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O menino rico que se tornou defensor dos pobres; conheça Francisco de Assis

Origens de Francisco o mostram bem diferente do símbolo de humildade e benevolência que conhecemos - Reprodução / Domínio público
Origens de Francisco o mostram bem diferente do símbolo de humildade e benevolência que conhecemos Imagem: Reprodução / Domínio público

Tainara Rebelo

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

13/08/2022 06h00

Muita gente não sabe, mas a história de Francisco de Assis, santo conhecido como o protetor dos animais, dos doentes e das pessoas em situação de pobreza, não era tão nobre antes de ele ser canonizado pelo papa Gregório IX, dois anos depois de sua morte, em 1226, na Itália.

Reconhecido hoje pela imagem de um frade em roupa marrom, uma corda amarrada na cintura, sandálias simples de couro e corte de cabelo com o topo da cabeça à mostra, as origens de Francisco o mostram bem diferente do símbolo de humildade, benevolência e caridade que conhecemos.

Filho de família rica, ele tinha uma vida abastada e cheia de luxos, era um homem ambicioso e avesso à caridade e ao olhar de compaixão para os necessitados. Conheça um pouco mais sobre a história desse curioso santo, celebrado em 4 de outubro, o dia seguinte à sua morte.

Do luxo à pobreza

Nascido no dia 5 de julho de 1182, Giovanni di Pietro di Bernardoniera era filho de uma família rica e respeitada, que vivia do comércio de tecidos da região italiana de Assis. Rico e indisciplinado, o jovem tinha ambições de fama e glória e lhe faltava humildade. De acordo com seus biógrafos, Francisco era vaidoso, agia com superioridade, usava seu dinheiro de maneira indiscriminada e demonstrava repulsa por pessoas acometidas por doenças, principalmente pela lepra.

Francisco nasceu João

são francisco - Wikipedia - Wikipedia
Ambicioso, flertava com histórias dos heróis das cavalarias e se alistou para lutar em uma guerra
Imagem: Wikipedia

Francisco era filho de pai italiano e mãe francesa e foi batizado com o nome de Giovanni (que para nós é o equivalente a João). A mudança de nome aconteceu logo que ele nasceu. Seu pai era um comerciante influente que fazia negócios na França e logo começaram a dizer que o "Francesco" (o francês) havia chegado. O pai, então, decidiu mudar o nome do filho para Francisco, prestando uma homenagem àquela terra.

Soldado de guerra

Sem interesse pelos negócios da família ou por qualquer carreira, sua maior ambição era se tornar idolatrado e, para isso, flertava com histórias dos heróis das cavalarias italianas. Em 1202, aos 20 anos de idade, alistou-se como soldado na guerra de Assis contra Peruggia e foi neste momento que o destino do menino rico começou a mudar. Francisco foi capturado e permaneceu preso por cerca de um ano à espera de um resgate. Na prisão, contraiu malária, definhou e teve momentos de solidão, que o levaram a repensar toda a sua vida.

Da ambição à humildade

São Francisco - Reprodução/Domínio Público - Reprodução/Domínio Público
Francisco foi preso, contraiu malária e teve momentos de solidão, que o levaram a repensar toda a sua vida
Imagem: Reprodução/Domínio Público

Depois de ser solto por interferência do pai, Francisco tentou voltar para a sua vida de luxo, mas logo perdeu o interesse por aquilo tudo. Segundo seus biógrafos, após a liberdade teve "surtos" de caridade, que o fizeram, inclusive, doar tecidos da empresa de sua família aos pobres.

Um dia, em uma de suas caminhadas, Francisco teria encontrado um rapaz adoecido com lepra e algo diferente aconteceu. Ele olhou para além da aparência simples e doente do rapaz e entregou a ele suas roupas e moedas. A partir desse momento, passou a fazer visitas e a servir aos doentes em hospitais.

O chamado de Deus

Contam os biógrafos que durante uma de suas meditações, Francisco rezava sozinho na Igreja de São Damião, em Assis, e ouviu uma voz que lhe pedia para reformar aquela "casa". Ele entendeu que a mensagem pedia que fizesse uma obra de reparo no prédio da Igreja, mas a interpretação de seus biógrafos é a de que seria um pedido superior, para que reformasse o próprio cristianismo.

Para atender ao chamado, vendeu parte dos tecidos da família. Furioso, o pai o levou a julgamento para reaver a fortuna, mas foi derrotado diante de um Francisco que optou por renunciar às suas roupas, objetos e posses na frente de todos os presentes, afirmando que nada daquilo lhe acrescentava na luta contra as injustiças do mundo. O ato chamou a atenção da cidade, e logo Francisco conquistou jovens que começaram a seguir seus passos.

A Ordem Franciscana

São Francisco - Reprodução/Wikimedia Commons - Reprodução/Wikimedia Commons
Francisco renunciou a bens em favor da caridade e foi a Roma pedir a aprovação do papa para fundar nova Ordem
Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

Depois de atrair a atenção da cidade para seus atos de renúncia de bens em prol da caridade, Francisco de Assis redigiu um manuscrito sobre a nova ordem, que viria a se tornar a Ordem Franciscana, cujos pilares são o amor, a humildade, a castidade e obediência aos ensinamentos religiosos. E seguiu para Roma para pedir a aprovação do papa. Mas aprovação só veio quando o Papa reconheceu que era o próprio Deus quem inspirava Francisco a viver com princípios tão rígidos, trazendo vida nova a toda a Igreja.

Católico, da Umbanda e do Candomblé

Mais conhecido como santo católico, São Francisco de Assis também é cultuado na Umbanda e no Candomblé como Caboclo de Xangô, que abençoa os animais.

Protetor dos animais

São Francisco - Domínio público - Domínio público
Francisco considerava também os animais como obra divina e tinha muito respeito por eles
Imagem: Domínio público

Francisco de Assis passou parte da vida religiosa em peregrinação e nessa etapa ele não valorizava apenas a figura humana como obra divina, mas também a natureza e os animais, que tratava como irmãos. Em uma de suas histórias mais famosas, ele amansou um lobo selvagem durante uma peregrinação usando poucas palavras. Outra história relata que a um bando de andorinhas o seguia em suas viagens formando uma cruz no céu. Francisco chegou a pedir que a Igreja permitisse a presença de animais das missas.

Inventor do presépio

Nos anos 1200, quando se passa a história de Francisco, as missas eram rezadas em latim e havia grande dificuldade em explicar as pregações para a população. Francisco começou a utilizar-se de imagens santas para ilustrar suas palavras. Em 1223, em Greccio, ele usou figuras esculpidas, animais vivos e uma manjedoura com feno em sua pregação e o presépio, desde então, se tornou parte das celebrações natalinas.

Papa Francisco

Papa - REUTERS/Guglielmo Mangiapane - REUTERS/Guglielmo Mangiapane
Nome escolhido por Jorge Bergoglio demonstra o teor que ele quer dar ao seu papado
Imagem: REUTERS/Guglielmo Mangiapane

O cardeal que se torna papa escolhe um Santo para homenagear em seu batizado episcopal. Essa decisão do nome traz significados sobre as origens, ou propósito que o novo papa pretende sustentar enquanto estiver frente à Igreja Católica. Jorge Bergoglio escolheu ser o papa Francisco em 2013, o que representa um olhar da Igreja voltado para o diálogo, a inclusão e a simplicidade.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Na primeira versão desse texto a redação usou a palavra "luxúria", equivocadamente, no lugar da palavra "luxo".