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Como um ex-ministro de Lula pretende levar o agro para dentro da COP30

Roberto Rodrigues, enviado especial da Agricultura para a COP30, em evento na CNA Imagem: Wenderson Araujo/Trilux

Do UOL, em Brasília

05/10/2025 05h30

Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura do primeiro mandato de Lula (PT), vai ter uma missão desafiadora na COP30: ser o porta-voz do setor agrícola para a maior cúpula internacional do clima do planeta.

O que aconteceu

Rodrigues foi escolhido como enviado especial por Lula. Homem de confiança do presidente, com quem até hoje tem boa relação, ele foi escalado em 2003 pelo ex-vice-presidente José Alencar (PL), morto em 2011, para aproximar o agro do governo recém-eleito. À época, o petista sofria resistência do setor por sua ligação histórica com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

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O ex-ministro é lembrado até hoje pelo presidente como o homem que fez essa ponte. Ao deixar o governo, em 2006, no início do segundo mandato, ele já havia estabelecido uma ligação que durou durante todo o Lula 2 e só foi quebrada mais recentemente, após a adesão da imensa maioria dos produtores rurais ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Não por acaso, seu nome voltou a ser sondado em 2022. Tido como alguém que circula em diversos meios, Rodrigues foi escalado por Lula para quebrar mais uma vez o muro que havia sido reerguido entre o setor e o então candidato. O empresário chegou a fazer ligações, marcar almoços e facilitar entradas, mas se negou a voltar ao governo.

Agora, seu desafio é fazer o mesmo na COP. Ele foi escolhido no final do ano passado exatamente por essa qualidade, dizem membros do governo: conseguir articular propostas do agronegócio, que, em sua maioria, olha para a conferência com desconfiança, com os debates propostos na cúpula, cujos interlocutores retribuem o olhar do setor com viés semelhante.

Tentar a paz entre agro e COP

Os diálogos já começaram. A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) elaborou um documento extenso com propostas do setor que se encaixariam nas iniciativas de desenvolvimento sustentável que tanto devem ser debatidas em Belém no mês que vem, em especial na busca por diminuir a produção de CO2 e a dependência de combustíveis fósseis.

Rodrigues foi chamado a um evento da confederação para receber o documento no final do mês passado. Na presença dos diretores das filiais de quase todos os estados do país, o ex-ministro ouviu do presidente da CNA, João Martins, que não é conhecido por sua simpatia por Lula, que as propostas só estavam sendo elaboradas e entregues a alguém do governo porque este representante era ele.

"Se você não estivesse lá, o presidente da CNA não estaria aqui para entregar oficialmente o nosso trabalho", disse Martins. "Eu estou falando isso por uma razão muito simples: querem brincar com o brasileiro, querem brincar com o prato rural brasileiro. Não entenderam ainda que a agricultura no Brasil é uma atividade inata, uma atividade que o Brasil, pelas condições climáticas, pelo solo e pelo clima, tem todas as condições de ser um grande fornecedor de alimento do mundo. Não entenderam ainda que nós não precisamos desmatar nada, que a irregularidade é feita pela marginalidade e não pelos produtores", cutucou.

Rodrigues se mostrou ciente do desafio. Apenas com o senador Zequinha Marinho (PL-PA), oposicionista, presente, sem ninguém do governo, ele fez uma fala bem-humorada, política e apaziguadora. Elogiou tanto o setor, no qual trabalhou a vida inteira, quanto o governo, Lula e o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago.

Rodrigues prometeu defender o agro no evento. "Nós vamos colocar, na parte final do nosso texto, uma reclamação da instituição brasileira, doutor João Martins, de que o agro brasileiro deseja que as leis sejam cumpridas. Porque o desmantelamento, como foi dito, não é de agricultor, invasão de terra não é de agricultor, incêndio não é de agricultor", ponderou.

Sua promessa é preparar um documento único. Além do texto da CNA, ele tem ouvido representantes de outros setores produtivos do agro, como Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e cooperativas, para chegar a um consenso. "Eu fui ministro, sei como é: vêm dez pedidos diferentes. Na unanimidade da demanda, você não atende ninguém e ninguém pode reclamar. Então, o meu esforço todo é tentar levar um documento que integre as visões."

Com isso, passa o recado de que os posicionamentos do governo também serão mantidos. "Temos muito o que fazer, e vamos fazer. Nós temos problemas: desmatamento ilegal, invasão de terra, incêndio criminoso. carimbo clandestino, nós temos leis que não são cumpridas", reclamou.

O enviado deverá fazer duas apresentações na cúpula com este documento final. O objetivo é dar sugestões aos negociadores brasileiros para serem apresentadas nos debates. As propostas da CNA, por exemplo, vão de "transição justa" a simplificação do acesso ao financiamento com bancos.

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