Rio é o Estado com maior número de policiais candidatos; 80 são PMs

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

Na eleição desse ano, o Rio de Janeiro é o Estado que possui o maior número de policiais que concorrem a cargos políticos. São 99 registros de candidatura, dos quais 80 são de policiais militares e 19 de civis. Já o Distrito Federal tem 71 candidaturas, a maioria de PMs (59). São Paulo é o terceiro Estado na contagem, com 60 policiais candidatos no total, sendo 40 militares e 20 civis.

O Rio também é o Estado que tem mais candidaturas de bombeiros militares --são 42 registros, 15 a mais do que o DF. No total, considerando policiais (civis e militares) e bombeiros militares, o Estado do Rio tem larga vantagem. São 141 candidaturas, quase um terço a mais do que o Distrito Federal, de acordo com os dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Em todo o país, há 552 candidaturas de policiais militares, 154 de policiais civis e 123 de bombeiros.

Entre os policiais que são candidatos a deputado estadual no Rio estão o coronel Erir Ribeiro Costa Filho, que ocupou o cargo de comandante-geral da Polícia Militar durante a gestão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), e a delegada Martha Rocha, que era chefe de Polícia Civil até janeiro desse ano. Eles são candidatos pelo PSL e pelo PSD, respectivamente, e afirmaram ao UOL que não temem, caso sejam eleitos, o rótulo de uma eventual "bancada da bala" na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

"Não vai ser uma bancada da bala, e sim uma bancada da segurança pública. Assim como há outras profissões que têm representantes no Legislativo. Nós precisamos de união em prol de uma segurança pública forte e pensando na melhoria da sociedade", afirmou o coronel Erir.

"É precipitado sair rotulando as pessoas. Isso é um grande equívoco. Isso mostra o preconceito com o qual a sociedade trata os policiais. Queria até aproveitar e perguntar quem, em dia de Natal, entra em uma delegacia para cumprimentar um policial? Eu acho que isso é rótulo com os policiais. Nem eu nem ninguém, pelo simples fato de ser policial, deva ser rotulado como integrante de uma bancada da bala", comentou Martha.

Histórico de insegurança pública

Há décadas, a segurança pública é um dos temas que mais mobiliza a sociedade fluminense. Os índices de criminalidade, o poder do tráfico de drogas nas favelas e os casos de corrupção policial, em especial na PM, são elementos historicamente presentes no cotidiano do Estado. Tanto que, desde 2010, a política das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) tornou-se um dos pontos centrais no debate eleitoral do Rio.

Com a popularidade do projeto de ocupação policial das comunidades, Cabral reelegeu-se em 2010, no primeiro turno, com 66% dos votos válidos. O seu sucessor, Luiz Fernando Pezão (PMDB), que concorre à reeleição, também tem nas UPPs o seu carro-chefe de campanha. Os adversários, Anthony Garotinho (PR), Marcelo Crivella (PRB) e Lindberg Farias (PT), já declararam que não pretendem "acabar" com o programa, mas defendem mudanças.

Nos meses de março e abril desse ano, houve uma série de atentados contra sedes de UPPs na zona norte da capital fluminense. Os ataques mais significativos ocorreram na Vila Cruzeiro, comunidade vizinha ao Complexo do Alemão, que terminou com a morte do sub-comandante da unidade, e em Manguinhos, onde a base da unidade foi incendiada e policiais foram baleados. As ações dos criminosos levaram o governo do Estado a solicitar ajuda de tropas federais para ocupar as favelas do Complexo da Maré. A região continua até hoje sob responsabilidade do Exército.

No ano passado, o Executivo fluminense foi duramente criticado por conta dos excessos cometidos por PMs tanto nas comunidades quanto durante a onda de manifestações que começou em junho. Após ter anistiado policiais militares investigados por supostos abusos no decorrer dos protestos, coronel Erir acabou sendo exonerado pelo secretário de Estado de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. A crise, agravada pelo desaparecimento (e morte) do pedreiro Amarildo de Souza, morador da favela da Rocinha, fez com que a popularidade Cabral despencasse.

Coronel Erir planejava lançar candidatos

Erir evitou fazer comparações entre a sua gestão e a do atual comandante, coronel José Luís Castro Menezes, mas afirmou que, "por ter exercido todas as funções na PM", conhece "o que pode ser mudado" na corporação. Ele disse ainda não ver a corporação como um "objeto político", mas revelou que planejava preparar policiais militares indicados internamente para que concorressem a cargos políticos na eleição deste ano.

"Se eu estivesse no comando, eu estaria organizando a PM para que nós tivéssemos um candidato realmente voltado para a instituição. Estaria preparando a instituição para que ela tivesse candidatos escolhidos internamente para que nos representassem [na Alerj]. Eu saí antes disso. Meu sonho é ver a instituição representada. Temos que ter a sabedoria de escolher realmente um candidato. Para ser cobrado depois e trabalhar em prol da nossa instituição. Nós somos muito criticados e ninguém defende. Não temos uma defesa", declarou.

"Sempre tive vida política", diz Martha

Já Martha Rocha, primeira mulher a chefiar a Polícia Civil do Rio, cargo que ocupou durante três anos, afirmou ao UOL que sempre teve "vida política" e que esteve licenciada do PSB enquanto comandou a instituição. Ao deixar o cargo, em janeiro desse ano, já decidida a lançar sua candidatura a deputada estadual, a delegada se filiou ao PSD, partido que integra a base do governador e ex-vice de Cabral, Luiz Fernando Pezão.

A candidata afirmou ainda não entender a segurança pública do Rio como um "jogo político", apesar do tema estar diretamente vinculado a plataformas de governo. "Temos que aprender que a segurança pública é uma política de Estado. Assim sendo, ela deve ter planejamento, protocolos estabelecidos, projetos, e não ficar ao bel prazer de quatro em quatro anos. (...) Eu vejo isso com muita naturalidade. Você vai discutir segurança pública em qualquer campanha eleitoral", finalizou.

Veja os Estados com o maior número de candidatos que integram as forças de segurança no país:

Arte/UOL

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