Desde que uma mulher votou pela primeira vez na história moderna, há cerca de um século, a maioria dos países do mundo incorporou o direito das mulheres de participarem de eleições em condições formais de igualdade com os homens. Ainda hoje, no entanto, a presença de homens no poder é mais do que cinco vezes maior do que a de mulheres.
“As mulheres continuam subrepresentadas em parlamentos nacionais, nos quais apenas 17% das cadeiras, em média, são ocupadas por mulheres. A participação de mulheres nos ministérios também está em 17%, em média”, afirma o relatório da ONU “The World’s Women 2010”, publicado no último mês.
Essa participação é ainda menor quando se consideram os cargos máximos de direção política: chefia de governo e chefia de Estado. De acordo com levantamento do UOL Notícias, há pelo menos 19 mulheres ocupando tais cargos atualmente (veja quem são elas). Se considerarmos apenas as 191 nações reconhecidas pela ONU, as mulheres ocupam os cargos máximos em cerca 10% dos casos.
Subrepresentação nos parlamentos
O documento da ONU aponta que é possível observar melhora lenta na última década, mas que a paridade de gêneros nos parlamentos – um dos principais critérios de igualdade de gênero na política – ainda está distante.
Os países mais avançados neste tema, nos quais as mulheres representam mais de 40% do parlamento, são Argentina, Cuba, Finlândia, Islândia, Holanda, África do Sul e Suécia.
O único caso do mundo no qual as mulheres são maioria parlamentar é Ruanda, onde houve uma política deliberada de estimular a presença feminina na política como parte dos esforços de recuperação do Estado depois do genocídio de 1994. A Constituição do país garante mínimo de 30% parlamentares mulheres, e as eleições de 2008 montaram o parlamento atual com 45 mulheres e 35 homens.
“As dificuldades de combinar vida familiar, trabalho e política continua um obstáculo grave para mulheres interessadas em um cargo político. Entre os desafios políticos que as mulheres enfrentam estão predominantemente a dominância de um ‘modelo masculino’ de vida política e falta de apoio dos partidos”, avalia o relatório.
Avanço em outras áreas, atraso na política
O “Global Gender Gap Report 2010”, relatório do Fórum Econômico Mundial também publicado no último mês, reitera que a participação das mulheres é baixa, mas coloca mais peso nesse dado ao concluir que em outras áreas a desigualdade de gênero está a caminho de ser superada.
O estudo analisa as diferenças entre homens e mulheres dentro de quatro grandes áreas: condições de saúde, acesso à educação, oportunidade econômica e poder político, e estabelece para cada caso um ranking de zero (maior desigualdade) a um (maior igualdade).
Os dados conjuntos dos 134 países analisados mostram que o índice geral para “saúde” ficou em 0,96, e “educação” registrou resultado 0,93. A diferença é marcante, no entanto, quando se olha para participação econômica, oportunidades de trabalho e rendimentos financeiros, cujo resultado global foi 0,59.
O resultado mais desigual das quatro áreas foi obtido justamente na representação política. Ao medir a relação entre mulheres e homens em altos cargos dos poderes executivo e legislativo, o relatório indica um índice geral de 0,18.
De acordo com o mesmo relatório, o poder político é predominantemente masculino mesmo entre os três países com menor desigualdade de gênero no mundo: Islândia, Noruega e Finlândia.
Na outra ponta do ranking, nas piores colocações ficaram Iêmen, Chade e Paquistão, considerados os lugares do mundo nos quais as mulheres possuem as mais desiguais condições de vida.