Dilma deve conversar com empresários em seu 2º mandato, diz Belluzzo

Do UOL, em São Paulo

Em seu segundo mandato, a presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) deveria manter um diálogo maior com o setor empresarial, o que faltou nos seus primeiros quatro anos de governo. A opinião é do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que foi entrevistado pelos blogueiros do UOL Josias de Souza e Mário Magalhães nesta segunda-feira (27).

Questionado sobre o que faria se fosse ministro da Fazenda, Belluzzo disse que sua "primeira medida seria fazer uma ampla conversa com os setores empresariais interessados nos projetos de concessão".

Para o economista, Dilma teve dificuldades no relacionamento com o setor privado. "Houve um afastamento não recomendável entre o Estado e o setor privado, que tem interesse no desenvolvimento de certos projetos. Faltou ao governo capacidade para negociar com o setor privado", disse.

Belluzzo fez críticas também à burocracia, que ele classificou como "teia de proibição", que impede o desenvolvimento econômico. "Confundimos controle com inibição. Controle tem de ser feito porque sabemos que os riscos da corrupção estão aí, são permanentes. As instâncias reguladoras têm de ser sérias. Cabe ao Judiciário decidir, avaliar, julgar e punir. O que não pode é criar dificuldade para vender facilidade", disse.

Ele citou o exemplo da China que "eliminou mais de 500 restrições" para permitir o desenvolvimento do setor privado. "E é considerado um país comunista", lembrou.

Durante seu governo, Dilma foi criticada por empresários, por exemplo, em relação ao limite de ganhos das empresas nos leilões de infraestrutura dos últimos anos, principalmente de estradas.

Os projetos são considerados essenciais para o desenvolvimento econômico e envolvem grandes investimentos. O governo queria transferir algumas destas obras para o setor privado por meio de licitações. Os empresários, no entanto, ficaram insatisfeitos porque o governo impôs um limite considerado muito baixo para a taxa de retorno das empresas, e os leilões acabaram tendo baixa procura.

O economista afirmou ainda que pouco importa o nome que vai substituir o atual ministro da Fazenda, Guido Mantega. "É o de menos quem vai ficar [no lugar dele]. Eu não daria importância a quem vai ocupar o cargo porque depende muito da presidente e do corpo de ministros mais próximos. Nós precisamos questionar os métodos e não as pessoas", falou.

Banco Central e câmbio

O economista criticou também o uso que considera "excessivo" do câmbio para o controle da inflação. Atualmente, o Banco Central tem um programa de intervenção do mercado de câmbio, que consiste em vender contratos de dólar no mercado futuro –o chamado swap cambial tradicional. O objetivo é tentar conter oscilações intensas do dólar, oferecendo cotações mais baixas que a esperada pelo mercado no futuro por meio de contratos.

O programa foi lançado em agosto de 2013 e renovado por duas vezes, com redução de contratos de swap ofertados. O dólar mais barato ajudaria a controlar a inflação, já que os produtos importados ficariam mais baratos.

Os críticos dessas intervenções alegam que o dólar estaria sendo controlado de uma maneira artificial, e que a cotação da moeda deveria ser definida pelo livre mercado.

No segundo turno, o candidato derrotado, Aécio Neves (PSDB), anunciou, por meio de Armínio Fraga --ex-presidente do BC no governo de Fernando Henrique Cardoso, que seria seu ministro da Fazenda em uma suposta vitória--, que iria acabar com o programa de intervenções do BC.

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