Com ampla coligação, Fortunati deve ser reeleito no primeiro turno em Porto Alegre
Lucas Azevedo
Do UOL, em Porto Alegre
Neste domingo (7), os porto-alegrenses devem reeleger José Fortunati (PDT) como prefeito no primeiro turno. Se isso se confirmar, será a primeira vez que a disputa não vai para o segundo turno desde que a Constituição de 1988 abriu essa possibilidade.
As últimas pesquisas de intenção de voto divulgadas no sábado apontam para uma vitória de Fortunati com percentuais entre 61% e 57% dos votos válidos.
Com um mandato em exercício a seu favor e uma coligação com nove partidos, que engloba diversas correntes políticas, Fortunati encontra simpatizantes do PT ao DEM.
Já a deputada federal Manuela D'Ávila (PC do B), a principal adversária do pedetista, vem caindo nas pesquisas. A comunista chegou a encostar no prefeito em pesquisas feitas no fim de agosto e início de setembro.
Desde então, ela vem perdendo votos. De duas semanas para cá, a principal bandeira levantada por Manuela em sua propaganda no rádio e na TV e em debates é a do segundo turno: "mais vinte dias para pensar a cidade".
Na cidade onde a presidente Dilma Rousseff vota, o petista Adão Villaverde, o Villa, deve ficar em terceiro. Ela, porém, preferiu não se envolver no pleito, onde os dois primeiros colocados são de partidos que fazem parte da base de seu governo.
A derrota petista foi mais uma na tentativa de voltar a comandar a cidade --o partido governou Porto Alegre por 16 anos a partir de 1989 até a eleição de José Fogaça (então no PPS) em 2004.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também não se envolveu intensamente na disputa, ele apareceu no programa de TV de Villa, mas não chegou a participar de eventos de rua.
Queda de Manuela
Segundo o cientista político e coordenador do Inpro (Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais) Benedito Tadeu Cesar, o flerte com o PP (Partido Progressista) e o fato de ser jovem (31 anos) fizeram com a campanha de Manuela minguasse.
"Se ela agregou algo de bom com a aproximação com o PP, ela perdeu de outro lado. Os mais conservadores do PP não vieram com ela. Já a esquerda, que poderia ser simpática a ela, ficou em dúvida", avalia o especialista.
Esse aceno à direita - personificada no apoio dado senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) - fugiu ao seu perfil e acabou não agregando votos conservadores.
"Ao mesmo tempo, ela não conseguiu demonstrar que é uma política experiente. Ao tentar isso, ela perdeu com a base de seu eleitorado que acreditava na sua juventude", complementa Cesar.
A coligação formada por PSC, PHS, PSB, PSD, PC do B não foi capaz de manter o nome da comunista em alta diante o eleitorado. "Ela não tem estrutura partidária capaz de sustentá-la. Quando começou efetivamente a campanha, e a máquina política entrou em cena, a Manuela não tinha como manter isso", afirma.
Para o cientista político e coordenador do curso de Ciências Sociais da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil), Paulo Moura, essa instabilidade foi o que mais a prejudicou. "Manuela foi criticada durante a campanha por ter pouca consistência em suas propostas. Ela revelou uma inconsistência que já a prejudicou em outras eleições, que é a imagem de guria, de ser muito jovem."
Divisão da esquerda
Porto Alegre possui uma tradição de escolha de seus prefeitos mais à esquerda, desde antes da ditadura militar, e depois da abertura política. Prova disso foram os 16 anos de administração petista, entre 1989 a 2005.
Para Cesar, os três candidatos à frente nas pesquisas, todos de esquerda, trocaram eleitores entre si. No início da campanha, quando o nome de Villaverde ainda era pouco conhecido, o eleitor petista acreditava que Manuela era a candidata de seu partido, segundo as pesquisas. "Quando o Villaverde começa a aparecer, ele vai tirando uma fatia de votos dela. O crescimento do Villa se dá sobre ela, e não sobre o Fortunati", avalia.
Na outra ponta, o pedetista tirou os votos de Manuela. "O eleitor de centro em Porto Alegre é de centro esquerda. Temos três candidatos fortes da esquerda, e a migração do eleitor do PT para o Fortunati e para a Manuela não é estranha. Mas o que ocorre é que esse mesmo eleitor acabou abandonando Manuela e indo para Fortunati", afirma Moura.