A intensa disputa entre PT e PSDB pela Presidência da República terminou para muitos paulistas regada a sol, cerveja e água de coco. As praias do Guarujá, no litoral de São Paulo, estavam cheias neste domingo de eleição e de feriado prolongado.
"O sol foi mais forte do que a Dilma e o Serra juntos e me fez ficar na praia", contou o auditor Eduardo Zottini, 29, que desceu a serra na sexta-feira e pretendia voltar hoje para votar em Jundiaí, no interior do Estado. O amigo dele Gustavo Barros, 30, explicou: "Ficamos. E sem nenhum peso na consciência, porque eles não têm peso na consciência na hora de roubar. Então a gente também não tem de não dar voto para eles".
Nas seções eleitorais do Guarujá, a procura pela justificativa foi maior do que no primeiro turno e houve filas. "Até 15h30, foram feitas 310 justificativas. Isso porque a seção nem fechou ainda. No primeiro turno, foram cerca de 100", explicou Yeda Maria Salgado, responsável por uma delas.
Descrença
Para muitos turistas do balneário paulista, aproveitar o feriado na praia também foi uma maneira de fugir da uma votação pouco entusiasmada. "O povo está desacreditado com a política. Eu vim para praia, porque ia votar nulo mesmo, então não faria muita diferença", disse o estudante Bruno Machado, 22. Segundo ele, entre seus amigos "apenas um ou outro é engajado e deixaria de viajar para votar".
"Anota aí: a gente está na praia porque a descrença é muito grande", fez questão de ressaltar o casal Elias e Denise Dimitriades, que estava na praia da Enseada.
Assim como eles, a maioria das pessoas entrevistas pelo UOL Notícias pretendia justificar o voto neste segundo turno. Daiane Maciel, 21, explicou que prefere divertir-se com os filhos, brincando na areia, a votar. "Quem vencer, venceu", disse ela, sem muito entusiasmo. "Eu não me interesso muito por política, não. Acho que não muda muita coisa", completou o dentista André Craveiro, 38, que também acompanhava os filhos na praia do Guarujá.
Mais para frente, um grupo de garotas aproveitava o sol também sem qualquer peso na consciência por ter deixado de participar do pleito. "Não me sinto mal, porque infelizmente o Serra não vai ganhar e não vai ser porque eu não dei o meu voto", afirmou a advogada Mariana Coelho, 32.
"Eu não trocaria a praia pela eleição, mas acho que a Dilma vai ganhar porque os eleitores do Serra estão todos aqui na praia", comentou, rindo, a administradora de empresas Andrea Pereira, 39.
A impressão de que a eleição no meio do feriado prejudicou o candidato do PSDB parecia ser consenso entre os banhistas. "Eu voto no Serra e acho que teve armação, porque quem vota na Dilma são as pessoas de classe baixa. E grande parte dessas pessoas não viaja. Enquanto que os que votam no Serra estão se divertindo por todo o Brasil, né?", analisou o engenheiro Jadiel Beigo, 25.
"Com certeza o governo programou isso para favorecer a Dilma", defendeu a advogada Leila Amaral, 41, que viajou de Sorocaba para o Guarujá e optou por não votar. "A praia e a paisagem estão bem melhor que as eleições", justificou o amigo dela Reginaldo de Camargo, 32.
Engajados
Os descrentes, os desinteressados e os desconfiados também dividiam a areia com grupos mais engajados.
"Chegamos sexta-feira, vamos subir hoje à tarde para votar, depois a gente volta", explicou o estudante Caio Torjan, 20, que estava na praia da Enseada com mais cinco jovens. "Temos que exercer nossa cidadania, porque se a gente não fizer o mínimo, que é votar, não vai poder reclamar depois. São só quatro horinhas do feriado que vão decidir quem vai reger o país pelos próximos quatro anos", ressaltou, recebendo o apoio dos amigos. Todos ali faziam questão de votar.
O movimento no sistema Anchieta-Imigrantes, que faz a ligação da capital com o litoral, estava intenso na manhã deste domingo. Muita gente preferiu votar logo cedo para só depois viajar para aproveitar o feriado na praia.
"Cinco minutos anos da seção abrir, eu já estava na porta esperando para votar", disse Gilcema Cordeiro do Nascimento, 42, que estava indo para Itanhaém. Ela se surpreendeu com a quantidade de pessoas que tiveram a mesma ideia que ela. "Tinha bastante gente, achei que não ia ter ninguém votando".
Aos 75 anos, o aposentado Aloízio Araújo também levantou cedo para garantir o voto na Dilma antes de seguir para a Praia Grande. "Na minha idade não precisa mais, mas eu faço questão de votar. Vai dar 13", afirmou, animado.
"Primeiro, o compromisso cívico. Depois, a praia", resumiu o médico Jacinto Quadros Júnior, 60, que foi voltar por volta de 8h e depois desceu para Bertioga.
Um grupo de vinte jovens também se preparava para descer a serra depois de ter cumprido seu papel. "É muito ruim ter que perder parte do feriado, mas não quero que a mulher assuma", lamentou o estudante Rodolfo Sales, 19, referindo-se à candidata do PT. "Tem que ter consciência", completou a amiga dele Flávia Queiróz, 20, enquanto um carro lotado de garotos buzinava e os apressava para pegar logo a estrada.
Outra que não quis justificar o voto foi a professora Érica Bertoni, 35, que viajava para Mongaguá. "É nosso direito. Acho que estava disputado e meu voto vai ser importante para eleger a Dilma", disse.
Decidir entre votar ou justificar foi até motivo de discórdia entre familiares. "Meu candidato é o Serra. Votei porque não quero que a Dilma ganhe", contou, entusiasmada, a engenheira Telma Setti, 55. "Já eu, sou a ovelha negra da família, que vai lavar os pratos porque não foi votar", brincou a irmã Beth Setti, 60.