Área queimada no Brasil em 2024 supera média histórica em 62%

A área queimada no Brasil em 2024 superou em 62% a média histórica, de acordo com a primeira edição do Relatório Anual do Fogo do MapBiomas divulgado hoje. O levantamento, que mapeou dados entre 1985 e 2024, revela que 30 milhões de hectares foram afetados por incêndios no último ano e que 206 milhões de hectares foram afetados pelo fogo na últimas quatro décadas.

O que aconteceu?

24% do território nacional queimou pelo menos uma vez entre 1985 e 2024. Os dados também ressaltam a extensão da área queimada em 2024, quando 30 milhões de hectares foram afetados, uma área 62% acima da média histórica de 18,5 milhões de hectares por ano.

Quase metade das queimadas desde 1985 ocorreu na última década. De 1985 a 2024, 206 milhões de hectares queimaram pelo menos uma vez no Brasil. O relatório mostra que 43% de toda a área queimada no Brasil desde 1985 teve sua última ocorrência de fogo nos últimos 10 anos (2014 a 2023).

Cerrado e Amazônia concentram 86% das queimadas. Entre 1985 e 2024, os dois biomas somaram juntos mais de 177 milhões de hectares queimados. Apesar de áreas semelhantes, a Amazônia teve menor proporção relativa, por ser mais extensa. Mato Grosso, Pará e Maranhão, nos dois biomas, lideram entre os estados com maior área queimada acumulada.

Pantanal lidera em proporção. O Pantanal teve 62% de seu território afetado por queimadas no período analisado, sendo que 72% da área atingida pelo fogo queimou pelo menos 2 vezes. Em 2024, houve aumento de 157% da área queimada em relação à média histórica. Quase 20% das queimadas no bioma foram em áreas superiores a 100 mil hectares, com destaque para Corumbá (MS), município com maior área queimada acumulada desde 1985.

Amazônia bate recorde histórico em 2024. Com 15,6 milhões de hectares queimados, a Amazônia teve a maior área afetada por fogo em um único ano desde 1985, um aumento de 117% em relação à média histórica. Essa área correspondeu a 52% de toda área nacional afetada pelo fogo em 2024, tornando a Amazônia como o principal epicentro do fogo no Brasil no ano passado. Pela primeira vez, a vegetação florestal (43%) superou as pastagens (33,7%) como cobertura mais atingida. Os incêndios na região são atribuídos à seca severa e ao uso humano do fogo.

Mata Atlântica também registra pior ano da série histórica. O bioma teve 1,2 milhão de hectares queimados em 2024, 261% acima da média histórica. A maioria das áreas queimadas se localiza em zonas agrícolas, especialmente no entorno de Ribeirão Preto (SP).

Cerrado mantém recorrência e amplia queima de florestas. Responsável por 35% da área queimada no Brasil em 2024, o Cerrado teve 10,6 milhões de hectares atingidos, 10% acima da média. O bioma é o mais recorrente: mais de 3,7 milhões de hectares queimaram mais de 16 vezes em 40 anos. O avanço das queimadas sobre formações florestais preocupa os pesquisadores.

Historicamente, o Cerrado evoluiu com a presença de fogo natural, geralmente provocado por raios durante o início da estação chuvosa. No entanto, o que temos observado é um aumento expressivo dos incêndios no período de seca, impulsionado principalmente por atividades humanas e agravado pelas mudanças climáticas. Um dado especialmente preocupante é o avanço do fogo sobre as formações florestais no Cerrado, que em 2024 atingiram a maior extensão queimada dos últimos sete anos — uma mudança na dinâmica do fogo que ameaça de forma crescente a biodiversidade e a resiliência desse bioma. Vera Arruda pesquisadora do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora técnica do MapBiomas Fogo

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2024 tem aumento nos megaeventos e mudança na vegetação atingida. Quase 30% da área queimada no país em 2024 ocorreu em grandes incêndios com mais de 100 mil hectares. Houve também uma mudança de padrão: historicamente, as formações savânicas eram as mais atingidas. Em 2024, as formações florestais foram as mais afetadas, com 7,7 milhões de hectares queimados.

Queimadas na Caatinga e no Pampa ficaram abaixo da média. A Caatinga teve redução de 16% na área queimada em 2024, com 404 mil hectares afetados. No Pampa, houve redução de 48%, influenciado pelas chuvas do El Niño.

Quem fez o levantamento

O MapBiomas é uma iniciativa colaborativa que reúne universidades, ONGs e empresas de tecnologia para monitorar mudanças no uso da terra no Brasil, monitoramento mensal da superfície de água e das cicatrizes de fogo com dados desde 1985. Com foco na conservação e no uso sustentável dos recursos naturais, a plataforma oferece dados públicos e gratuitos, sendo referência mundial em mapeamento ambiental. A rede também atua em outros 13 países e desenvolve projetos como o MapBiomas Alerta, que valida e detalha alertas de desmatamento com imagens de satélite e cruzamento de dados geográficos.

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