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Mangueiras centenárias de Belém viram 'bombas-relógio'

O Ford Ka vermelho de Edson Milhomen (à direita na foto) foi destruído por uma mangueira no bairro Nazaré Imagem: Arquivo pessoal

Luciana Cavalcante

Colaboração para Ecoa, de Belém

12/02/2025 05h33

Centenárias e em péssimas condições de conservação devido a fatores climáticos e urbanização desordenada, as mangueiras do centro de Belém tornaram-se verdadeiras "bombas-relógio" devido ao risco de queda. A Secretaria de Meio Ambiente mapeou trezentas com risco, que varia de médio a grave, sendo que 130 delas precisam de manutenção imediata, e 30 serão removidas.

O que aconteceu

Belém sofre com queda de árvores. Doze mangueiras já caíram em Belém dentre 9 de janeiro e 3 de fevereiro, a maioria durante as fortes chuvas do inverno amazônico. Neste ano, o Corpo de Bombeiros recebeu 101 chamados de quedas de árvores, tanto em áreas públicas, particulares e militares.

Perigo e prejuízos para a população. Moradores ficam preocupados com quedas constantes, especialmente na área central. O empresário Edson Milhomen conta que teve seu carro, um Ford Ka, destruído por uma mangueira no bairro Nazaré em 24 de janeiro. "A árvore ficou atravessada no carro e só sobrou o motor. Como não tenho seguro, tive que vender para o ferro velho porque já estava sendo saqueado", lamentou. O risco de queda da mangueira chegou a ser comunicado para a Secretaria do Meio Ambiente, mas a manutenção não chegou a tempo.

Estudo analisa saúde das árvores. Desde 2020, o GEBPS (Grupo de Estudo de Biodiversidade de Plantas Superiores), da UFRA (Universidade Federal Rural da Amazônia), realiza um levantamento sobre as mangueiras de Belém. Até o momento, três bairros do centro foram mapeados: Nazaré, que concentra a maior quantidade, com 887 árvores, além de Reduto e Fátima. O coordenador do GEBPS, Cândido Neto, diz que foram identificadas entre 120 e 180 árvores com diferentes riscos, e que entre 40% e 60% delas apresentam risco de queda. Ele ressaltou que o bairro de Nazaré é o mais preocupante devido à presença de árvores mais antigas.

Prefeitura monta força-tarefa. Diante do aumento de ocorrências e da previsão do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) de chuvas em todos os dias de fevereiro, a Secretaria de Meio Ambiente organizou uma força-tarefa para a realização dos serviços. O prefeito Igor Normando (MDB) explicou que, além da manutenção regular, a ação emergencial envolve o triplo de equipes de trabalho. Segundo ele, mais de 300 árvores foram mapeadas, sendo que 30 serão removidas devido ao risco iminente de queda. Além disso, afirmou que mais de cem passarão por poda para evitar novos incidentes e que, a partir dessas medidas, a manutenção contínua ajudaria a prevenir futuras quedas.

Soluções para o futuro. Árvores removidas serão substituídas por espécies menores da mangueira. Normando afirma que Belém é uma das capitais com menor área urbana verde preservada e que sua gestão quer que a cidade volte a ser a capital da Amazônia. Com a realização da COP30 neste ano, o prefeito ressaltou a importância de dar o exemplo, incluindo a resolução de problemas históricos da cidade. Para ele, Belém precisa ser uma cidade arborizada, contribuindo tanto para o meio ambiente quanto para o enfrentamento das mudanças climáticas.

Polêmica sobre a falta de manutenção. A assessoria do ex-prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) nega abandono da manutenção, que foi apontado pelo prefeito atual. A equipe de Rodrigues afirma que o contrato com empresa terceirizada foi encerrado em outubro de 2024, após a poda de 800 árvores. Sua gestão anterior lançou o aplicativo Amazônia em Belém para mapeamento e diagnóstico das áreas verdes.

Belém é conhecida como a Cidade das Mangueiras Imagem: Divulgação/Daniel Vilhena/Alepa

Contexto

História das mangueiras em Belém. O intendente Antônio Lemos foi responsável pela expansão das mangueiras nas vias públicas de Belém no final do século 19. As árvores deram à cidade o título de "Cidade das Mangueiras" e são consideradas Patrimônio Histórico pelo município. No entanto, o cescimento urbano tornou o ambiente inadequado para seu desenvolvimento saudável. Na capital que vai sediar a COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), em novembro, as quedas dessas árvores é comum no período chuvoso e vem se agravando com o processo de urbanização, a falta de manutenção adequada e o envelhecimento.

Pavimentação causou problemas para árvores. Com o crescimento da cidade, o espaço foi se tornando inviável para a saúde das árvores, explica Cândido Neto. De acordo com ele, inicialmente, o plantio teve um efeito positivo para o conforto térmico, mas as mangueiras, que podem atingir até 20 metros de altura, foram colocadas em espaços restritos, sem sustentação adequada para as raízes. Além disso, durante o processo de pavimentação, o bloqueio do espaço ao redor da base das árvores, onde ficam as raízes superficiais, comprometeu o desenvolvimento das raízes, impedindo que crescessem de forma ideal.

Raízes alagadas apodrecem. O especialista explica que, além de restringir o espaço, a pavimentação faz com que a água se acumule sob as raízes. Com o solo constantemente alagado, elas acabam apodrecendo ao longo dos anos. Ele acrescenta que a poda inadequada contribui para que as árvores atinjam grandes alturas sem a sustentação necessária.

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