Freixo culpa Paes por crescimento de milícias no Rio e acusa prefeito de obter ganho eleitoral
Do UOL, em São Paulo
O candidato do PSOL à Prefeitura do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo, responsabilizou o atual prefeito e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PMDB), pelo crescimento das milícias na cidade e o acusou de favorecimento eleitoral.
"Ele [Eduardo Paes] tem responsabilidade pelo crescimento das milícias. Falo disso abertamente e, se estivesse em um debate com ele, falaria para ele”, declarou durante Sabatina Folha/UOL nesta quinta-feira (30).
Questionado se o prefeito obtém votos por essa conivência com as milícias, Freixo respondeu que sim. “É só ver o mapa eleitoral dele. Onde ele ganhou a última eleição em relação ao [Fernando] Gabeira [em 2008]? Onde foi a votação determinante para ele? Com o apoio de quem? Quem os milicianos apoiaram e quem eles apoiam hoje?”, disse.
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- http://eleicoes.uol.com.br/2012/enquetes/2012/08/30/voce-acha-que-as-milicias-interferem-nas-eleicoes-no-rio-de-janeiro.js
A reportagem entrou em contato com a campanha de Paes para comentar as declarações de Freixo, mas não obteve resposta até o momento.
"Há vários vereadores da base política do governo integrantes da milícia. É só você ver por quais partidos essas pessoas se elegem", afirmou.
Freixo respondeu aos entrevistadores que, como deputado estadual, acionou o Ministério Público sobre as milícias. “Já fiz isso inúmeras vezes. [Para saber o porquê de o MP não ter apurado as denúncias] tem de convidar o procurador-geral", afirmou.
Freixo, conhecido por fazer parte da CPI das Milícias --grupos paramilitares que comandam comunidades cariocas e o tráfico de drogas--, disse ainda que existe uma foto que mostra Paes em reunião com vários donos de cooperativas de transporte que foram indiciados na CPI.
"Essa foto apareceu em 2009 com vários indiciados por nós em 2008. Milícia é uma máfia que domina território e transforma esse domínio em eleitoral. Todo miliciano é dono de um centro social.”
O candidato afirmou, ainda, que o transporte de vans é comandado por milicianos com o aval da prefeitura. "Há uma responsabilidade política sobre isso".
“UPP não é instrumento para enfrentar milícia”
Freixo ainda criticou o modelo de UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). “A UPP não é instrumento para enfrentar milícia. UPP não é um projeto de segurança pública, é um projeto de cidade. É uma ocupação militar de áreas estratégicas para gestão da cidade. Porque Copacabana tem três UPPs e a Baixada Fluminense não tem nenhuma? Essa pergunta ninguém faz”, disse.
Segundo Freixo, faltou planejamento para as UPPs. “É um princípio bom, mas o que falta de política pública ali ameaça o desempenho das UPPs (...) A ocupação territorial, o policiamento comunitário é o que eu defendo há muitos anos. A lógica da guerra não funciona, mas é a lógica da guerra que prevalece hoje na maior parte do Rio de Janeiro.”
O candidato ainda citou o cineasta José Padilha, diretor dos filmes “Tropa de Elite”. “O José Padilha disse uma coisa muito interessante, que precisamos de duas UPPs. A Unidade de Polícia Pacificadora e a 'Unidade de Pacificação de Polícia'.”
Controlar dinheiro público no Carnaval
O candidato do PSOL defendeu a prestação de contas de escolas de sambas e critério para uso de dinheiro público no Carnaval da cidade.
"Escola de samba não presta conta de dinheiro público, isso é um escândalo. Ninguém fala isso porque tem medo. Se tem dinheiro público, tem que ter contrapartida cultural, tem que prestar contas do dinheiro público", disse, referindo-se ao fato das agremiações receberem verba do poder público e não terem de discriminar em quais itens o dinheiro foi gasto.
O tema foi levantado, após a polêmica de que o candidato, se eleito, disse que iria interferir nos temas de escolas de samba. "A escola de samba tem direito de escolher o tema que quiser. Agora, se a escola escolhe ter um patrocinador, fazer propaganda de uma marca, aí ela tira do Estado a necessidade de dinheiro público, porque é um interesse privado. Tem que ter um órgão que fiscalize isso", disse.
Ameaças recebidas
Quando questionado se teria usado sua saída do país --a convite da Anistia Internacional-- como marketing pessoal e sobre o fato de que teria palestras e debates agendados em Madri antes das ameaças de morte que sofreu, Freixo rebateu as acusações.
"Sempre tive uma proteção do Estado. Em 2011, eles mataram a [juíza] Patricia Acioli com arma do Estado e aquilo foi um recado. Recebi sete ameaças em um mês depois da morte dela. Recebi todas as ameaças por escrito. Então, era um risco para a minha família, não estava fazendo marketing com a minha vida, tem que ter respeito quando se faz essa acusação. Em nenhum momento eu chamei isso de exílio. Fui para Madri, não teve nenhum debate, nenhuma reunião, eu aceitei o convite da Anistia Internacional. A viagem não tinha qualquer relação com debate, palestra, nada disso."
Apoio de artistas
Sobre o apoio que recebe de personalidades do meio artístico, Freixo disse que não é isso que o fará vencer a disputa.
“É muito bom ter Chico Buarque e Caetano Veloso apoiando um mesmo candidato. Eles se conhecem desde 65 e isso não tinha acontecido. Mas não é isso que nos fará ganhar a eleição. O artista me apoia porque a concepção que ele tem da cidade é a mesma que a minha.”
Pesquisa eleitoral
Sobre a última pesquisa Datafolha, divulgada ontem (29), em que parece em segundo lugar com 13% das intenções de voto (contra 53% do líder Eduardo Paes), Freixo disse “é natural” que o prefeito esteja na frente.
"Com a máquina que ele tem, se não fosse favorito teria que se suicidar", disse. “Mesmo com tempo reduzido nós não caímos. Aliás, nós subimos [de 10% para 13%]. É natural que ele esteja na frente, é natural que a máquina gere isso”, disse Freixo.
Quem é Marcelo Freixo
Marcelo Freixo tem 45 anos, nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro, e é formado em História. É professor e foi diretor do sindicato da categoria no Estado. O candidato foi filiado ao PT de 1986 a 2005, quando saiu do partido para integrar o PSOL.
Em 2007, Freixo assumiu o primeiro mandato como deputado estadual após ser eleito com 13 mil votos. Em 2010, ele se reelegeu com 177 mil votos, a segunda maior votação do Estado.
Em 2008, Freixo presidiu a CPI das Milícias, que serviu de base para o roteiro do filme “Tropa de Elite 2”. O personagem Diogo Fraga, um professor de história que se elege deputado, foi inspirado na vida de Freixo.
Sabatina Folha/UOL
Freixo foi o primeiro sabatinado no Rio de Janeiro. Amanhã (31) será a vez de Paes. Os dois são os mais bem colocados nas últimas pesquisas.
Os candidatos serão entrevistados por Paula Cesarino, diretora da sucursal da Folha de S.Paulo no Rio, Cristina Grillo, secretária de redação da Folha no Rio, Danuza Leão, colunista do jornal, e Josias de Souza, blogueiro do UOL. A Sabatina Folha/UOL é dividida em três blocos e tem uma hora e meia de duração.
Os internautas podem sugerir perguntas pelo Bate-papo UOL, na página do UOL Notícias no Facebook e pelo Twitter, com a hashtag #SabatinaFolhaUOL.