Sem hotéis, embaixadas alugam imóveis e até prédios inteiros para a COP30
Augusto Pinheiro
Colaboração para Ecoa, em Belém
10/10/2025 05h30
Com a falta de vagas em hotéis em Belém (PA), embaixadas de diversos países estão recorrendo a corretores da capital paraense para alugar apartamentos para suas delegações. A preferência é por imóveis no mesmo prédio.
"O perfil desses clientes é de médio para alto padrão, então eles buscam imóveis de excelente qualidade", conta a corretora Giselle Robledo, que está atendendo 14 embaixadas, entre elas China, Noruega, Dinamarca, Canadá, Finlândia e Armênia.
Ela revela que muitas embaixadas reduziram suas delegações por conta dos valores elevados da hospedagem na cidade. "Da Armênia, por exemplo, viriam 60 pessoas, mas agora só vêm 30."
A primeira embaixada atendida por Giselle foi da Dinamarca, por meio de um amigo seu, que é cônsul dos Países Baixos. "A partir daí, a embaixada me indicou para outras e assim sucessivamente." A média do valor das diárias cobrado pela corretora é de R$ 10 mil para um apartamento de três quartos.
"No prédio onde moro, aluguei o meu apartamento por R$ 12 mil a diária, além de mais quatro", revela Giselle. O imóvel da corretora tem 90 m², três quartos, sendo uma suíte, com ar-condicionado e sacada, em um edifício com área de lazer completa, com piscina, academia, quadra, salão de jogos e área gourmet.
Giselle teve que trocar as camas de casal em cada quarto por duas de solteiro para poder acomodar seis pessoas. Ela também ofereceu serviço de café da manhã e limpeza à parte, por US$ 100 por dia.
No período da COP, Giselle irá, com o marido e os filhos, para a casa do sogro, na cidade costeira de Salinópolis, a 214 km de Belém.
Já a China, segundo ela, está procurando dez apartamentos no mesmo prédio, dos quais ela já conseguiu sete. Esses aluguéis só são possíveis porque os moradores estão saindo de suas casas para faturar um dinheiro extra durante a COP.
A estratégia usada por Giselle para conseguir apartamentos no mesmo prédio é contatar o síndico dos edifícios. "Peço para ele colocar um aviso no grupo de WhatsApp do condomínio sobre a possibilidade de alugar o imóvel para a COP 30. Em retorno, pagamos 10% do valor do aluguel para o síndico", explica.
A adesão dos moradores tem sido alta. "É uma oportunidade de ganhar uma boa quantia. Há pessoas que tinham débitos altos e conseguiram quitá-los. Há outras que estão usando o dinheiro para viajar", afirma a corretora.
Giselle criou uma cartilha para os proprietários sobre como preparar o apartamento. Há orientações sobre os tons e a quantidade da roupa de cama e banho, a qualidade do colchão, os itens que devem colocar nos banheiros e limpeza e pintura, entre outros. Também informa sobre a obrigação de instalar uma fechadura eletrônica na porta de entrada do apartamento.
A corretora conta que, com os aluguéis para as embaixadas, vai faturar no período da COP o que apenas conseguiria juntar em três anos de trabalho. Ela já conseguiu alugar 60 apartamentos e cobra 20% de comissão.
Aluguel de prédio inteiro
A corretora alugou todo o prédio do empresário Yorann Costa, com 24 apartamentos, para a delegação de um único país europeu, que prefere não divulgar.
"Vou receber pelo período o que levaria três anos para ganhar. Mas não posso revelar o valor por conta do contrato", diz Costa.
O edifício de seis andares, no bairro da Pedreira, fica a cerca de 4 km do Parque da Cidade, local de realização da COP. Os apartamentos têm dois quartos, mas o empresário fez uma adaptação na sala para alojar uma pessoa a mais. "Coloquei um sofá-cama e cortinas, a pedido deles, para que essa pessoa tenha mais privacidade", conta. Então serão três hóspedes por apartamento.
Os imóveis, quatro por andar, são todos mobiliados e têm um único banheiro, cozinha americana - equipada com todos os utensílios - e uma sacada. Há ar-condicionado em todos os cômodos, wifi e TV a cabo. Na garagem, há uma vaga para cada apartamento.
"Eu fui um dos primeiros a fechar contrato com uma delegação de um único país, em abril deste ano, no dia do meu aniversário. Acredito que mais de 50% da comitiva vão ficar no meu prédio", diz.
O empresário conta que, na primeira oferta que fez à delegação, ele ofereceu café da manhã, camareira, serviço de van e segurança, entre outros serviços. "Porém, em uma espécie de barganha, eles resolveram tirar tudo e pegar somente a hospedagem. Mas, posteriormente, houve um aditivo no contrato, em que eles fecharam por fora comigo as camareiras e o enxoval."
O prédio conta com porteiro 24 horas, e a delegação não solicitou serviço de segurança. "Eles optaram por entrar em contato, se não me falha a memória, com a prefeitura para disponibilizar algumas viaturas no local."
Não há áreas comuns, além da recepção. Na cobertura, há um spa, que aluga o espaço e atende o público externo. Ele continuará funcionando durante o período da COP, porém com restrições. "Por medida de segurança, vai funcionar apenas até as 18h, e os clientes não poderão circular livremente pelo prédio. Um funcionário meu vai acompanhar o cliente até o spa e buscá-lo na saída", explica.
Para alugar todo o seu prédio, o empresário não renovou o contrato dos inquilinos que moravam lá. "Quando saiu o anúncio da COP 30, nós nos programamos com um ano de antecedência. Em setembro, 90% dos apartamentos estavam livres. Eu digo 90% porque apareceram alguns amigos que tiveram problema para renovar contrato, mas garantiram que sairiam este mês para que a gente possa fazer melhorias."
Essas obras estão sendo realizadas já com o dinheiro do aluguel da delegação do país europeu. "A gente está reformando todo o edifício, dos pés à cabeça, com pintura da recepção, da garagem e de todos os apartamentos, compra de cofres, de utensílios de cozinha e de luminárias, entre outras melhorias. Sobra um dinheiro bom, mas, quando a gente coloca na ponta do lápis, não é tão bom assim. Porque eu paguei comissão para a corretora que me ajudou a alugar."
Motel adaptado
Costa também é proprietário do Motel Secreto, no bairro do Marco, que ele adaptou para hospedar pessoas durante a COP30, retirando os elementos eróticos. A ideia também era alugar todo o estabelecimento para uma única delegação.
"Ainda estou tentando, mas as coisas mudaram bastante de abril para cá, começando pelas delegações. Muitas delas reduziram drasticamente a quantidade de pessoas que irão participar da COP, como a China", pondera. "Uma alternativa seria alugar para mais de uma delegação."
O motel possui 33 apartamentos, divididos em três categorias: loft (40 m²), flat (70 m²) e premium (80 m²), esta com dois andares, sauna, banheira de hidromassagem, mesa com cadeiras, zona de "pole dance" com sofá e uma claraboia com entrada de luz natural.
O empresário estipulou o valor das diárias entre US$ 400 e US$ 750 por pessoa. "Eu montei um projeto e tenho compartilhado com as delegações, em que eu ofereço a possibilidade de colocar um beliche ou treliche em cada apartamento, que só tem cama de casal."