21/06/2010 - 18h12

Sabatina: especialistas elogiam Serra, mas criticam discurso centrado em SP

Andréia Martins
Do UOL Eleições
Em São Paulo

Segundo presidenciável a participar da sabatina promovida pela Folha de S.Paulo e UOL, o candidato José Serra (PSDB) se mostrou seguro e soube usar a sabatina para expor suas opiniões com clareza e firmeza, segundo especialistas que acompanharam a entrevista. A crítica fica por conta do discurso tido por eles como regionalizado, muito centrado nos assuntos de São Paulo.



“Claro que o que dá credenciais para ele é a boa avaliação em São Paulo, de quando foi prefeito e governador. Mas ele tem que adotar um discurso que tenha repercussão nacional. Por exemplo, ao comparar o Bolsa Família com o que ele fez com o Bilhete único é um discurso muito paulista, desconhecido do resto do eleitorado", diz o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-RJ. "Ele tem que falar mais das realizações à frente do Ministério da Saúde, como fez no programa de TV do PSDB, que destacou isso muito bem".

Para Ismael, a frase que mais define a postura de Serra na entrevista é “trabalhar muito e fazer as coisas direito”. Na opinião do professor, a frase resume o posicionamento e a imagem que o tucano vai tentar passar para o eleitor. “Você sabe que é uma pessoa que vai perseguir o objetivo de maneira exaustiva, é alguém de muita persistência e que não dá espaço para corrupção”, diz Ismael.

Outra vantagem que o tucano fez questão de reforçar, na opinião de Ismael, são suas credenciais como administrador e governante, colocando em cheque a experiência da adversária. “Ele bate na tecla de que ela [Dilma] tem experiência administrativa dentro do poder executivo, mas pouca experiência parlamentar, nas relações com os partidos políticos e principalmente nas decisões de governo”, diz.

O cientista político Carlos Melo, do Insper, acompanhou a entrevisa ao vivo no Teatro Folha e considerou o desempenho de Serra bom. "O candidato estava tranqüilo, colocou com coragem sua opinião sobre a união entre casais do mesmo sexo, a adoção. Foi um debate positivo, bem útil para o eleitor", comenta.

Para Melo, a repetição do “eu fiz”, dito diversas vezes por Serra durante a sabatina ao falar de suas realizações, é uma forma de firmar a sua marca pessoal. “Mostra que ele quer ser reconhecido pelo que fez”.

Sinal verde para aliança com PV

Para os cientistas políticos, ficou clara a intenção de Serra de contar com o apoio da candidata Marina Silva (PV) em um eventual segundo turno entre ele a candidata petista.

Antes da sabatina, Melo comentou que, para Marina subir em um palanque, seria preciso haver uma sinalização dos candidatos e uma conversa sobre participação no plano de governo. Para Ismael, foi o que Serra fez.

“Ele até se intitulou de ambientalista. Deu toda a sinalização de que pode trazer nomes do PV para o seu governo e disse não ver incompatibilidade entre sustentabilidade e crescimento econômico”, diz o professor da PUC-RJ.

Para Ismael, Serra mostrou que reconhece as conquistas do governo Lula na área social, na educação e na saúde, tanto que propõe melhorar o que está feito, com a intenção de "retirar a imagem de opositor e mostrar ser o candidato do avanço", como ele mesmo se autodefiniu, e que não teme falar de temas polêmicos como união civil entre casais gays, mudanças na área econômica e privatizações.

“Isso [participar de debates e expor sua opinião] pode ser um diferencial em relação à Dilma. Ele se posiciona mais, diz o que pensa. A vida inteira ele e Marina estão acostumados a isso [falar em público]. Essa participação em debates é um diferencial que vai se colocar agora. Quem perde é ela [Dilma]", afirma Ismael.

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