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Após tentar 'driblar' chapa de Doria, Leite nega afronta às prévias do PSDB

Eduardo Leite - GABRIEL HAESBAERT/ESTADÃO CONTEÚDO
Eduardo Leite Imagem: GABRIEL HAESBAERT/ESTADÃO CONTEÚDO

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

27/04/2022 04h00

O ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) nega a existência de um racha no PSDB e diz que não desrespeitou as prévias partidárias tucanas durante suas movimentações para se viabilizar como candidato à Presidência.

"Não houve mudança de postura. Eu só deixei claro o que eu já tenho falado. Tem um candidato com a legitimidade das prévias, nunca houve contestação à legitimidade das prévias", disse o ex-governador em entrevista exclusiva ao UOL, em São Paulo, na noite de ontem (25). O encontro aconteceu por acaso em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, quando Leite passeava com os cachorros pelo bairro. Após passar o Carnaval no Rio de Janeiro, o tucano veio à cidade, onde seu namorado, o médico Thalis Bolzan, faz mestrado. Em seguida, viaja para Brasília e, depois, volta a Porto Alegre.

Tensão no partido

Vencedor das prévias do PSDB para ser candidato ao Palácio do Planalto, o ex-governador de São Paulo João Doria conviveu com a sombra de Leite e suas movimentações visando "driblar" o nome do correligionário e se colocar como candidato da terceira via — uma aliança política de PSDB, MDB e União Brasil que pretende indicar um só candidato em oposição a Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) nas eleições de outubro.

Leite, no entanto, recuou da campanha paralela e divulgou uma carta defendendo o nome de Doria. Ao UOL, Leite sugeriu que irá focar no processo de sucessão ao governo do Rio Grande do Sul.

"A carta explicita tudo: a candidatura do PSDB é João Doria. Eu vou dar contribuição onde entenderem que eu deva dar essa contribuição no partido. Eu estarei a disposição para auxiliar no que for necessário e, do outro lado, tem o Rio Grande do Sul para cuidar no processo de sucessão", afirmou.

Apesar de Doria ter sido o vencedor das prévias do partido, o próprio presidente nacional tucano, Bruno Araújo, afirmou que o candidato final do arranjo partidário seria decidido em consenso. Foi essa instabilidade que motivou Doria a "trucar" a direção nacional, ameaçando não renunciar ao governo de São Paulo.

O grupo adversário do ex-governador paulista, reunido em torno de Leite, entendeu o gesto como uma "faca no pescoço" da direção nacional, que se viu obrigada a divulgar uma carta dizendo que Doria será seu nome na disputa pelo Palácio do Planalto. O grupo contrário a Doria tem líderes tucanos como o deputado federal Aécio Neves (MG) e o ex-senador José Aníbal (SP). Leite chegou a se encontrar com Aécio.

Após semanas de movimentações, Leite e Doria se reuniram e, depois, o ex-governador do Rio Grande do Sul divulgou a carta apoiando o nome de Doria como candidato do partido.

'Não tem racha', diz Leite

O gaúcho foi acusado por aliados de Doria de desrespeitar o processo democrático do partido, mas rebateu. "Nunca houve desrespeito nenhum à democracia partidária. No momento que o próprio Doria falava que abriria mão para um outro nome que pudesse agregar mais, não seria respeito às prévias", disse ao UOL.

Questionado sobre as razões de sua mudança de postura, Leite negou ter alterado sua opinião. "Não houve mudança de postura. Eu só deixei claro o que eu já tenho falado. Tem um candidato com a legitimidade das prévias, nunca houve contestação. Ele [Doria] deseja ser candidato, tem esse direito conferido pelas prévias e é isso que eu deixei claro, então, tem o caminho todo aberto para fazer as composições, buscar as alianças", afirmou o ex-governador.

Há 10 dias, a saída do presidente do PSDB da campanha de João Doria explicitou o racha no partido. Mas Eduardo Leite defende que o partido tem um objetivo comum.

"Não tem racha, estamos com o mesmo propósito. Eu vou dar a minha colaboração para que o partido esteja unido, se a gente quer superar as diferenças entre os partidos e quer superar a divisão do país, temos que começar pelo próprio partido. O próprio PSDB tem que ter a capacidade de superar as suas diferenças internas. São próprias da democracia", concluiu.