Canindé de São Francisco (SE)

Dois candidatos disputam prefeitura em cidade sergipana que é um oásis no sertão nordestino

Turismo e agricultura com ajuda de irrigação desenvolvem região

Canindé do São Francisco fica no semiárido sergipano, na divisa com Alagoas, tem apenas dois candidatos a prefeito. Banhada pelo rio São Francisco, a cidade se tornou uma referência no quesito desenvolvimento, graças à construção da usina hidrelétrica de Xingó. Com os royalties repassados pela Chesf, a cidade tem um cenário diferente de suas vizinhas, com desenvolvimento acima da média e uma renda per capita maior que a de São Paulo.

Carlos Madeiro, Fabrício Venâncio, Leandro Moraes e Noelle Marques

Do UOL, em Canindé de São Francisco (SE)

Sertão e seca. Essa combinação sempre foi sinônimo de sofrimento para o nordestino, especialmente em épocas de estiagem intensa. Mas em Canindé do São Francisco (a 206 km de Aracaju) a regra passa a ser uma exceção.

Graças à agricultura irrigada e aos royalties pagos pela Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) pelo uso da água do rio São Francisco, pela hidrelétrica de Xingó, o município se tornou referência de desenvolvimento no semiárido nordestino. Com um projeto de irrigação consolidado há 25 anos, turismo ecológico e desenvolvimento urbano, Canindé do São Francisco cresceu e atraiu então moradores de outras cidades.

O UOL visitou Canindé do São Francisco dentro do projeto UOL pelo Brasil --série de reportagens multimídia que percorre municípios em todos os Estados da federação durante a campanha eleitoral.

Os números não deixam dúvida da diferença de Canindé para as demais cidades nordestinas. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), a renda per capita anual de Canindé do São Francisco, em 2009, alcançou R$ 39.456,09, quatro vezes o registrado a média estadual --R$ 9.787,25. Para se ter ideia do alto valor, a renda per capita de Canindé, em pleno sertão nordestino, é maior que a da cidade de São Paulo, que, em 2009, ficou em R$ 35.271,93.

De olho no cofre gordo, Canindé do São Francisco tem uma disputa eleitoral acirrada, com dois candidatos, entre eles um deputado federal: Heleno Silva (PRB), que pode deixar o cargo na Câmara para governar uma cidade de apenas 24 mil habitantes. Ele disputa o cargo com o comerciante Ednaldo da Farmácia (PSC), figura popular na cidade e apoiada pelo atual prefeito Orlando Andrade (PSDB).

Para Ednaldo da Farmácia, o fato de Canindé do São Francisco ser rica tem seus efeitos colaterais, que podem ser amenizados com investimentos. "Administrar um município localizado em uma região fronteiriça, que atrai centenas e centenas de imigrantes pobres, sem formação profissional e com baixíssima escolaridade requer uma atenção redobrada com o social. Canindé é o município referência em oferecer oportunidade de uma vida melhor para todos que aqui chegam”, diz, citando que pretende fortalecer a educação e a saúde.

Já Heleno Silva, que representa a oposição, afirma que, pelos recursos que possui, o município poderia oferecer melhor qualidade de vida, com mais investimentos para fortalecer o turismo e a agricultura, entre outras áreas. “Governar uma cidade com tantos recursos é você proporcionar uma melhor qualidade de vida as pessoas dando oportunidade para  juventude na educação, na geração de empregos e ter a noção exata da importância do município para região que deve ser o polo do desenvolvimento. Tornar uma cidade modelo, incentivando a vinda de fabricas e indústrias”, afirma

Os dois candidatos disputam o comando de uma prefeitura com dinheiro em caixa, condição financeira que em nada lembra a de cidades vizinhas. O município tem 22 escolas e um centro educacional, sendo seis na zona urbana --todas da cidade com acesso à internet. Ao todo são 7.800 alunos.

O transporte dos estudantes não é feito em pau-de-arara ou em veículos antigos, como na maioria das cidades do interior nordestino. Alunos são transportados em 20 ônibus e 37 vans.

Avanço comparado a outras cidades

  • Leandro Moraes/UOL

    Pé de goiaba é irrigado em Canindé de São Francisco; veja outras imagens clicando na foto

O desenvolvimento responde por um nome: royalties. O dinheiro é pago como compensação pela exploração das riquezas naturais. A cidade recebe os louros da construção da hidrelétrica de Xingó, administrada pela Chesf. O UOL tentou uma entrevista com algum responsável da companhia na cidade, mas não teve as solicitações respondidas.

Fora a ligação com a usina, a economia da cidade é baseada na agricultura, onde os agricultores plantam diversas culturas. Apesar de estar encravada numa das áreas de menor percentual de chuvas da região, a agricultura irrigada transformou a cidade.

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  • http://eleicoes.uol.com.br/2012/enquetes/2012/09/28/cidades-como-caninde-do-sao-francisco-mostram-que-o-sertao-do-nordeste-tem-jeito.js

O projeto Califórnia existe há 25 anos e se tornou uma das experiências mais exitosas do Nordeste. São 333 lotes irrigados, que beneficiam 1.665 pessoas, com a produção de 27 mil toneladas de alimentos, segundo a Companhia de Recursos Hídricos de Sergipe.

O UOL visitou quatro desses lotes e viu que, graças à água abundante, culturas como quiabo e goiaba --que jamais poderiam se desenvolver com o clima no sertão-- se tornaram viáveis e geradoras de renda. “A seca só é ruim para os bichos, para quem tem gado”, conta o agricultor Jailton Paes dos Santos, que veio do município de Glória (BA) em busca de uma oportunidade e conseguiu, há 22 anos, um lote irrigado.

Agricultores cobram central de abastecimento

Mas o sucesso de desenvolvimento não esconde suas carências. A principal queixa dos agricultores é a falta de uma central de abastecimento onde pudessem vender seus produtos sem a necessidade do atravessador. Os produtores afirmam que deixam de lucrar mais com os seus produtos por conta da falta do local.

“Eu queria pedir [ao próximo prefeito] que ele fizesse um Ceasa [como são conhecidas as centrais de abastecimento]. Se tivéssemos, chegava e colocava lá o quiabo para vender, por exemplo. Levava até em carroça de burro. Hoje tem que vender a quem passa aqui, e a gente não sabe quanto vai receber pela mercadoria. Seria uma melhoria de 100%”, diz Santos.

“Os políticos só vêm aqui de dois em dois anos. Se tivesse ao menos uma cooperativa para entregar a mercadoria com preço garantido. Hoje a gente produz e não tem nenhuma ideia de quanto vai receber”, conta o agricultor Erisvaldo Alexandre de Assis.

Apesar do pedido dos agricultores, o UOL consultou o plano de governo dos dois candidatos, mas nenhum deles faz qualquer menção à construção de uma central de abastecimento no município.

Diário de Bordo

  • Leandro Moraes/UOL

    Saiba mais curiosidades das cidades visitadas no UOL pelo Brasil

Devoção

  • Noelle Marques/UOL

    Como não poderia deixar de ser, o santo protetor dos animais e homônimo do rio, São Francisco é bastante lembrado na cidade com imagens e souvenires para os turistas.

A morte de Lampião

  • Folha Imagem

    Foi na grota de Angicos, entre Canindé de São Francisco e Poço Redondo, que na madrugada de 28 de julho de 1938, a tropa comandada pelo tenente João Bezerra invadiu o acampamento de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, matando o líder do maior grupo de cangaceiros da história do Nordeste e sua mulher, Maria Bonita. Na entrada de Canindé, há uma estátua de Lampião, lembrando o episódio que marcou o fim do cangaço na região.

Usina

  • Fabrício Venâncio/UOL

    A usina hidrelétrica de Xingó entrou em operação em 1994 e revolucionou o até então pobre município de Canindé de São Francisco. A usina geradora é composta por seis unidades com potencial de geração de 3,1 milhões kW. Com seu enorme paredão no rio, que represa a água, a usina também é um ponto de visitação em Canindé do São Francisco.

 

  • Arte UOL

Cidade: Canindé de São Francisco
Estado: Sergipe
Distância da capital: 206 km
População: 24.686 (2010)
PIB per capita: R$ 39.456,09 (2009)
Área (em km²): 902,241
Número de eleitores: 19.188 (2012)
Data de fundação: 25 de novembro de 1953

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