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Cidades vivem 'boom' de ratos: há um culpado por trás disso (e pode piorar)

Colaboração para Ecoa

07/02/2025 05h30

Muito comuns em grandes cidades ao redor do mundo, os ratos têm enfrentado um fator importante que pode impactar sua sobrevivência e sua distribuição: as mudanças climáticas. Um novo estudo sobre ratos urbanos busca entender por qual motivo algumas metrópoles estão mais "infestadas" do que outras, e qual é o papel das alterações do clima na busca do animal por um novo habitat.

O que aconteceu

Uma nova pesquisa sobre populações de ratos urbanos reacendeu o debate sobre a infestação do roedor em diferentes localidades. Liderada por Jonathan Richardson, professor de biologia da Universidade de Richmond (EUA), a pesquisa analisa como as populações de ratos nas grandes cidades mudaram ao longo do tempo. "Os ratos urbanos são pragas comensais que prosperam nas cidades, explorando os recursos que acompanham grandes populações humanas", relata o estudo.

O especialista se dedicou ao estudo por acreditar não haver dados suficientes sobre o tema para determinar um resultado que pudesse ser útil às autoridades. Segundo um artigo publicado no portal especializado Science na última sexta-feira (31), Richardson estava "incomodado" com rumores de que os ratos haviam tomado conta de diversas cidades espalhadas pelo mundo. "Ter números reais sobre infestações de roedores é fundamental para determinar se as medidas de controle estão funcionando [nessas cidades]", explica o portal.

Para sua pesquisa, Richardson coletou dados de diversas cidades. A análise foi elaborada a partir de dados de reclamações públicas e inspeções de 16 cidades ao redor do mundo para estimar eventuais tendências nas populações de ratos. "Onze das 16 cidades (69%) tiveram tendências crescentes significativas no número de ratos, incluindo Washington D.C., Nova York e Amsterdã [Holanda]", explica o estudo. Além da população de ratos, foram coletados os registros da temperatura média, da população humana e de tendências de desenvolvimento imobiliário na região.

O papel das alterações climáticas na população dos ratos

Segundo o estudo, as alterações climáticas surgiram como um fator "impulsionador" das populações de ratos urbanos. À medida que as temperaturas sobem gradativamente e as pessoas migram para áreas urbanas, convertendo espaços anteriormente "verdes" em bairros e centros comerciais, o cenário se torna ideal para a multiplicação dos ratos.

Temperaturas mais altas do que a média, vistas inclusive nas épocas mais frias do ano, aumentam o tempo que os ratos passam na superfície em busca de comida. Mais tempo em busca de comida, conhecido como forrageamento, pode levar ao aumento dos ciclos reprodutivos do animal, segundo Richardson. O resultado seria um ciclo desenfreado de multiplicação dos ratos.

As cidades que experimentaram maiores aumentos de temperatura ao longo do tempo tiveram aumentos maiores no número de ratos. Cidades com populações humanas mais densas e mais urbanização também registraram aumentos maiores no número de ratos. O aumento das temperaturas e de pessoas que vivem nas cidades pode estar expandindo os períodos de atividade sazonal e a disponibilidade de alimentos para os ratos urbanos.
Trecho do estudo divulgado no portal Science Advances

A infestação de ratos pode causar danos à saúde pública e a sensação de insegurança por parte da população. O potencial de transmitir doenças como a leptospirose faz com que os ratos sejam temidos ao redor do mundo. Os animais podem, ainda, estragar alimentos e rações para animais, danificar estruturas e consumir produtos agrícolas —custando uma fortuna aos cofres públicos norte-americanos: segundo o estudo, o governo do país gasta US$ 27 bilhões anualmente (quase R$ 157 bilhões conforme cotação atual) no controle dos danos causados pelos ratos.

Os resultados da pesquisa podem direcionar as autoridades para políticas públicas eficazes contra a infestação de ratos em grandes cidades. Nova Orleans, nos EUA, foi uma das poucas cidades que apresentou um declínio da população de ratos. Segundo a Science, a cidade "tem uma vigorosa campanha de educação pública sobre como manter os ratos fora das casas, das empresas e do lixo e incentiva os residentes a convocarem avistamentos de ratos para que as autoridades possam livrar-se deles antes que o seu número exploda".

Rato marrom (Rattus norvegicus) em parque na Inglaterra; espécie é citada no estudo como presente em quase todo o globo terrestre, com exceção somente da Antártida Imagem: AnemoneProjectors/Wikimedia Commons

De acordo com dados da Orkin, empresa de controle de pragas, Chicago lidera o ranking de cidades com maior número de ratos nos Estados Unidos pelo décimo ano consecutivo. Completando o top 3, estão Los Angeles e Nova York. "A abundância de becos de Chicago oferece aos roedores refúgios escondidos, oferecendo muito espaço para se esconderem enquanto se deliciam com o lixo. Os roedores também adoram cavar, encontrando abrigo sob os trilhos do metrô ou ao redor de tubulações subterrâneas. Nestes locais escondidos, a população de roedores pode crescer se não for controlada", diz o relatório elaborado pela empresa em relação a 2024.

Segundo o estudo, as grandes cidades terão que integrar os impactos biológicos provocados pelas alterações climáticas. "Identificar tendências de longo prazo no número de ratos e como eles são moldados pelas mudanças ambientais é fundamental para compreender a sua ecologia e projetar vulnerabilidades futuras e necessidades de mitigação", conclui a pesquisa.

O aquecimento climático a longo prazo está acontecendo em boa parte do planeta. Prevê-se que o aquecimento seja mais intenso nas cidades, onde o efeito de ilha de calor urbana já produz temperaturas mais elevadas do que nas zonas rurais circundantes. [...] Prevê-se que as áreas urbanas do norte da América do Norte, do sul e centro da Europa e do Médio Oriente registrem aumentos mais rápidos da temperatura, o que pode fazer com que as cidades destas regiões experimentem tendências diferentes no número de ratos ao longo do tempo, e em conflitos entre humanos e ratos
Trecho do estudo

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