Mergulhadores retiram bicicleta, geladeira e até fogão de rios em SP

Pescadores subaquáticos estão se reunindo para realizar a limpeza de rios no interior de São Paulo. As ações, que já aconteceram em sete municípios do noroeste do estado, retiraram aproximadamente 30 toneladas de lixo dos rios Grande e Tietê.

Flávio Leal, um dos idealizadores do Projeto Rio Limpo, diz que a ideia de realizar a limpeza do fundo dos rios começou de forma despretensiosa em 2017. "Somos um grupo de amigos praticantes de pesca subaquática e em nossas pescarias sempre retirávamos o lixo que encontrávamos no fundo dos rios", conta.

"Como durante a piracema [período em que há proibição da pesca de peixes para garantir a reprodução das espécies] nós não podemos pescar, resolvemos nos reunir com foco na retirada desse lixo do fundo e margens dos rios", completa.

A primeira ação do grupo foi realizada em 2017. Desde então, o projeto realizou a limpeza de trechos do rio Tietê nos municípios de Ubarana, Adolfo, Mendonça, Buritama, Sales e Novo Horizonte; e no trecho do rio Grande, no município de Mira Estrela, todos no estado de São Paulo.

Como funciona

Os trabalhos de limpeza acontecem aos finais de semana e contam com cerca de 50 voluntários. Mergulhadores que praticam a pesca subaquática junto com barqueiros e familiares se dividem em grupos nos trechos do rio Grande e Tietê para a ação de limpeza.

Priscila Alves Lopes e Flávio Garcia Leal, mergulhadores que participam do Projeto Rio Limpo
Priscila Alves Lopes e Flávio Garcia Leal, mergulhadores que participam do Projeto Rio Limpo Imagem: Divulgação

Enquanto pescadores subaquáticos mergulham até o fundo do rio em busca de lixo, outros voluntários ficam na embarcação armazenando os objetos encontrados. Em seguida, tudo é levado para as margens dos rios, onde os objetos são encaminhados para o Poder Público realizar o descarte correto.

Durante a ação, outros grupos de voluntários fazem o trabalho de limpeza das margens do rio, onde o descarte de lixo também é comum.

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"Normalmente, damos uma atenção especial para os lugares em que sabemos que há uma concentração maior de pescadores e onde são montados acampamentos. Nesses locais é comum encontrarmos latinha de alumínio e garrafa pet", diz Flávio.

Fabrício Lombardi, um dos mergulhadores que participa do projeto, explica que, diferentemente do que a maioria das pessoas acredita, durante todo o trabalho voluntário, o grupo não utiliza aparelhos de respiração artificial para mergulhar.

No Brasil, a Portaria do Ibama nº 1.583 de 1989, estabelece que na pesca subaquática é vedado o emprego de aparelhos de respiração artificial, podendo ser utilizados apenas quando tratar-se da prática de mergulho destinado à pesquisa ou fotografia subaquática.

"Assim, todo o trabalho de mergulho é feito somente por quem tem experiência. Quem não é mergulhador também ajuda, mas na embarcação ou recolhendo os objetos às margens do rio", explica Fabrício.

O que já encontraram

Parte dos objetos retirados do fundo rio Tietê durante uma das ações do Projeto Rio Limpo
Parte dos objetos retirados do fundo rio Tietê durante uma das ações do Projeto Rio Limpo Imagem: Arquivo pessoal

Na lista dos objetos já encontrados pelos voluntários no fundo dos rios durante as ações de limpeza estão bicicleta, geladeira e até uma cadeira de cabeleireiro. Mas eles não são os únicos.

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Em 2018, durante uma das primeiras ações do grupo no trecho do rio Tietê, em Ubarana (SP), o grupo encontrou uma enguia presa em uma garrafa pet. Na época, o peixe foi resgatado e devolvido pelos voluntários para o habitat.

Em outra ação realizada no trecho do rio Tietê, em Pereira Barreto (SP), os mergulhadores encontraram um cofre. O objeto que estava estourado no fundo do rio foi retirado com ajuda de uma máquina retroescavadeira, sendo descartado em um local correto.

"É impressionante o que as pessoas jogam no rio. Já tiramos fogões, geladeiras, vaso sanitário, motor de moto, bicicletas e até cadeira de cabeleireiro. Todos esses objetos demoram anos para se decompor", diz Flávio Leal.

Também é comum durante as ações, os voluntários encontrarem latinha de alumínio, pneus, garrafas pet e restos de rede - essas últimas aprisionam muitas espécies, impossibilitando sua reprodução.

"Desde quando começamos, realizamos ações de limpeza em vários trechos do noroeste do estado de São Paulo dos rios Grande e Tietê. O mais impressionante é que, ao retornarmos para o mesmo local um ano depois da limpeza, voltamos a encontrar muito lixo. Ou seja, é necessária uma conscientização da população sobre o descarte correto", ressalta Flávio.

Ideia se espalha

Outro grupo que tem realizado trabalhos de limpeza nos rios do interior de São Paulo é a Associação Amigos do Rio Grande. Presidida por Tobias Lemes, a associação realizou em janeiro deste ano, uma ação de limpeza no trecho do rio Grande, na divisa de São Paulo e Minas Gerais, entre Itapagipe (MG) e Orindiúva (SP).

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"Diferentemente do rio Tietê, nesse trecho do rio Grande a água costuma ser mais escura. Com isso, costumamos focar nossa ação nas margens, onde também há uma grande concentração de lixo", diz Lemes.

O grupo chegou a retirar cerca de duas toneladas de lixo das margens do rio. "Começamos a ação às 8h e somente fomos parar por volta do meio-dia. Se ficássemos o dia todo, com certeza, pegaria muito mais lixo", falou Lemes.

Durante o trabalho voluntário, o grupo encontrou tambores de plástico, latinhas de cerveja, garrafas pet, cadeiras, pneus e até um cocho para gado.

Flávio Garcia Leal, um dos idealizadores do Projeto Rio Limpo, retirando parte dos objetos encontrados no fundo do rio Tietê
Flávio Garcia Leal, um dos idealizadores do Projeto Rio Limpo, retirando parte dos objetos encontrados no fundo do rio Tietê Imagem: Arquivo pessoal

Todo material recolhido foi repassado para o Município de Itapagipe (MG), que ficou responsável pelo descarte correto do material.
Para o capitão Luiz Octávio Cavalheiro do 4º Batalhão da Polícia Ambiental do Estado de São Paulo, a iniciativa dos voluntários é louvável e deve ser incentivada. Mas os voluntários precisam tomar alguns cuidados.

"Uma infração durante a piracema não se dá apenas no ato da pesca subaquática em si, mas se o pescador tiver equipamentos de pesca subaquática na embarcação, como arpão, pode ser autuado", alerta Cavalheiro.

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"E o mergulho deve sempre ser realizado por quem tem experiência e qualificação para isso", completa o capitão.

Até o final da piracema - final de fevereiro - o grupo planeja novas ações de limpeza. "Inclusive já temos cidades esperando a ação", conta Flávio Leal.

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