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Eduardo Jorge critica federação do PV com PT: 'é uma subordinação'

28.set.2014 - O ex-candidato à Presidência Eduardo Jorge (PV) durante debate promovido pela TV Record - Eduardo Knapp/Folhapress
28.set.2014 - O ex-candidato à Presidência Eduardo Jorge (PV) durante debate promovido pela TV Record Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

23/04/2022 04h00

Nas eleições de 2022, o médico e ex-deputado federal Eduardo Jorge (PV) diz que será um defensor da terceira via mesmo após o partido ao qual é filiado ter fechado uma federação partidária por quatro anos com o PCdoB e o PT, sigla que tem como pré-candidato o ex-presidente Lula (PT).

Jorge, que foi candidato à Presidência em 2014, é contra a federação e a forma como foi conduzida dentro do Partido Verde. "É preciso que haja democracia nas decisões partidárias. Nesse caso, não houve", disse em entrevista ao UOL.

Servidor concursado da secretaria estadual de Saúde de São Paulo, Eduardo Jorge contou que ficou sabendo da federação "junto com o papai noel", no Natal, em uma reportagem de televisão. "Nós ficamos sabendo que duas ou três pessoas da direção nacional do PV em Brasília haviam acertado uma federação com o PT", disse.

Como não houve democracia partidária, na sua opinião, o ex-parlamentar se declara em "desobediência civil". "Não vou apoiar essa decisão", afirma. Para ele, a federação será uma "subordinação" do Partido Verde ao Partido dos Trabalhadores.

Em nota, o PV rebateu Eduardo Jorge: "Eduardo Jorge apresentou seus argumentos e teve direito a manifestação como todos os membros presentes, confirmando o caráter democrático e plural do encontro em que a esmagadora maioria, inclusive os membros da Executiva de São Paulo, anuiu com a criação da agremiação partidária". (leia a nota na íntegra abaixo)

Ele também acredita ser possível haver um candidato de alternativa a Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) nas eleições. "Estamos na pré-temporada, o campeonato não começou. Começa no final de junho", disse.

Mas, questionado pelo que define ser uma "pergunta cruel" sobre um segundo turno entre os líderes atuais das pesquisas (Lula e Bolsonaro), Jorge antecipa: "Entre o mal maior e o mal menor, sou obrigado a escolher o mal menor e votar contra Bolsonaro".

Leia os principais trechos da entrevista abaixo:

Como o senhor avalia a federação do seu partido, PV, com o PT?

Os partidos verdes na Alemanha, Suécia, Áustria, não estão submetidos à régua de direita e esquerda. Eles vêm para criticar tanto o capitalismo quanto o socialismo que, nos séculos 19 e 20, não tiveram prudência com os recursos naturais do planeta. Dialogam com partidos socialistas, liberais, conservadores.

O problema não é estar na federação com partidos da esquerda ou conservador ou liberal. O problema com a federação específica é a forma como isso foi encaminhado. É preciso que haja democracia nas decisões partidárias. Nesse caso, não houve. No final do ano passado, no Natal, nós ficamos sabendo que duas ou três pessoas da direção nacional do PV em Brasília haviam acertado uma federação com o PT, de quatro anos seguidos de coordenação interpartidária.

Há políticos que defendem a federação como um "bom negócio" para o PV e citam como argumento o fato de o partido ter filiado novos deputados federais.

Política não é negócio. O PV durante quatro anos, em uma verdadeira guerra civil no país, defendeu a necessidade de uma alternativa a essa polarização tóxica da politica brasileira, e evitar a política do segundo turno em 2018. Essa foi a posição nossa durante os quatro anos do governo desastroso de Bolsonaro. E é a posição de 80% do partido, uma posição consolidada. [A notícia da federação] foi uma bomba de neutrons que recebemos de presente de Natal pela televisão.

O diretório estadual de São Paulo se reuniu no começo de janeiro. Duas pessoas dos 50 presentes defenderam a federação. A imensa maioria contra. Dois dias antes de dar a resposta final ao PT, convocam reunião virtual para votar a federação. Sem terem espaço de explicar a posição e logo já começou a votação. Não houve democracia.

Por que você é contra?

É uma federação com um partido, maior da esquerda brasileira, com base social muito forte, com hegemonismo, e vamos entrar em total minoria. Não é uma aliança, é uma subordinação. O PV está descaracterizado por uma subordinação da federação. É antidemocrática e é uma união de subordinação. Eu me declaro em desobediência civil. Não vou apoiar essa decisão.

Mas irá apoiar e lutar por um candidato que não faz parte da federação do seu partido?

Farei como nós do PV estamos defendendo desde 2018. Continuar defendendo o que o PV defendeu durante quatro anos.

O senhor não tem receio de ser expulso do PV?

A disciplina partidária quando tem democracia partidária tem que ser seguida. Quando a democracia partidária indica uma decisão que é contra sua consciência, você deve ficar com sua consciência, e o partido que puna. Esses gestos de rebeldia têm que ter uma boa justificativa de consciência. No caso do PV, além da minha consciência, tenho o fato de que não houve democracia partidária. Se quiser discutir isso, só me chamarem e discuto a hora que quiser.

A terceira via tem sido marcada por impasses, sem crescimento nas pesquisas de forma significativa. Acredita que haverá espaço para um candidato em oposição a Lula e Bolsonaro?

Podem falar que o cenário está consolidado, mas nós estamos na pré-temporada, o campeonato não começou. Começa no final de junho, aí começa o jogo. Há tempo, sim, para que a terceira via consiga chegar num tipo de acordo para um programa de governo com investimentos na área social, fome, meio ambiente, austeridade fiscal com olhar social. Um programa desse tipo é possível de ser articulado.

Quem é o melhor candidato para a terceira via?

Eu defendi o Tasso Jereissati [senador do PSDB]. É um dos quatro líderes originários do PSDB que ainda está na ativa. Dialoga com conservadores, com liberais, com socialistas. Ele até se entusiasmou, se inscreveu nas prévias, mas entendeu que não teria saúde para enfrentar uma campanha tão desgastante. Mas, dos que estão disponíveis no jogo, a mais preparada é a Simone Tebet, do MDB. Da mesma forma que Tasso é PSDB raiz, sinto na Simone o MDB raiz, da formação da Constituição.

O senhor vê espaço para João Doria (PSDB)?

Doria já tem uma rejeição muito grande e sai em desvantagem por ser o candidato de São Paulo. José Serra e Geraldo Alckmin já provaram essa resistência em eleições nacionais. E ele tem resistência em SP. Ele tem um teto e não vai conseguir romper a barreira da polaridade. É preciso um gesto de grandeza. Como ficou ressentido com a atitude do Eduardo Leite, que perdeu e continua disputando, o Doria dificilmente aceitaria sair se Eduardo ficasse na disputa. Doria deve tomar essa atitude e Eduardo entender o sentimento de perdedor. Mas defendo, de vice da Simone, Tasso Jereissati.

A saída de Moro e as brigas pela terceira via ajudam a candidatura de Jair Bolsonaro, na sua opinião?

O Sergio Moro não tinha condição de ser candidato. Com aquelas investigações dele, levantou questões importantes. Não era só fumaça, tinha fogo mesmo. Um juiz tem de ser prudente. Quando se é voluntarioso ou despreparado atropela os ritos e anula os processos. Isso mostra que não tem preparo e maturidade para disputa de um posto como presidente de um país com 200 milhões de habitantes. A desistência de ser candidato foi necessária, não tinha condição. Sobre os votos que ele recebeu, podem tanto ir para o Bolsonaro, como Lula, como para nossa candidata. Vão se distribuir. É cedo para falar.

Em um segundo turno entre Lula e Bolsonaro, quem terá seu voto?

É uma pergunta cruel. Eu quero ir até os 45 minutos do segundo tempo disputando com a candidatura alternativa para encerrar a guerra civil. Se for a vitória de um deles, a polarização vai continuar até 2026 com guerra civil não declarada. É uma pergunta incômoda porque parece que a gente já desistiu e está falando em segundo turno. A disputa, ao contrário do que Bolsonaro e Lula falam, entre "bem e o mal", na verdade, é a disputa entre mal maior e o mal menor. Entre o mal maior e o mal menor, sou obrigado a escolher o mal menor e votar contra Bolsonaro.

Partido Verde defende construção da federação

"O Partido Verde informa que o processo de construção e consolidação da Federação Esperança Brasil contou com a participação dos diretórios estaduais, dos dirigentes nacionais e, por fim, pela aclamação e voto dos membros do diretório nacional do PV.

Na última reunião deliberativa, que aconteceu na quarta-feira (13), 93 membros votaram favoravelmente pela criação da FE Brasil. Dentre os votos totais, foram registrados dois contrários e duas abstenções. Na ocasião, Eduardo Jorge apresentou seus argumentos e teve direito a manifestação como todos os membros presentes, confirmando o caráter democrático e plural do encontro em que a esmagadora maioria, inclusive os membros da Executiva de São Paulo, anuiu com a criação da agremiação partidária.

Ressaltamos que o dirigente Eduardo Jorge se recusou a assinar a lista de presença da reunião, mesmo presente."