Aos 400 anos, São Luís é uma cidade histórica que preserva peculiaridades marcantes, desde a arquitetura dos prédios históricos passando por seu gosto culinário e o ritmo musical. Politicamente, além da já conhecida fama de terra dos Sarney, outro fato marca a cidade: a capital maranhense registra rotineiramente índices de abstenções maiores que a média nacional.
Os números do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não deixam dúvida sobre a falta de interesse de parte significativa do eleitorado. Em 2008, na última eleição municipal, dos 636 mil eleitores, 115 mil deixaram de votar (18%). Em 2010, o número ainda foi maior: 163 mil não foram às urnas, o que representou 24,5% do eleitorado, maior índice entre as capitais brasileiras.
A abstenção em São Luís é algo que se repete ao longo dos anos e já virou motivo de preocupação. Segundo o TRE-MA (Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão), campanhas de conscientização, com panfletos e jingles, foram lançados orientando sobre a importância do voto e conclamando pela presença dos eleitores no dia 7 de outubro.
O UOL visitou São Luís dentro do projeto UOL pelo Brasil --série de reportagens multimídia que percorre municípios em todos os Estados da federação durante a campanha eleitoral.
No reggae, rebeldia e descrédito nos políticos
Para entender a alma ludovicense e tentar achar explicações para o desinteresse da população com a votação, o UOL foi a festas de reggae, que são a essência cultural da cidade.
Muitos são os argumentos usados pelos regueiros --que lotam os bares e clubes-- para o descrédito nos políticos maranhenses. “Hoje em dia, a política está sem confiança porque os políticos prometem e não cumprem. E hoje em dia ninguém é mais burro, e a confiança foi embora”, afirma o DJ Call Lewis.
Com a cultura musical forte, o reggae se tornou uma das vozes principais da população pobre. “O reggae canta reivindicações da periferia, falando da necessidade do povo. Porque periferia não é só pobreza. Os políticos precisam ter mais consciência. Na hora da eleição, eles se veem ao lado para conquistar o voto. Depois esquecem”, diz Márcia Magalhães, dona-de-casa e frequentadora assídua do bar do Cidinho, um dos principais pontos de encontro de regueiros da cidade.
Parte da abstenção também poderia ser explicada pela “rebeldia” da cidade, que é expressada nas letras e ritmo das canções. “O reggae é praticamente a alma da cidade. A nossa ilha tem o pseudônimo de ilha rebelde, e acho que o reggae é o que mais casa com isso, porque a ilha que não se rende. O povo maranhense que mora na capital tem uma consciência política que é muito forte”, conta o pesquisador e produtor cultural Amsterdã Silva Botelho.
Os políticos sabem que São Luís tem o reggae na alma, e os jingles de campanha são embalados pelo ritmo. Não é difícil encontrar um candidato que fez letras ao som do reggae para tentar chegar à população.
“Todos os candidatos usam o reggae, seja num simples jingle, para que a mensagem absorvida, ou de forma mais direta. Mas temos alguns políticos ligados diretos ao reggae. E o regueiro por se identificar com isso para representar. Desde o vereador ao prefeito”, completa Botelho.
Oito candidatos, com DEM e PT juntos
A política em São Luís possui também suas características marcantes. Uma delas é a influência da família Sarney, que tem a governadora Roseana (PMDB). A família também controla o maior sistema de comunicação, o grupo Mirante.
A disputa pela Prefeitura de São Luís envolve oito candidatos. Em mais uma peculiaridade política, a capital conseguiu unir os rivais DEM e PT. Os petistas lançaram o nome de Washington Luís.
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- http://eleicoes.uol.com.br/2012/enquetes/2012/10/03/voce-acha-que-a-rebeldia-do-reggae-faz-com-que-o-eleitor-de-sao-luis-deixe-de-ir-as-urnas.js
A aliança não se justificaria não fosse pela articulação do PMDB, da família Sarney, que reuniu na chapa nada menos que 13 partidos. Por conta das rusgas nacionais, a aliança em São Luís não se repete em outra capital do Brasil e precisou passar pela aprovação da Executiva Nacional do DEM.
Segundo o partido, a aliança se justificou pelo fato de a sigla apoiar o governo de Roseana Sarney (que, antes de ser do PMDB, era filiada ao PFL, que veio a se transformar no DEM). Em contrapartida, o DEM informou que recebeu a garantia do apoio do governo estadual em 29 municípios.
Apesar da grande união dos partidos e do maior tempo eleitoral, o candidato do governo não emplacou e corre sério risco de ficar fora do segundo turno. Segundo última pesquisa Ibope, Washington é apenas o terceiro colocado, com 12% das intenções de voto. O líder é o atual prefeito João Castelo (PSDB), com 29%, contra 26% de Edivaldo Holanda Júnior (PTC).