Momento é ruim, mas radicalismo diminuiu, diz líder da indústria sobre COP

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Potências que passaram a refutar o discurso sustentável, disputa fiscal internacional, guerras de grandes proporções. O segundo semestre de 2025 está longe de ser o momento mais propício para fazer o debate sobre o clima, mas, curiosamente, o ambiente global instável ajudou a reduzir o radicalismo e a favorecer o diálogo para a COP30. É como vê Ricardo Mussa, presidente da SB COP, órgão da indústria voltado a discussões climáticas.
O que aconteceu
Criada no ano passado, a SB COP é o braço independente da indústria para participar dos debates na cúpula do clima. Ex-executivo-chefe da Raízen, Mussa assumiu a organização em janeiro e tem dialogado com confederações de indústria e comércio do mundo inteiro para reunir as demandas do setor sobre sustentabilidade. SB é sigla de "sustainable business" ("negócios sustentáveis").
"Nível de pragmatismo aumentou", diz Mussa, que tem rodado o globo debatendo a pauta sustentável. "O receio de um momento muito ruim para a discussão atrai aquela empresa que [pensa]: 'Agora a coisa está mais séria'. Porque estão dando voz para aquilo que faz mais sentido. Então, por incrível que pareça, achei que o radicalismo diminuiu. Tem um pouco mais de tentativa de se chegar [a consensos]."
Até agora, 57 líderes mundiais confirmaram presença para a cúpula dos chefes de Estado, mas muitos outros não vêm. Refratário ao discurso climático, o presidente norte-americano, Donald Trump, que tem melhorado a relação com o presidente Lula (PT), deixou claro que não virá ao Pará. Ao reassumir o cargo neste ano, ele retirou novamente os EUA do Acordo de Paris, que prevê metas de redução das emissões de carbono causadoras do efeito estufa.
O presidente da Argentina, Javier Miliei, tampouco deve viajar a Belém. Para os debates do clima, a partir da semana que vem, 170 países já confirmaram o envio de negociadores, mas a presidência da COP30 diz esperar que todos os 198 compareçam.
É um momento muito difícil, mas eu acho que a gente está numa tendência muito boa. Essa é a hora também que separa o joio do trigo: os melhores projetos [de desenvolvimento sustentável] ficam, e eles ganham até mais força do que antes, porque você tem uma concorrência menor pelo capital para aqueles bons projetos.
Ricardo Mussa, presidente da SB COP
Em busca de bons exemplos
Grande parte do trabalho de Mussa à frente da SB COP é exatamente procurar boas práticas. Durante todo o ano, em coordenação com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), Mussa ouviu propostas de diferentes países —divididas em oito setores— sobre como a iniciativa privada pode contribuir para o debate. Assim, reuniu exemplos que já dão certo pelo globo.
As propostas foram compiladas em um documento entregue à presidência da COP30, e os exemplos serão exibidos no espaço da CNI na Zona Azul da cúpula. "Fiquei até mais empolgado com os casos do que com as recomendações. Porque o caso você não tem como contestar, entendeu? O que a gente [da SB COP] fez foi entender por que aquele caso deu certo. Por que a política pública era bem desenvolvida? [Como foi o] financiamento?"
Entre 1.300 iniciativas enviadas, 48 foram selecionadas para serem expostas. Como critério para conquistar um espaço no estande em Belém, era preciso que as medidas já tivessem sido implementadas, apresentassem resultados palpáveis e, ao mesmo tempo, tivessem retorno financeiro. "[O exemplo] tem que ser escalável e replicável. Tem que ter impacto e tem que ser reconhecido", explica Mussa.
Ele usa o exemplo da Vale na Floresta Nacional dos Carajás (PA). A empresa, frequentemente criticada no meio sustentável após o rompimento da barragem em Mariana (MG), recebeu a concessão de exploração de uma área de 800 mil hectares na Amazônia paraense em 1984, ao final da ditadura militar. De lá até 2023, segundo dados próprios conferidos pela SB COP, a empresa havia desmatado cerca de 3% para a exploração de ferro e cobre e preservado os outros 97%. No mesmo período, a região vizinha, fora da concessão, sofreu desmatamento de 77% da área.
É um movimento que a própria CNI tem tentado mostrar. "Como mais de 80% das emissões do mundo estão no setor privado, essa é a COP com maior abertura à participação do setor privado", diz, em elogio à presidência do embaixador André Corrêa do Lago e da relação com o governo federal. Parte da indústria brasileira, no entanto, segue refratária ao assunto.
Mas não posso passar a mensagem equivocada: o momento é um momento ruim. Eu preferia ter uma COP num momento melhor aqui no Brasil, mas, dado que infelizmente não tem como mudar, tem que correr atrás para resolver.
Ricardo Mussa, presidente da SB COP



























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