Prefeito de Curitiba aposta em pacote de obras e padrinho político para reeleição

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

O prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB), aposta nas obras de asfalto, viaduto, creches, na promessa da primeira linha de metrô e na popularidade de seu padrinho político, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), para vencer seu maior desafio na tentativa de reeleição ao cargo –o fato de que ser pouco conhecido do eleitorado.

Ducci assumiu o cargo há dois anos, no lugar de Beto Richa (PSDB), que deixou o posto para concorrer e vencer a disputa ao governo do Paraná.

O atual prefeito de Curitiba venceu sua primeira eleição, em 2002. Conseguiu uma vaga na Assembleia Legislativa. Dois anos depois, entrou na chapa de Richa como vice à prefeitura. Cumpriu o primeiro mandato.

A dobradinha foi reeditada, em 2008, e a dupla voltou a vencer para o Executivo municipal, com 77% dos votos válidos.

Ducci tem motivos para acelerar suas obras. Seus dois maiores adversários e nomes certos na urna eletrônica em outubro, o ex-deputado federal Gustavo Fruet (PDT) e o deputado federal Ratinho Junior (PSC), têm aparecido na frente do prefeito, embora em empate técnico, em pesquisas divulgadas no final do ano passado, pelo jornal Gazeta do Povo.

Dependendo dos cenários, Fruet  tem 20,3% a 28,5% das intenções de voto, Ratinho Júnior 18,9% a 27,7% e Ducci 16,3% a  22,7%. A margem de erro da pesquisa realizada pelo Instituto Paraná de Pesquisas, por encomenda do jornal, é de 3,5% pontos percentuais.

Padrinho político

“Estamos fazendo obras de acordo com os recursos da cidade, e graças a parcerias com os governos estadual e federal temos possibilidade de avançar nesse ritmo”, disse Ducci. “Não é por conta das eleições que vamos deixar de fazer obras, como a oposição quer”, afirmou o prefeito.

Richa já deu mostras de como pretende conduzir o processo de reeleição de seu apadrinhado político.

“Pretendo participar, sim [da campanha de Ducci]. Minha primeira responsabilidade é governar o Estado, mas vamos tentar conciliar momentos para fazer campanha para Luciano Ducci”, afirmou o governador depois de participar, na segunda-feira (26), do lançamento da obra de revitalização de seis importantes vias da cidade – que incluem uma no Centro e três que cortam bairros nobres da capital.

A solenidade, que reuniu líderes comunitários e empresariais, vereadores, deputados estaduais e federais, teve longos discursos do prefeito e do governador, em tom de campanha eleitoral.

Até julho, prazo final para que candidatos participem da inauguração de obras, Ducci deve entregar 18 creches, autorizar obras de impacto, como um viaduto estaiado sobre a Avenida das Torres --principal acesso ao aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais--, e a licitação da primeira linha do metrô de Curitiba.

No último sábado (24), Richa e Ducci cortaram e serviram um bolo gigante que abriu as comemorações pelos 319 anos de Curitiba, no Parque Barigui.

Segunda-feira (26), além do anúncio de asfalto novo em seis vias, avisaram que começariam a construção da nova sede do Instituto Médico Legal. Na quinta-feira (29), aniversário da capital, inauguraram o Hospital do Idoso Zilda Arns e uma unidade de saúde no Pinheirinho, na região sul da cidade.

Para o cientista político Adriano Codato, professor-adjunto da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o hábito de deixar investimentos para o último ano não é novo. “Os políticos agem racionalmente, guardam dinheiro para fazer obras e dar aumentos, o famoso pacote de bondades, no último ano, num cálculo eleitoral. Até aí, nenhuma surpresa. O que é curioso é que eles sempre neguem isso, como se todos fôssemos todos bobos”,afirmou.

Oposição

As ações de Ducci tem colocado a oposição em uma saia justa. Com medo de parecer estar contra obras consideradas importantes pela população, Fruet  e Ratinho Junior reclamam, mas já avisaram. Não vão acionar a Justiça.

“Por enquanto, não pretendo tomar nenhuma atitude”, afirmou Fruet. “Todo o planejamento é feito a curto prazo,com vistas às eleições”, declarou Ratinho Junior.

Asfalto

Há cerca de um mês, a prefeitura anunciou a Operação Asfalto Novo, que pretende asfaltar 950 ruas da cidade, num total de 597km. É cinco vezes mais que o realizado desde 2009, segundo levantamento feito pela oposição na Câmara de Curitiba.

No período, a prefeitura asfaltou 362,5km de vias pela cidade –125,5km em 2009, quando Richa ainda era prefeito, 133 km em 2010 (ano em que o atual governador renunciou à prefeitura para concorrer ao cargo) e mais 30km no ano passado.

Funcionalismo

O pacote de bondades no ano que tenta ficar no cargo até 2016 não se restringe a obras. Com fama de ruidosos, os servidores públicos já não têm do que reclamar. 

Em 29 de fevereiro, Ducci anunciou reajuste de 10% nos salários dos 44 mil servidores da prefeitura da ativa, aposentados e pensionistas.

O índice é quatro pontos percentuais maior que a inflação acumulada até a data-base do funcionalismo municipal. Segundo a prefeitura informou em texto divulgado na época, trata-se do “maior reajuste concedido aos servidores desde o Plano Real”.

O aumento foge da tendência observada nos anos anteriores da gestão Ducci/Richa, em que os vencimentos dos servidores tiveram apenas as perdas com a inflação repostas. Tais reajustes foram de 6,5% (2009), 5% (2010) e 6,5% (2011).

Falta de transparência

Na sexta-feira passada (23), o UOL pediu à prefeitura dados oficiais sobre obras, aumentos salariais do funcionalismo e gastos com propaganda.

Quinta-feira (28), a reportagem enviou à asserssoria de imprensa da administração números fornecidos pela oposição. Sexta-feira (30), a prefeitura informou que não forneceria os dados solicitados, mas não desmentiu os dados extra-oficiais.

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