Planeta em colapso? 22 dos 34 sinais vitais da Terra estão no vermelho

O novo relatório Estado do Clima 2025, publicado na revista científica BioScience, alerta que 22 dos 34 "sinais vitais" do planeta estão em estado crítico, o maior número já registrado desde o início da série histórica. Segundo os autores, o mundo caminha para um "colapso ambiental sistêmico" se não houver ação imediata.

O que aconteceu

A Terra ultrapassa os limites seguros de aquecimento e estabilidade climática. O ano de 2023 foi o mais quente já registrado, com temperatura média 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, segundo a BioScience.

O padrão continuou em 2024, impulsionado por emissões recordes de CO2 (dióxido de carbono) e pelo El Niño. A Live Science destaca que esse aumento coincidiu com as maiores anomalias térmicas oceânicas da história, com áreas do Atlântico Norte até 5°C acima da média.

Oceanos entram em colapso térmico e químico, tornando-se fontes de calor e carbono. A temperatura média da superfície marítima global atingiu 21,1 °C, um recorde histórico. A BioScience alerta que a acidificação ameaça corais e ecossistemas costeiros, enquanto dados da Nature Climate Change mostram que o degelo e o acúmulo de calor estão reduzindo a capacidade dos oceanos de armazenar carbono, o que pode acelerar o aquecimento em até 30% nas próximas décadas.

Florestas tropicais perdem força e se aproximam do ponto de não retorno. O desmatamento da Amazônia e de outros biomas tropicais continua em ritmo acelerado, reduzindo a absorção natural de CO2. A BioScience aponta que o bioma amazônico já opera perto de um ponto crítico de colapso, podendo se transformar parcialmente em savana. Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que, entre agosto de 2023 e julho de 2024, a Amazônia perdeu 9.000 km² de floresta — o equivalente a seis vezes a área da cidade de São Paulo.

Derretimento polar acelera e ameaça comunidades costeiras em todo o mundo. A cobertura de gelo no Ártico e na Antártida atingiu mínimos históricos, segundo a BioScience. O NASA Earth Observatory registrou que, em 2024, o volume de gelo do mar antártico ficou 2,4 milhões de km² abaixo da média, a maior perda desde o início das medições por satélite, em 1979. O relatório aponta que o derretimento, antes sazonal, se tornou estrutural e irreversível em algumas regiões.

A piora do clima está no consumo humano e o uso de energia exacerbado diante da emergência climática. O relatório Global Carbon Budget 2024 mostra que o planeta emitiu 40,9 bilhões de toneladas de CO2 em 2023, o maior valor da história. Apesar dos avanços em energias renováveis, os cientistas alertam que o ritmo de corte das emissões segue insuficiente para frear a dependência global de petróleo e gás.

Quais são os sinais vitais em vermelho

  1. Temperatura média da superfície global;
  2. Calor oceânico acumulado;
  3. Temperatura média dos oceanos;
  4. Concentração atmosférica de CO2;
  5. Emissões globais de CO2;
  6. Emissões de metano (CH4);
  7. Emissões de óxido nitroso (N2O);
  8. Consumo de energia fóssil;
  9. Subsídios a combustíveis fósseis;
  10. Perda de cobertura florestal;
  11. Taxa de incêndios florestais;
  12. Perda de gelo no Ártico;
  13. Perda de gelo na Antártida;
  14. Derretimento de geleiras;
  15. Nível médio do mar;
  16. Acidificação dos oceanos;
  17. Perda de biodiversidade;
  18. População humana;
  19. População de gado;
  20. Consumo de carne per capita;
  21. PIB global;
  22. Consumo global de recursos.
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Os sinais com estabilidade ou leve melhora:

  1. Uso de energia renovável;
  2. Financiamento de energias renováveis;
  3. Investimentos em tecnologias limpas;
  4. Taxa de reflorestamento e restauração;
  5. Captura de peixes selvagens;
  6. Produção agrícola;
  7. Acordos climáticos internacionais;
  8. Compromissos nacionais de neutralidade de carbono (NDCs);
  9. Esforços de comunicação pública e educação climática;
  10. Geração de resíduos sólidos;
  11. Transporte aéreo;
  12. Taxas locais de restauração de ecossistemas.

Como reverter a crise

Cientistas pedem o fim imediato dos subsídios aos combustíveis fósseis. A coalizão internacional de cientistas responsável pelo estudo publicado na BioScience estima que governos ainda destinam cerca de US$ 7 trilhões anuais para petróleo, carvão e gás e defende redirecionar esses recursos para energias limpas e políticas de adaptação climática.

O foco deve ser a rápida descarbonização para que estabilizemos o aquecimento abaixo de níveis perigosos.
Michael Mann, coautor do relatório e diretor do Centro Penn para Ciência, Sustentabilidade e Mídia, à Live Science

Economia global precisa abandonar o crescimento a qualquer custo. Os autores defendem uma transição para modelos de "bem-estar sustentável", priorizando indicadores de saúde, educação e equidade em vez do PIB. "A busca infinita por crescimento é incompatível com a estabilidade do planeta", afirmam os pesquisadores.

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Preservar e restaurar ecossistemas é ação central para estabilizar o clima. O recomendado é restaurar florestas, pântanos e manguezais — ecossistemas capazes de capturar grandes volumes de carbono — e interromper o desmatamento até 2030.

Transformar o sistema alimentar pode reduzir até 30% das emissões globais. O relatório aponta o consumo de carne bovina e o desperdício de alimentos como principais alvos, e propõe mudanças na dieta global e incentivos à agricultura regenerativa.

Cientistas recomendam comunicar a crise como uma emergência civilizacional. Os autores pedem que governos e veículos de imprensa tratem a mudança climática como "ameaça existencial imediata", exigindo respostas coordenadas, transparentes e urgentes.

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