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Marina aponta machismo em fala de Lula: 'Tenho propostas políticas'

Do UOL e com colaboração para o UOL, em São Paulo

02/05/2022 07h52Atualizada em 02/05/2022 15h41

A pré-candidata a deputada federal por São Paulo Marina Silva (Rede) apontou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) agiu com machismo ao dizer que ela "às vezes" acaba demonstrando "momentos de raiva".

"Se fosse com um homem, esse diálogo teria sido nesses termos?", sugeriu Marina ao UOL News - Manhã, programa do Canal UOL. "Essas falas não contribuem para que a gente faça essa desconstrução da desqualificação da mulher", prosseguiu.

Eu tenho propostas políticas, e acredito que Lula tem divergências com elas. Se não tivesse, eu nem teria saído do governo (Marina foi ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008) e do partido (PT). Ele sabe disso. Marina Silva (Rede-SP), pré-candidata a deputada federal

A fala de Lula foi proferida na última quinta-feira (28), em evento para anunciar o apoio da Rede a uma pré-candidatura presidencial do PT — provavelmente com o ex-presidente — nas eleições de 2022. Marina, uma das principais figuras da fundação da legenda, não esteve presente.

"Eu esperava que a Marina estivesse aqui, porque a minha relação com a Marina é muito antiga, é muito grande. Eu, às vezes, não sei por que ela demonstra momentos de raiva, momentos de não", afirmou o ex-presidente na ocasião.

Falando ao UOL, Marina se disse "surpresa com a surpresa" de Lula e afirmou que ele não entrou em contato com ela para tratar sobre 2022. "Não é uma questão de raiva, de acordo com os humores: são divergências políticas, e é assim que elas devem ser tratadas", declarou.

Segundo Marina, há uma parte da Rede — no caso, a maioria — que defende apoiar Lula, enquanto uma outra prefere se integrar à pré-campanha de Ciro Gomes (PDT). "E uma parte ainda está fazendo esse debate, inclusive eu", acrescentou.

A relação entre Marina e o PT vem desgastada desde 2014, quando a campanha presidencial dela foi atacada pela da então presidente e também postulante Dilma Rousseff (PT), que a lincou com bandeiras da direita. Hoje, o marqueteiro da petista naquele ano está com Ciro.

Ainda assim, Marina se colocou à disposição para dialogar com o Lula, desde que ocorram compromissos por parte do PT com uma agenda ligada ao desenvolvimento econômico sustentável e com a proteção aos povos indígenas, e não com apenas tirar Jair Bolsonaro (PL) do poder.

"Não é uma questão só de mudar quem está no governo, mas a realidade do Brasil em termos econômicos, sociais, ambientais e políticos", afirmou. "Nossa indústria está indo para o pó. Como podemos fazer essa recuperação?", indagou.

Ainda assim, no âmbito estadual, Marina sugeriu que a tendência é que a Rede apoie a pré-candidatura de Fernando Haddad (PT) ao Palácio dos Bandeirantes, dizendo que está nos planos dela "fazer uma primeira conversa" com o ex-prefeito paulistano.

"Qualquer questão passará por compromissos programáticos e pelo partido em São Paulo", pontuou, afirmando que já tomou as "providências legais" para sair candidata a deputada federal por São Paulo, e não pelo Acre, onde nasceu e foi eleita senadora nos anos 1990.

"É o momento de se voltar para o Congresso, para ajudar na agenda ambiental e de educação", declarou. "Depois que você é a candidata a presidente da República por três vezes, você tem que participar do debate nacional. E a melhor forma disso é por mandato", finalizou.