Brasil tem maior queda em emissões de gases de efeito estufa em 16 anos

As emissões brutas de gases de efeito estufa no Brasil caíram 16,7% em 2024, a maior redução anual desde 2009, impulsionadas principalmente pela forte queda do desmatamento na Amazônia. O dado faz parte do novo relatório do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima), lançado hoje, às vésperas da COP30, que será realizada em Belém.

O que aconteceu

As emissões brutas de gases de efeito estufa do Brasil ficaram em 2,145 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e) em 2024, contra 2,576 GtCO2e em 2023. A queda de emissões recoloca o país em trajetória compatível com as metas do Acordo de Paris.

Emissões líquidas, que descontam a absorção de carbono por florestas e áreas protegidas, caíram 22%, para 1,489 bilhão de toneladas. Ainda assim, o Brasil deve ficar abaixo da meta da NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada), que previa 1,32 bilhão em 2025. Segundo projeção do SEEG, o país chegará ao fim do ano com 1,44 bilhão, 9% acima do limite prometido.

A queda foi puxada pela retomada do controle do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. As emissões por mudança de uso da terra, que englobam o desmate, recuaram 32,5% em 2024, resultado das ações de comando e controle reforçadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Apesar disso, o setor ainda responde por 42% das emissões nacionais, seguido por agropecuária (29%), energia (20%), resíduos (5%) e processos industriais (4%).

Desafio é manter o ritmo de queda e diversificar a descarbonização, que sempre esteve focada na redução do desmatamento. "A capacidade do controle de desmatamento de entregar cortes de emissão está batendo no teto", explica David Tsai, coordenador do SEEG. "Precisamos zerar a devastação até 2030, como prometeu o presidente Lula, e mantê-la zerada - mas também vamos precisar reduzir a energia e a agropecuária." Segundo Tsai, a NDC de 2030, cuja meta é um teto de emissões de 1,2 bilhão de toneladas, ainda pode ser cumprida e excedida, mas, para isso, será preciso priorizar outros setores.

Agropecuária e energia continuam áreas significativas em emissões. A pecuária segue como a maior fonte de poluição climática, responsável, direta e indiretamente, por 51% das emissões brutas do país. O rebanho bovino ficou estável, mas o "arroto" do boi continua emitindo metano em grande escala. "Se fosse um país, o boi brasileiro seria o sétimo maior emissor do mundo, ligeiramente à frente do Japão (1,068 GtCO2e). Em seguida, vem a agricultura (397 MtCO2e, ou 19% do total)", aponta o relatório. Já o setor de energia registrou leve alta (0,8%), contida pelo recorde no uso de etanol e biodiesel. O consumo de álcool atingiu o recorde histórico no ano passado, sem aumento de emissões e com aumento da quilometragem.

Relatório alerta para o aumento de queimadas não relacionadas ao desmatamento. O documento mostra que, embora o desmate tenha diminuído, o país enfrentou em 2024 o maior número de queimadas de sua história. No entanto, esse dado não é informado pelo Brasil no seu inventário de emissões. Se fosse, as emissões líquidas praticamente dobrariam.

Estamos vendo um descolamento entre esses dois processos que normalmente andam juntos, o fogo e o desmatamento. Isso é um sinal de que a mudança do clima já pode estar interferindo perigosamente nas florestas.
Bárbara Zimbres, pesquisadora do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), responsável pelos cálculos do SEEG no setor de uso da terra

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