Incêndios no Pantanal ficam 40% mais intensos com mudanças climáticas

Os incêndios no Pantanal ficaram 40% mais intensos devido às mudanças climáticas, aponta um estudo da WWA (World Weather Attribution), uma rede internacional de cientistas do clima. As condições quentes, secas e de vento causadas pelo aquecimento global tornaram as queimadas de quatro a cinco vezes mais prováveis.

"Os incêndios deste ano no Pantanal têm o potencial de se tornarem os piores de todos. Esperam-se condições ainda mais quentes ao longo deste mês e dos próximos meses, e há uma ameaça considerável de que os incêndios possam queimar mais de três milhões de hectares", diz Filippe Lemos Maia Santos, um dos cientistas envolvidos no estudo, em nota divulgada pelo WWA.

"Infelizmente, incêndios massivos estão se tornando uma nova normalidade no Pantanal. A área do pântano submersa por águas de inundação está diminuindo à medida que as temperaturas aumentam, tornando a vegetação muito mais seca e inflamável", completa.

O aumento no risco de incêndios é resultado principalmente do aumento das temperaturas e da diminuição da precipitação e da umidade relativa. Antes das mudanças climáticas, condições similares para incêndios em junho eram raríssimas, ocorrendo uma vez a cada 160 anos. Agora, essas condições são esperadas a cada 35 anos.

Se o aquecimento global chegar a 2°C acima dos níveis pré-industriais, essas condições serão 17% mais intensas e ocorrerão com cerca de duas vezes mais frequência. A pesquisa mostra que a substituição dos combustíveis fósseis por fontes de energia renováveis e a redução do desmatamento são essenciais para minimizar o risco de incêndios florestais.

"À medida que as emissões de combustíveis fósseis aquecem o clima, o pântano está esquentando, secando e se transformando em um barril de pólvora. Isso significa que pequenos incêndios podem rapidamente se transformar em devastadores, independentemente de como são iniciados", afirma Clair Barnes, pesquisadora da Imperial College London, que também participou do estudo.

Impactos devastadores

Em junho, o fogo queimou aproximadamente 440 mil hectares do Pantanal, quebrando o recorde anterior de 257 mil hectares. No total, mais de 1,2 milhão de hectares foram queimados até agora, cerca de 8% do bioma do Pantanal brasileiro.

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Os incêndios começaram no final de maio, mais cedo que o comum, após uma temporada de chuvas extremamente seca. O pico da temporada de incêndios normalmente ocorre em agosto e setembro.

O bioma é um hotspot de biodiversidade, lar de espécies ameaçadas como onças e lobos-guarás. É provável que os incêndios deste ano já tenham matado milhões de animais - um estudo de 2021 estima que 17 milhões de vertebrados morreram em 2020 devido aos incêndios no Pantanal, quando 3,9 milhões de hectares foram queimados.

O estudo da WWA foi conduzido por 18 pesquisadores de diversas universidades e agências meteorológicas no Brasil, Portugal, Estados Unidos, Suécia, Países Baixos e Reino Unido. Os pesquisadores analisaram dados e modelos climáticos usando métodos revisados por pares para comparar como esses tipos de eventos mudaram entre o clima atual, com aproximadamente 1,2°C de aquecimento global, e o clima pré-industrial, mais frio.

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