Manaus (AM)

Candidato usa helicóptero para ir à periferia, mas campanha não decola e enfrenta críticas

UOL voa com deputado federal que quer ser prefeito de Manaus

Ex-policial e apresentador de TV, Sabino Castelo Branco comprou um helicóptero no ano passado e visita até dez comunidades em um dia. A campanha manauara é polarizada pelos candidatos Arthur Virgílio (PSDB) e Vanessa Grazziotin (PC do B), mas o deputado federal pelo PTB acha que vai “comer pelas beiradas” e chegar ao segundo turno.

Denis Armelini, Noelle Marques e Rodrigo Bertolotto

Do UOL, em Manaus (AM)

O helicóptero norte-americano Robinson 44, avaliado em R$ 1 milhão, desce em um campinho de terra na periferia de Manaus, capital amazonense. De dentro dele, sai o candidato. Gel no cabelo, braço tatuado, camisa de grife. Ele vai em direção do público que assistiu ao pouso. Já a criançada corre em direção à máquina voadora, para desespero do piloto que ainda não conseguiu parar as hélices.

“Não é para afrontar o povo. Não é por vaidade. É para chegar até o povo. Não é uma coisa do outro mundo como meus adversários gostam de falar”, argumenta Sabino Castelo Branco, candidato petebista à prefeitura.

Na série UOL pelo Brasil, que percorre todos os Estados do Brasil para mostrar histórias das eleições municipais, a reportagem foi até Manaus conferir a repercussão dessa campanha política aérea.

Sabino vem do subgrupo de políticos que saíram dos aparelhos de TV, no qual poderíamos incluir o paulista Celso Russomanno (PRB), o paranaense Ratinho Júnior (PSC), o gaúcho Antonio Britto e o mineiro Hélio Costa, entre outros tantos.

Ele usa seu helicóptero também para o "A Voz da Esperança", programa da TV Em Tempo (retransmissora local do SBT) que mistura relato de crimes e ações sociais na periferia. Antes comandava o programa Bronca na TV, mais voltado a mostrar a violência da cidade.

Isso lhe garante as críticas mais pesadas e os principais problemas jurídicos. Os adversários o acusam de “assistencialismo” por ajudar famílias carentes no programa --ele próprio se apresenta como “pai dos pobres” e “pai desse povo esquecido”. Seu mandato federal já foi cassado por “abuso do poder econômico” pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral), mas recuperado no STF (Supremo Tribunal Federal). Sabino coleciona processos de peculato, crime tributário e captação ilícita de recursos, além de acusações de extorsão e agressão . Ele diz que isso “é tudo perseguição política”.

“Eles falam que é assistencialismo porque é para os pobres. Se fosse para os ricos, não seria. Ajudo as pessoas, mas não peço voto. Não tenho banco de dados, ninguém vai receber cartão de natal meu”, se defende Sabino.

Ele diz acreditar que os levantamentos de intenção de voto estão todos errados porque os pesquisadores não vão onde ele chega com seu helicóptero. Neles, Sabino aparece entre o terceiro e o quinto lugar, bem longe dos protagonistas Arthur Virgílio (PSDB) e Vanessa Grazziotin (PC do B), que reeditam em 2012 a briga pela vaga no Senado de 2010 em que a comunista se deu melhor.

Ex-prefeito, o tucano começou a campanha na frente, mas viu sua rival avançar graças, principalmente, a vantagem no horário eleitoral (Virgílio tem três minutos e meio; Grazziotin conta com quase 13 minutos, por conta da aliança que une o PT, o PMDB e o PSD do governo Omar Aziz).

Pelas ruas de Manaus, o que mais se vê são cartazes dos dois. De Sabino, quase nada. Parece que ele concentrou sua estratégia nos ares.

“Com o helicóptero, eu faço dez comunidades em um dia. Se fosse de carro, daria para fazer uma. De lancha, a marola bate muito, acaba com a coluna. Fora o sol muito forte. Ia perder muito tempo, voltar à noite e todo arrebentado. Uso o helicóptero para fugir do trânsito e chegar às comunidades afastadas” , conta o petebista.

Os oponentes provocam o candidato voador. "Eu não tenho nem teco-teco, quanto mais helicóptero", brinca Pauderney Avelino (DEM), empresário da construção civil. “Eu vou de voadeira mesmo”, ironiza Serafim Corrêa (PSB), ex-prefeito de 2005 a 2009 sobre sua predileção pelas lanchas com motos de popa.

Evangélico, Sabino vê razões celestiais para seus passeios pelas nuvens equatoriais. “Posso comprar também um jato. Só depende do Deus que eu sirvo. Foi ele que me deu o que tenho”, fala de forma metafórica. O helicóptero, porém, está sendo pago desde 2011 em 70 prestações graças a um empréstimo que conseguiu como deputado federal junto ao Banco do Brasil, com desconto em seus vencimentos. O aparelho custa R$ 1 milhão e é grande parte do patrimônio declarado por Sabino em seu imposto de renda (R$ 1,4 milhão).

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  • http://eleicoes.uol.com.br/2012/enquetes/2012/10/02/voce-considera-usar-helicoptero-em-campanha-politica-como-um-abuso-do-poder-economico.js

“Meu mandato federal já terá terminado e eu vou ainda estar pagando por ele.” Para abater o peso dos pagamentos, o petebista loca o aparelho para sobrevoos turísticos ou fotográficos para quem quer ver o encontro das águas dos rios Negro e Solimões, ou a vastidão verde da Amazônia ou o porto movimentado de Manaus.

No sobrevoo que fez com a equipe do UOL as paisagens foram menos atrativas: igarapés transformados em esgoto a céu aberto, casas à beira de barrancos e lixões. Sabino tira seus votos das regiões leste e norte da capital, onde se concentra a população mais carente. Mas lá também recebe muitas críticas. “Ele fica olhando o povo lá de cima, e o povo gosta de ficar por baixo. Por isso que nada avança nessa terra ”, reclama a dona de casa Adelita Gomes, moradora de Cidade Nova, bairro da região norte de Manaus.

  • Arte UOL

Cidade: Manaus
Estado: Amazonas
População: 1.802.014 (2010)
PIB per capita: R$ 23.286,06
Área (em km²): 11.401,077
Número de eleitores: 1.178.120 (2012)
Data de fundação: 4 de setembro de 1856

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