Fortalecido, PSB negociará eleições de 2014 em pé de igualdade com PT e PSDB

Do UOL, em Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Recife e Salvador*

O bom desempenho do PSB no primeiro turno destas eleições, a exemplo do que ocorreu em 2010, credencia a sigla a negociar os acordos partidários com vistas ao pleito de 2014 em pé de igualdade com o PT, partido do qual já é aliado em âmbito nacional, e o PSDB, legenda com a qual está coligada em outras cidades, como em Belo Horizonte. Essa é a avaliação de lideranças do partido e de analistas políticos.

"A gente não vai ficar fazendo projeto do que vai ser 2014 agora. Nós vamos decidir no processo histórico. É claro que essa eleição reorganiza o campo político no Brasil. Ela deixa muitas possibilidades diante da cena criada. Mas o que vai dizer o que vamos ter efetivamente em 2014 é o processo que estamos vivenciando hoje”, afirmou o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB.

O cenário eleitoral deste ano foi marcado pelo rompimento entre PT e PSB em duas cidades emblemáticas: Belo Horizonte e Recife, capitais em que, sob influência do senador tucano Aécio Neves e de Eduardo Campos, o partido impôs derrotas históricas no até então aliado, o PT, mesmo com o envolvimento de ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. Em Fortaleza, os dois partidos também romperam a aliança e agora se enfrentam no segundo turno.

Em Belo Horizonte, socialistas e petistas estavam juntos desde 1993, e, em Recife, há 12 anos. No caso da capital pernambucana, o candidato Geraldo Julio (PSB), apadrinhado por Campos e desconhecido do eleitorado, cresceu vertiginosamente e venceu no primeiro turno, derrotando o tucano Daniel Coelho (PSDB) e Humberto Costa (PT), apoiado por Lula.

A vitória de Geraldo Julio foi uma demonstração do poderio de Eduardo Campos, que também pode ser demonstrado no restante de Pernambuco, onde seus aliados alcançaram vitórias em 170 dos 184, conquistando os maiores colégios eleitorais --Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Caruaru.

Para Campos, com o resultado nacional alcançado pelo PSB no primeiro turno (com 416 prefeitos eleitos no país), o partido passará a ser visto com mais respeito na política nacional. "O PSB vem crescendo desde sua fundação. Agora o partido passou a ser mais visto. Mas essas eleições marcam a passagem da fase adolescente para a fase adulta”, disse.

O desempenho credencia Campos a vislumbrar uma candidatura para a sucessão presidencial em 2014, embora o socialista evite tocar no tema e afirme que o PSB manterá a aliança com o PT em âmbito nacional. Nos bastidores, entretanto, especula-se a possibilidade dos socialistas se unirem com tucanos daqui a dois anos.

“Essa é a grande dúvida. Todo o mundo quer saber o que o Eduardo Campos vai fazer ao deixar o governo”, afirma David Fleischer, professor de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília).

“Em nível nacional, o governador Eduardo Campos também terá vitórias expressivas [nas eleições de 2012]. O PSB sai fortalecido. Uma eventual aliança entre Eduardo Campos e Aécio Neves é uma novidade para 2014”, acrescenta o cientista político Rodrigo Mendes Ribeiro, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Para a senadora Lídice da Mata, presidente do PSB da Bahia, o crescimento da sigla “é apenas a expressão de um partido que se afirma”. “É um movimento natural. O fato de nós sermos aliados do PT não quer dizer que nós sejamos subservientes a um projeto político único. Nós somos parte desse projeto político e queremos ser protagonistas nele.”

Em Salvador, a exemplo de São Paulo e Goiânia, o PSB apoiará candidatos do PT no segundo turno.

PT perde Belo Horizonte

Já na capital mineira, o rompimento entre PSB e PT se deu após quase quatro anos de desgaste durante o atual mandato de Marcio Lacerda (PSB), cuja candidatura em 2008 foi apoiada por petistas e tucanos. O estopim para a cisão foi a negativa dos socialistas em fechar com o PT na coligação proporcional para vereadores.

Com a vitória de Lacerda --“cria” de Aécio Neves-- sobre Patrus Ananias (PT) já no primeiro turno, o PT ficou praticamente isolado, já que a coligação de Lacerda, com 19 partidos, terá 32 das 41 cadeiras da Câmara dos Vereadores. De quebra, o PT perde seu principal foco de resistência ao grupo de Aécio Neves em Minas Gerais.

Aécio nunca admitiu publicamente que a saída do PT do campo de apoio ao PSB mineiro era um desejo seu e do PSDB, mas, para Mendes Ribeiro, é algo que o beneficiará. “Aécio Neves sai fortalecido no segundo maior colégio eleitoral do país. Ele ganhou uma eleição no próprio terreno dele. No confronto direto com a Dilma, ele venceu no território dele”, disse o professor.

A eleição de Lacerda pode ainda ser considerada uma vitória regional de Aécio sobre Dilma Rousseff, que chegou a participar de um comício de Patrus na reta final da campanha.

Aécio roda o país

Além do envolvimento no pleito da capital mineira, Aécio passou por várias cidades de Minas Gerais para tentar ajudar seus aliados políticos. E rodou o país ao lado do presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra. “Ele teve uma participação importante nessa campanha. Apareceu muito, pôs a cara”, avaliou o cientista político da UFMG.

Entre 24 de setembro e 2 de outubro deste ano, antes de entrar de cabeça na disputa em Belo Horizonte, Aécio participou de eventos políticos em 13 cidades situadas em nove Estados –Rio Grande do Sul, Paraíba, Sergipe, Piauí, Pernambuco, Bahia, Alagoas e Espírito Santo. Já nos últimos 12 meses, Aécio circulou por 35 cidades de 22 Estados.

“Tive a oportunidade de não apenas ficar mais conhecido, mas de conhecer um pouco mais a realidade de cada uma dessas regiões”, disse Aécio, ao UOL, no último sábado (6). “O que fiz foi prestar minha solidariedade aos meus companheiros do Brasil inteiro. Foi muito enriquecedor. Confesso que aprendi muito.”

PT x PSB em Fortaleza

Em disputas que prometem ser acirradas, o PSB ainda enfrentará o PT no segundo turno em Cuiabá --Mauro Mendes (PSB) versus Lúdio Cabral (PT)-- e Fortaleza.

Na capital cearense, depois de um primeiro turno acirrado entre Elmano de Freitas (PT), candidato da prefeita, Luizianne Lins (PT), e Roberto Claudio (PSB), apoiado pelo governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), e seu irmão Ciro, os próximos dias devem esquentar e consolidar mais a recente rixa entre os partidos na capital.

Apesar do racha, os candidatos da oposição acusam que Elmano e Roberto fizeram uma espécie de pacto de não agressão por serem de um único grupo unido desde a eleição de Luizianne à prefeitura da capital, em 2004. Os dois lados, naturalmente, negam.

PSB derrotado em Curitiba

Em Curitiba, o cenário foi o oposto ao de Belo Horizonte: o prefeito Luciano Ducci (PSB), apoiado pelo PSDB do governador Beto Richa, sequer foi ao segundo turno --passaram para a segunda etapa Ratinho Júnior (PSC) e Gustavo Fruet (PDT). Ducci foi derrotado por uma diferença de apenas 4.402 votos para Fruet, candidato apoiado pelo governo federal.

A derrota do PSB na capital paranaense expôs também a derrota de um grupo político que há 24 anos dominava o executivo municipal e do qual participaram nomes como o ex-prefeito e ex-governador Jaime Lerner, hoje no PSB carioca, e Beto Richa.

Nessa segunda (8), em Curitiba, Richa minimizou a derrota do aliado e disse não ver relação entre as eleições locais e eventual desgaste ante 2014.

“Antigamente existia uma facilidade de transferência de voto; hoje, o eleitor é focado nada ou quase nada nos apoiadores ou padrinhos políticos”, disse. Richa citou os casos de Humberto Costa e Márcia Lopes, candidata derrotada em Londrina, como exemplos de apadrinhados que também não vingaram ao segundo turno.

*Reportagem de Carlos Eduardo Cherem, Guilherme Balza e Rayder Bragon, em Belo Horizonte; Janaina Garcia, em Curitiba; Aliny Gama, em Fortaleza; Carlos Madeiro, no Recife; e Felipe Amorim, em Salvador.

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