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Papo Preto #7: Autoestima e processo de aceitação

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

21/10/2020 04h00

Você se aceita como realmente é? Todo jovem negro tem um processo muito duro para se aceitar, por milhares de motivos complexos. Esse é o assunto do sétimo episódio do Papo Preto, que recebe participantes do coletivo Black on Black, que trabalha em cima do processo de aceitação e valorização de jovens negros.

O assunto pode parecer banal para muitos jovens que constroem sua autoestima vendo sua identidade valorizada em meios como internet e televisão. Mas os relatos de Nando Black, Marcos RB, Madu Silva, Vitória e Lucas Loures deixam claro que a questão é complexa e cheia de nuances. Todos eles dizem que o processo de autoaceitação foi difícil e que, no coletivo, vivenciam esse aprendizado.

Um dos pontos fundamentais e mais dolorosos é a recorrência com que crianças e jovens negros se descobrem negros pela via da discriminação. Ou seja: ao serem alvo de racismo, são informados, de maneira altamente deturpada, sobre sua identidade. "Se descobrem negros através do preconceito, através das discriminações, através da caminhada", diz o apresentado Yago Rodrigues (a partir de 1:55 do arquivo acima).

Entre outras coisas, isso faz com que jovens negros possam ter problemas com sua própria aparência. Ideia que é constantemente reforçada por atitudes racistas e falta de representatividade. "Eu não gostava muito dos meus traços, né? O cabelo, o nariz. Falei para mim uma vez: quando eu fizer 18 anos, vou fazer uma cirurgia plástica no nariz para diminuir um pouco", conta Lucas (a partir de 5:15 do arquivo acima). Mas a autoaceitação chegou antes. "Aí quando fiz 15 anos, já tinha me aceitado como negro".

O cabelo é um tema constante. "Sempre tive uma questão - que eu hoje sei o que é, mas que eu chamava de complexo de inferioridade - de nunca me achar bonita, desde criança", diz Madu (a partir de 9:02 do arquivo acima). Ela conta que desde cerca de 7 anos, sentia a necessidade de alisar o cabelo. A mãe só permitiu aos 11, ainda uma criança. "Essa situação com meu cabelo foi uma coisa que demorou muito para chegar até onde é hoje. Mesmo quando entrei pro coletivo, eu odiava volume. Tinha o cabelo natural, mas não conseguia usar pente garfo, não conseguia armar". Hoje, ama o cabelão.

Obviamente, isso impacta os relacionamentos. "Comecei a namorar ou ficar com algumas meninas depois que de ficar mais velho, porque quando era pequenininho já fui muito humilhado, era muita zoação. Foi um processo dolorido. Até chegar no coletivo, foi doído", conta Marcos (a partir de 11:13 do arquivo acima).

A rejeição é sentida tanto pelos meninos quanto pelas meninas. Quando tinha 14 anos, Vitória gostava de um menino de sua classe. "Sempre gostei muito dele, sabe, admirava ele de todas as formas. Ele sabia, todo mundo sabia. Só que ele não gostava de mim". Porém, esse "não gostar" era mais do que isso. "Um dia, ele chegou com uma revista e me mostrou uma menina loira, branca. E disse: 'se você fosse assim que nem ela, eu ia querer você. Mas olha para você'. Aquilo me destruiu", afirma (a partir de 33:54 do arquivo acima).

O podcast Papo Preto vai ao ar sempre às quartas-feiras e é produzido pelo Alma Preta, uma agência de jornalismo com temáticas sociais, em parceria com o UOL Plural, um projeto colaborativo entre o UOL e coletivos independentes.

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