Em Curitiba, Ratinho agora ataca o PT; "ele virou o Serra?", pergunta ministro Paulo Bernardo

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

Após levar à televisão, desde terça-feira (16), inserções que atacam a aliança do ex-tucano Gustavo Fruet (PDT) com o PT, Ratinho Jr. (PSC) foi criticado em nota oficial emitida pelo diretório municipal petista em Curitiba. “Ele virou o José Serra, agora, nosso maior adversário?”, questionou, ao UOL, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, um dos articuladores da aliança entre Fruet e o PT.  Serra é candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo e tem feito ataques ao adversário Fernando Haddad.

“Aparentemente, ele se surpreendeu com a mudança do quadro [as pesquisas indicavam que o adversário de Ratinho no segundo turno seria o prefeito Luciano Ducci, do PSB, ligado no Paraná ao PSDB]. Acho lamentável, ruim do ponto de vista político, pois mostra que ele não tinha consistência na posição que defendia. Acho que ele vai perder votos com isso”, criticou Bernardo.

“Ratinho Jr. (PSC) passou o primeiro turno dizendo que tinha apoio da maioria dos filiados do PT, que ficaria orgulhoso de receber apoio do partido, que é da base de apoio ao governo da presidenta Dilma e que é amigo do Lula. Surpreendido com a passagem de Gustavo Fruet (PDT) para o segundo turno, mudou totalmente o discurso e, agora, é anti-PT”, diz o a nota do PT.

“Curitiba quer um prefeito capaz de administrar para todos e que tenha só uma cara. Esse comportamento vai prejudicar o próprio candidato Ratinho, que tentou emplacar imagem de bom moço e que, agora, resolveu virar vilão”, acrescenta o texto.

A assessoria de imprensa de José Serra informou que ele não comentaria o assunto.

Sem a marca da campanha

As três inserções contra o PT de Ratinho não trazem a marca da campanha. Em um deles, o ator fala sobre as tentativas mal sucedidas do PT de chegar à Prefeitura de Curitiba, com o deputado federal Ângelo Vanhoni (2000 e 2004) e a ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (2008).

“Primeiro o PT tentou ganhar a prefeitura com o Vanhoni. Tentou uma vez, tentou outra, não funcionou. Aí depois eles tentaram de novo, desta vez com a Gleisi. Também não deu certo. Agora, o PT adotou uma tática diferente, e veio junto com Gustavo Fruet. Funciona assim: Gustavo vai na frente e o PT vem logo atrás, escondidinho. Sabe como é que é? Será que desta vez eles conseguem? Acho que não, hein. O curitibano não vai deixar”, diz o comercial.

Em outro filme, o mesmo ator fala da gestão petista na Prefeitura de Joinville (SC), segundo ele, um "fracasso". No terceiro, ataca a mudança de lado de Fruet --até ano passado filiado ao PSDB. Pelo partido, como deputado federal, Fruet sub-relator da CPI dos Correios, que desvendou o mensalão petista. Ao final, diz que “não dá pra confiar em gente que muda tanto assim”.

Questionar a guinada ideológica de Fruet foi estratégia usada, no primeiro turno, por Luciano Ducci. À estratégia, creditou-se a queda de Fruet nas pesquisas de intenção de voto – o eleitorado de Curitiba, historicamente, rejeita o PT, que jamais elegeu um prefeito na cidade.

Às vésperas do primeiro turno, porém, Fruet recuperou-se e superou Ducci por apenas 4.402 votos, ganhando o direito de disputar o segundo turno contra Ratinho Junior (veja o placar da apuração no primeiro turno).

Filmes geram mal-estar na própria campanha

O UOL apurou que os comerciais contra o PT causaram mal-estar na cúpula da campanha de Ratinho. Dois de seus integrantes –o coordenador jurídico Guilherme Gonçalves e o marqueteiro Maurício Ramos– são filiados ao PT.

Por esse motivo, e por terem sido considerados “inadequados”, as inserções não voltariam ao ar. Procurada, a assessoria da campanha de Ratinho Jr. iria averiguar a informação, mas não retornou até o fechamento deste texto.

Gonçalves falou à reportagem, mas disse que não comentaria o caso. “Atuo na campanha profissionalmente, como advogado. Assim, me abstenho de fazer avaliações políticas nesse sentido.”

Um dia após o primeiro turno, Ratinho Jr. declarou à imprensa que gostaria de ver Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fora da disputa do segundo turno em Curitiba.

“Se eles forem inteligentes, vão deixar a campanha correr normalmente, sem manifestar preferência, até para não desagradar um dos lados”, disse.

Deputado federal licenciado, Ratinho é integrante da base de apoio de Dilma na Câmara, e foi um dos coordenadores da campanha dela no Paraná.

O pai dele, o apresentador Carlos Ratinho Massa, do SBT, é amigo pessoal de Lula, e teria intercedido junto ao ex-presidente para que se mantivesse afastado da campanha em Curitiba.

O passado tucano de Fruet também levou alguns militantes petistas a aderirem, logo no início da campanha, a Ratinho.

“Não sei se isso irá refletir nos companheiros que estão na campanha dele [Ratinho Junior], mas ao menos esperamos que façam um balanço”, disse ao UOL a presidente municipal do PT, Roseli Isidoro.

“Ratinho Junior, de fato, tem boa relação conosco, vive dizendo que parte do PT faz campanha para ele. O Datafolha mostrou, numa pesquisa, que 43% dos simpatizantes do PT estavam com ele. Mas isso [as inserções] terá peso nesse pessoal, da base, que votou nele, e se sentirá enganado agora”, previu Paulo Bernardo.

Outro lado

Em nota enviada à imprensa, a assessoria de Ratinho Junior disse que o candidato “não irá receber a alcunha de algoz do PT”.

“Minha crítica é voltada à aliança que o PT em fez em Curitiba com um algoz de Lula, Dilma e tantos outros. Critico o PT de gravata, a incoerência e oportunismo das lideranças petistas locais que prefeririam alguém que nomeou Lula de corrupto e não a militância, justamente o presidente que tantas mudanças positivas garantiu a milhares de brasileiros. O candidato atualmente apoiado pela cúpula petista chamou o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) de estelionato eleitoral e agora fala, de forma oportunista, que usará os programas”, afirma Ratinho, no texto.

“Dessa forma, o que eu condenei foi o oportunismo e o chegar ao poder a qualquer custo. A minha candidatura e o meu projeto continuam independentes. Construí minhas alianças e minha candidatura sem padrinhos políticos e sem vender minha consciência. E, principalmente, sem trocar apoios por cargos. As pessoas que aderiram ao nosso projeto acreditam que ele é o melhor e o mais comprometido com a população de Curitiba. Ao contrário do projeto do concorrente que foi construído para servir como trampolim político para 2014”, informa a nota.

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