Opinião: É hora de repensar se vale a pena fazer debates eleitorais na TV

Mauricio Stycer

Crítico do UOL

Encerrada a campanha eleitoral, me parece um bom momento para discutir, pensando já em 2014, se vale a pena insistir no atual modelo de debates eleitorais na TV. Um balanço do que ocorreu (e deixou de ocorrer) este ano, inclui alguns momentos positivos, mas os aspectos negativos são maioria e, creio, estão contribuindo para desmoralizar a própria ideia deste tipo de evento.

Debates eleitorais na TV, no Brasil, estão se tornando encontros tão controlados e limitados por regras e exigências que, com frequência, nem podem ser chamados de “debates”.

Jornalistas, quando autorizados a fazer perguntas, não podem comentar as respostas. Essa exigência é uma forma de garantir aos candidatos a possibilidade de fugir de questões incômodas sem serem lembrados disso por quem os questionou.

A inclusão de perguntas de eleitores – internautas, leitores ou espectadores – é outro problema. Questões específicas assustam os candidatos.

Propostas que fogem ao lugar comum costumam ser rejeitadas ou vistas com desconfiança. Foi o que voltou a ocorrer este ano com uma ideia testada em 2010, que permitiria aos candidatos se movimentar pelo palco do debate enquanto respondiam.

Uma proposta inovadora feita pelo UOL e  pela “Folha de S.Paulo”, por exemplo, não vingou. Ao invés de estabelecer tempo para cada resposta ou replica, a ideia era dar a cada candidato um tempo total, que ele usaria ao longo de todo debate. Poderia gastar 5 minutos para uma resposta, se quisesse, e 15 segundos para a outra.

Debates podem ter relevância numa disputa eleitoral. Mas para isso ocorrer precisam ser autênticos enfrentamentos de idéias. Quem teve a oportunidade de ver o debate entre os candidatos à Presidência da França, em maio, ou algum dos encontros entre Barack Obama e Mitt Romney este mês entende o que quero dizer.

Livres para circular pelo paco, podendo olhar olho no olho do rival, e com mediadores habilitados a intervir nas discussões, Obama e Romney protagonizaram eventos históricos este ano.

A legislação eleitoral exige que, no primeiro turno, as emissoras convidem todos os candidatos que possuam representatividade na Câmara dos Deputados para a realização de debates. Em São Paulo, este ano, a determinação implicou em debates com oito candidatos. É simplesmente impossível discutir ideias e propostas com tanta gente, num espaço de tempo tão limitado quanto o da televisão.

A Globo preferiu não realizar debate em São Paulo no primeiro turno por esta razão. Por motivos até agora não muito bem esclarecidos, a Record cancelou um debate já marcado para o primeiro turno na cidade e, posteriormente, também o que faria no segundo turno.

Segundo a Record, o debate do segundo turno, entre Haddad e Serra, seria exibido na faixa das 23h, mas os partidos teriam exigido que o evento ocorresse às 22h, na expectativa de angariar maior audiência. O debate na Globo, nesta sexta-feira (26), começou depois das 23h e teve média de 21 pontos no Ibope. Cada ponto equivale a 60 mil televisores ligados.

Este ano, em São Paulo, os candidatos que disputavam o segundo turno receberam quase uma dezena de propostas para a realização de debates. Teria muito mais impacto a realização de poucos eventos em forma de “pool”, ou seja, organizados em conjunto por diferentes grupos de comunicação e exibidos por todos ao mesmo tempo.

Para as empresas de comunicação é sinal de prestigio abrigar debates eleitorais. Muitas vezes, elas aceitam regras que engessam os eventos para não perder a oportunidade de realizá-los. Creio que chegou a hora de dizer não. Chegou a hora de fazer debates que honrem o sentido da palavra debate. 

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