serão contados. O problema agora é definir como será a vida dos brasileiros depois do fim do mundo. Reeleito, Bolsonaro levará ao baralho a carta da autocracia. Derrotado, questionará o resultado das urnas. O inferno de Bolsonaro pode durar o tempo de um novo mandato ou o prazo da transição de governo. Nas duas hipóteses, o pior tipo de ilusão é achar que o diabo um dia passa. Átila, o rei dos hunos, também passava. Mas todos sabem o que acontecia com a grama."
Josias de Souza

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A ameaça mais preocupante, ao menos até este momento, talvez seja em relação à aceitação do resultado, principalmente se ele vier a ser desfavorável para Bolsonaro. Recentemente, ouvi de um importante e influente consultor político que o presidente já criou um clima para contestar até sua própria vitória, se ela vier a ocorrer por margem apertada, e, com isso, iniciar no próprio dia da sua eventual vitória um clima de tensão e rebeldia contra as instituições do país, abrindo caminho para uma virada de mesa."
Alberto Bombig

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Caso perca a eleição, Bolsonaro pode incitar seus seguidores contra o STF, o TSE e a imprensa. Acusará o pleito de fraude e os convocará para protestos "pela legalidade e pela pátria, em nome de Deus e da família". Bolsonaristas-raiz beneficiados por suas campanhas de armamento e um naco radical de policiais e militares atenderão ao chamado. A mera tentativa de golpe causaria uma onda de violência que deixaria uma ferida aberta por muito tempo em nossa democracia."
Leonardo Sakamoto

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