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'R$ 30 é um livro caro, difícil acesso': Sophia Abrahão luta pela leitura

A atriz e modelo Sophia Abrahão - Divulgação
A atriz e modelo Sophia Abrahão Imagem: Divulgação

De Ecoa, em São Paulo

31/07/2022 06h00

Quantas vidas cabem na vida de uma atriz? Sophia Abrahão fez sua estreia como vilã adolescente de "Malhação", foi uma das protagonistas da versão brasileira da novela "Rebelde" feita pela Record, apresentou o Vídeo Show por dois anos e atuou em filmes como "Confissões de adolescente" e "Cine Holliúdy 2". Em 2022, tem dois trabalhos no forno: atuou na série internacional "Amores que enganam", do canal LifeTime, que vai ao ar em agosto, e no longa nacional de suspense "Letícia", ainda sem data de lançamento.

No tempo livre, Abrahão vive ainda outras vidas: apoia ONGs com a missão de levar água potável onde reina a sede e criou, há quatro anos, um clube do livro com mais de seis mil inscritos. O que começou com o compartilhamento de suas leituras no Instagram se tornou um projeto de incentivo à leitura e à escrita que conta com o apoio de uma grande editora.

Em julho, a atriz pôde conhecer algumas das comunidades e lideranças que vinha apoiando virtualmente: "Voltei cheia de vontade de me envolver mais", disse.

Leia a entrevista completa da atriz a Ecoa.

Ecoa - Como foi visitar comunidades assistidas pela Água para Irmãos com Sede [Sophia participou de uma entrega de água potável em comunidades na região de Petrolina e inaugurou a primeira sala de leitura da ONG na comunidade Lindolfo Silva]?

Sophia Abrahão - Eu já sabia de todo o trabalho deles, da realidade dessas famílias, mas quando você está in loco, caramba. Foi como se uma chave tivesse virado.

Sophia Abrahão cisterna - Divulgação - Divulgação
Sophia Abrahão participa de uma ação de abastecimento de cisterna promovida pela ONG Água para Irmãos com Sede
Imagem: Divulgação

Mas não foi uma viagem triste. A gente se impacta ao ver a realidade deles, mas foi uma viagem inspiradora, eu voltei cheia de vontade de me envolver mais.

O foco inicial da ONG é de fato levar água, e eu pude participar de uma ação de abastecimento de cisternas lá. Mas a nossa intenção é pensar em mais. Por isso a gente inaugurou a sala de leitura agora para as crianças. Eu fiquei muito feliz, muito emocionada por levar uma coisa que eu considero básica também que é a educação.

É um processo de formiguinha. Eu pude ver que às vezes soa meio simplório [fazer a] doação de livros e esperar que as crianças vão até essa sala e leiam. Tem muita coisa que precisa estar ok antes da criança pegar um livro e ler, como alimentação e [acesso] a água por exemplo. Eu tinha uma ideia romântica e voltei um pouco mais realista. A educação é a minha prioridade, é o que eu tento fomentar no que está ao meu alcance, mas tem que dar dois passos para trás e analisar outras coisas que a gente pode colaborar. Acho que essa percepção eu só pude ter estando lá.

Mas eles receberam a sala com muito carinho, foi uma festa. Ela é cheia de tatames, tem ventiladores potentes, tem uma televisãozona que vai passar desenho, filme, programas educacionais, então as crianças tiram o sapato, ficam num lugar super confortável.

Eu gostaria de tornar aquilo um ambiente seguro para elas poderem sonhar, porque às vezes a realidade é tão dura que você não tem nem referência do que você pode ser. Tem muita gente que não tem ninguém ao redor que conseguiu sair de uma realidade tão brutal, não tem em quem se inspirar.

O que fez você se engajar em projetos de incentivo à leitura? Você vê o hábito de ler transformando a vida das pessoas?

Sem dúvida. Eu comecei esse clube do livro há quatro anos e ele se tornou um dos maiores do Brasil, a gente tem mais de três mil inscritos.

Comecei a compartilhar os meus hábitos de leitura no Instagram e vi que muita gente que me seguia começou a se interessar em ler comigo.

A leitura é transformadora, mas o brasileiro não lê tanto. Isso acontece por vários motivos. Acho que a maneira que a gente apresenta a literatura para as nossas crianças, de uma forma um pouco impositiva, acaba afastando-as.

Outra coisa que ficou muito nítida para mim é que um livro de 30 reais é um livro caro, de difícil acesso. Eu recebia muitas mensagens de quem queria ler mas não tinha essa grana.

Foi aí que comecei a minha parceria com a HarperCollins, que não envolve nenhum tipo de troca financeira porque é um projeto sem fins lucrativos. Eles conseguem um super desconto para os inscritos. A gente também sorteia livros todo mês, vários inscritos são contemplados com esses livros e não precisam comprar.

Agora tem três meses que a gente lançou um concurso cultural em que as pessoas me mandam redações a partir dos livros. Eu leio todas e tem prêmios para o primeiro, segundo e terceiro lugar para incentivar a escrita também. Tem inscritos que estão em processo de formação, daqui a pouco vão prestar um Enem, um vestibular, a gente sabe que redação é importante.

Quais outros projetos você apoia hoje?

Tem a Abrale, que é uma instituição que luta contra o Câncer em São Paulo, acabei de fazer um vídeo com eles para promover a ONG. Eles não só atendem as crianças que sofrem de determinado câncer, mas também os pais, porque às vezes as pessoas vêm de outros estados, de outras cidades fazer tratamentos e não tem onde ficar, e a Abrale acolhe essas famílias também. Converge um pouco com meu trabalho lá em Pernambuco, o trabalho com crianças me atrai bastante.

E a terceira ONG que eu faço parte é a Doe vida, que foca na doação de sangue. Eles têm um aplicativo muito legal que você coloca o seu tipo sanguíneo, a região que você mora e seu celular apita quando a doação daquele tipo sanguíneo perto de você é necessária.

O que você faz hoje para ter uma vida mais sustentável?

Um hábito meu nesse sentido é o não consumo de carne, a gente sabe como essa é uma das maiores causas da devastação do nosso meio ambiente. Eu tenho uma preocupação muito grande na separação do meu lixo e entrego as tampinhas plásticas para uma organização aqui do Rio de Janeiro que se chama Rio Eco Pets, que doa o valor arrecadado com a reciclagem para a causa animal.

Em relação à moda sustentável, sou uma adepta dos brechós, compro muitos produtos de segunda mão. Eu não tenho muitas roupas — apesar das pessoas olharem e acharem que a gente tem um guarda-roupa imenso, eu realmente tenho o que eu uso. Até porque cobram artista de não repetir roupas, então normalmente se eu uso uma roupa pontualmente numa festa, ela não é minha, é de assessoria.

A gente está sempre ganhando roupa também, então estou sempre preocupada em doar. Sempre que chega alguma coisa, eu estou tirando outra.

Eu queria na verdade ter o uniforme da Mônica, usar uma camiseta preta e uma calça jeans todos os dias. É meu sonho, sou bem básica.

Qual a principal transformação que você gostaria de ver no Brasil?

Não tem como falar de transformação sem falar de um assunto que está muito em pauta, que é a fome. Uma vez sanadas as demandas básicas para a sobrevivência do ser humano, acho que a educação é a única alternativa para uma criança conseguir sair da miséria, para ela conseguir ter uma esperança, uma referência, para conseguir sonhar.

A gente precisa se unir enquanto sociedade e cobrar dos nossos políticos um projeto a longo prazo, não um para daqui quatro anos. A gente precisa obviamente do assistencialismo, mas também de políticas a longo prazo.

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