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Como ganhar dinheiro protegendo florestas: entenda o negócio dos REDD+

Projeto pioneiro de REDD+ foi iniciado no Cerrado, um dos biomas mais devastados do país Imagem: André Dib/WWF Brasil/Divulgação

Rone Carvalho

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

15/10/2025 05h30

Criado por organizações da sociedade civil, acadêmicos e governos durante as cúpulas do clima da ONU — as COPs — realizadas entre 2003 e 2010, o REDD+ busca recompensar financeiramente países, empresas e pessoas físicas que evitam o desmatamento e a degradação de suas florestas.

Na prática, o sistema funciona da seguinte forma: uma vez comprovado que determinada área florestal permanece protegida por ações do proprietário, são gerados créditos de carbono — instrumentos econômicos criados para precificar e reduzir as emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa). Esses créditos podem ser comercializados pelo próprio proprietário, que passa a ser remunerado pela conservação que promove.

Desde seu surgimento, o REDD+ passou por diferentes atualizações.

Em 2005, era intitulado RED, sigla para Redução das Emissões por Desmatamento, considerando apenas a diminuição do desmatamento. Em 2007, passou a chamar-se REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação), incorporando também a redução da degradação.

Já em 2010, o mecanismo evoluiu e passou a abranger atividades de conservação e manejo sustentável de florestas, sendo então denominado REDD+ (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação, e aumento de estoques de carbono florestal).

"O REDD+ amplia o escopo ao incluir conservação de estoques, manejo sustentável e aumento de estoques de carbono", explica Gabriela Sampaio, gerente do PPCC (Programa de Políticas Públicas em Clima e Conservação) da FAS (Fundação Amazonas Sustentável).

Projeto no Cerrado

No Brasil, grande parte dos projetos de REDD+ tem como foco a Floresta Amazônica. No entanto, um projeto pioneiro de REDD+ foi iniciado no Cerrado - um dos biomas mais devastados do país.

Desenvolvido pelas Reservas Votorantim, em parceria com a Companhia Brasileira de Alumínio e as consultorias Ecosystem Regeneration Associates e ECCON Soluções Ambientais, o REDD+ Cerrado tem capacidade de emitir cerca de 50 mil créditos por ano. Para o desenvolvimento da iniciativa, foram selecionados 11,5 mil hectares de vegetação com alto grau de conservação, dentro do Legado Verdes do Cerrado.

A partir do mapeamento detalhado da área e da aplicação da metodologia, o projeto foi submetido à Verra — uma das maiores certificadoras internacionais —, que viabiliza a certificação, o registro e a emissão dos créditos de carbono.

"Na primeira emissão, referente ao período de 2017 a 2021, foram gerados 316 mil créditos de carbono equivalente", conta Tatiana Motta, coordenadora de projetos da Reservas Votorantim.

Além de gerar renda para os proprietários, o projeto REDD+ Cerrado garantiu a preservação da vegetação nativa, essencial para a manutenção da biodiversidade local, incluindo espécies de animais ameaçados de extinção, como a onça-preta, o cachorro-vinagre e o tamanduá-bandeira.

A conservação da vegetação nativa também promoveu a proteção dos recursos hídricos, por meio da preservação das nascentes de três rios — Peixe, São Bento e Traíras —, de onde é captada toda a água para o abastecimento público de Niquelândia (GO), além das margens do Lago da Serra da Mesa.

"Esse serviço ecossistêmico, aliás, é ainda mais importante no Cerrado brasileiro, considerado a 'Caixa D'água do Brasil', por ser o berço de nascentes de oito das doze grandes bacias hidrográficas do país", ressalta Tatiana Motta.

Requisitos

De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, para que seja considerado válido, o país onde o projeto de REDD+ está sendo adotado deve, primeiro, estabelecer uma estratégia nacional que identifique as causas do desmatamento e da degradação, além de definir ações de mitigação.

"O Brasil publicou a Estratégia Nacional de REDD+ em 2016, com três linhas de ação: (1) Sistema de Informações sobre as Salvaguardas de REDD+; (2) Monitoramento, Relato e Verificação; e (3) Captação de Recursos de Pagamento por Resultados de REDD+ e Distribuição de Benefícios", conta Andrea Azevedo, vice-presidente da Emergent no Brasil, uma organização sem fins lucrativos que atua como intermediadora de transações de créditos de carbono.

Também é necessário haver um sistema de monitoramento florestal. No Brasil, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais cumpre esse papel, especialmente por meio do PRODES (Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite).

"Além das etapas sob responsabilidade do poder público, há aquelas exigidas pelas certificadoras dos créditos de carbono. Cada uma possui seus próprios critérios, mas, de forma geral, exigem que sejam comprovadas: performance, ou seja, efetiva redução do desmatamento e da degradação, bem como aumento do estoque de carbono florestal; ferramentas de monitoramento, relatório e verificação; e respeito às salvaguardas socioambientais", explica Andrea Azevedo.

Além disso, é fundamental observar se o projeto não está gerando deslocamento do desmatamento. Isso porque a proteção de uma área pode levar ao aumento do desmatamento em regiões vizinhas não monitoradas, anulando os benefícios climáticos.

Também é necessário estar atento a possíveis problemas de governança e transparência. A falta de clareza sobre quem são os beneficiários, como os recursos são distribuídos e como os resultados são monitorados pode gerar conflitos e desconfiança.

"É importante considerar, na escolha do projeto, além da construção colaborativa da iniciativa junto às comunidades e órgãos gestores, a prioridade para territórios sob pressão de desmatamento, com potencial de redução adicional, presença de organizações comunitárias e governança territorial ativa", diz Gabriela Sampaio, da FAS (Fundação Amazonas Sustentável).

Apoio essencial

Especialistas defendem que os projetos de REDD+ são um importante mecanismo para o Brasil atingir a meta de desmatamento zero até 2030. "Considerando que o propósito é zerar o desmatamento, o objetivo final do REDD+ é ele deixar de existir", diz Andrea Azevedo, da Emergent no Brasil.

As empresas privadas, por sua vez, ao comprarem créditos de carbono de alta integridade, conseguem avançar em suas metas de sustentabilidade e neutralidade climática, enquanto trabalham também para reduzir suas próprias emissões diretas.

"Isso é especialmente importante porque muitos setores ainda não conseguem eliminar totalmente suas emissões. Assim, os créditos de carbono funcionam como uma solução de transição, permitindo que as empresas caminhem rumo ao 'net zero', ao mesmo tempo em que investem na descarbonização de suas operações internas", afirma Azevedo.

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