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É mais fácil eleitor de Alckmin votar em mim que em Haddad, diz França

8.dez.2020 - O ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB) - Bruno Santos/Folhapress
8.dez.2020 - O ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB) Imagem: Bruno Santos/Folhapress

Leonardo Martins e Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

16/02/2022 04h00Atualizada em 16/02/2022 06h25

Em meio às negociações da federação partidária —um acordo por, pelo menos, quatro anos— envolvendo PT, PSB, PC do B e PV, não há definição que agrade a todos os envolvidos sobre quem será o candidato do grupo ao governo de São Paulo. Fernando Haddad, do PT, e Márcio França, do PSB, disputam a vaga.

Em entrevista ao UOL, França afirmou que a decisão vai ser embasada nas pesquisas: quem estiver mais bem posicionado será o escolhido —como Haddad havia falado ontem ao UOL News. Mas defendeu seu lado: ele acredita que tem mais chances que Haddad de atrair o eleitor do ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido, ex-PSDB).

Pesquisa Datafolha divulgada em dezembro mostra que Alckmin liderava a disputa estadual, com 28% das intenções de voto, seguido por Haddad (19%) e, depois, França (13%), ex-governador paulista. No cenário sem o ex-tucano, França também fica atrás do petista: Haddad tem 28% e o pessebista, 19%.

A aposta de França é que seu nome carrega menos rejeição que o de Haddad no estado, principalmente em cidades do interior.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Na disputa para Presidência, a chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silvala (PT) e de Alckmin teria sido uma costura política sua e de Haddad. Como surgiu essa ideia?

Ela vem dos dois últimos anos. Eu convivo com Alckmin e tinha notado nele um discurso nacional. Ele havia se preparado para a disputa presidencial e havia uma certa mágoa em relação à terceira via, com [os apresentadores] Luciano Huck, Datena, mas ninguém falava de Alckmin. Então, guardei essa sensação.

Os tucanos, claro, têm uma biografia com o PT como adversário, mas eu percebia que [Alckmin] não tinha opiniões dos tucanos tradicionais. No episódio da Dilma [Rousseff, ex-presidente], ele não foi favorável [ao impeachment]. No PSDB, Geraldo era tratado como um cara periférico, mas foi criando seu próprio corpo. Foi isso que troquei com Haddad, que no começo ficou meio cético. Quando estive com Lula, comentei da possibilidade. E aí entra o mérito de Lula, ele é muito rápido. Em três minutos, pediu o telefone do Geraldo, que não fazia ideia dessa conversa.

E, hoje, o que impede a formação dessa chapa?

A parceria está fechada. Não tem retorno, a meu ver. Do ponto de vista da decisão, está encerrado, na minha visão. Alckmin jamais iria naquele jantar se não tivesse aceito [em dezembro do ano passado]. Ele é muito recatado.

Nesse caso, para qual partido Alckmin deve ir?

[Há] 99% de chance de ele vir para o PSB. Ele não faz movimentos erráticos. Os outros partidos são simpáticos, mas menores. Alckmin entra num partido para sair depois de 40 anos. Só entrou um boi na linha, que é a federação.

Quais empecilhos impedem a formação da federação com PT, PC do B e PV?

A federação é uma novidade absoluta. No dia do jantar com Lula e Alckmin, a sensação era que a eleição tinha acabado ali. Dois meses passaram e entrou no assunto de federação, que virou uma areia movediça. Não é um assunto que se pode discutir com pressa e, também, como discutir cadeiras e vagas de cada partido se eu não sei quem ficará no partido neste ano? A federação é um assunto para depois de abril. Lá, vamos acertar os detalhes.

A discussão da federação também passa por resolver seu impasse com Haddad, sobre quem disputará o governo paulista. Ou o senhor acredita que a eleição poderá ter as duas candidaturas?

Simples: se não estivermos juntos, podemos fazer duas candidaturas. Mas, na prática, eu tenho de me ligar com alguém. O que não pode acontecer é duas chapas diferentes e eu me coligar, por exemplo, com o PDT, do Ciro [Gomes, candidato à Presidência]. Na disputa nacional, acabaria dando problema em quem eu viria a apoiar.

São Paulo é um estado muito grande para você errar. Se você perder em São Paulo por 10% de diferença, foram 2 milhões de votos. Na minha visão, segundo as pesquisas no ''voto com certeza'' e "posso votar", eu fico à frente [de Haddad]. Portanto, penso eu, significa uma menor rejeição [segundo o Datafolha, 34% dos paulistas não votariam no petista e 16%, em França]. Mas nós temos uma proposta, já combinada com os partidos, que é colocar meu nome com os candidatos e o nome dele [Haddad] com os candidatos. O que estiver em primeiro colocado será o candidato da chapa. Pode ser triste para quem perder, mas é objetivo.

Para o senhor, quem é mais a "cara" de Alckmin: o senhor ou Haddad?

Para o eleitor do Alckmin, creio ser mais fácil o sujeito que está bravo com a vida, com a política... Digamos que é mais fácil ele migrar para mim ou Rodrigo [Garcia, vice-governador de São Paulo e candidato ao governo pelo PSDB] ou Tarcísio [Freitas, ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro e possível candidato do presidente ao pleito paulista].

A federação é fundamental para o PSB? Há outra saída?

Eu não acredito [que seja fundamental]. Nós temos dois estados que sempre são a essência: São Paulo e Pernambuco. Aqui em São Paulo, tenho uma chapa inteira pronta. Para fazer uma federação, tenho que avisar, por exemplo, para 50 pessoas que eles não serão candidatos pelo partido. Os nomes são decididos pela federação.

É preciso separar as angústias. Até abril, podemos ver quem fica no partido, quem não fica e, assim, ir delineando os estados que estão faltando serem discutidos e os nomes para cada estado. Às vezes, surge um nome novo no meio do caminho, não sabemos. A pesquisa é o critério objetivo.