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Vizinhos se unem para ajudar vidraceiro que ficou sem casa na pandemia

Seu Adilson em sua casa nova - Arquivo pessoal
Seu Adilson em sua casa nova Imagem: Arquivo pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, do Recife

24/05/2022 06h00

Segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil fechou o primeiro trimestre deste ano com 12 milhões de desempregados. Grande parte desse número é reflexo da pandemia de covid-19. Mas não foram só os trabalhadores formais que saíram prejudicados da crise sanitária.

Pequenas empresas e autônomos também sentiram os efeitos. Em São Paulo, um vidraceiro viu o serviço desaparecer ao longo da quarentena e acabou tendo que morar na rua. Vizinhos de um bairro paulistano, no entanto, se sensibilizaram com o caso e criaram uma vaquinha virtual para ajudá-lo.

O esforço possibilitou o pagamento do aluguel de um imóvel e alimentação para ele e seus cães de estimação. A Ecoa, Adilson José de Souza contou como a situação chegou a tal ponto. O vidraceiro lembra que morou cinco anos em um quarto com seus cachorros, que ficavam no quintal da casa. Quando viu os serviços desaparecerem e ficou sem dinheiro para o aluguel, ele foi morar na rua com os animais no bairro de Higienópolis, área central da cidade.

"Cheguei na calçada de uma academia no dia 1? de outubro de 2021, à noite. Comecei a receber ajuda no dia seguinte, com doações de alimentos. No terceiro dia, uma amiga e seu esposo me viram e compraram uma barraca para mim. A partir daí, comecei a receber doações de várias pessoas da região", disse.

O casal que comprou a barraca para Adilson foi a engenheira de projetos Michelle Barbosa e o educador físico Marcelo Rodrigues. Michelle explica que ver aquela situação mexeu com ela.

"Conheci seu Adilson há alguns anos. Na época, ele vinha ao lixo em frente ao meu prédio buscar comida para os cachorros e, às vezes, aproveitava para ele também. Eu perguntei por que estava ali, onde morava, e ele me disse que pagava aluguel e nem sempre a renda dava para comprar comida para os cachorros. Com o alto índice de abandono de animais e maus-tratos, me comovi com o respeito e cuidado com que tratava seus animais. Então comecei a ajudar doando ração", relembrou.

Alguns anos depois, Michelle seguia para a academia, em um domingo, quando olhou para a marquise e viu o vidraceiro com os cachorros. Ela disse que chegou a entrar na academia, mas não se conformou com a cena.

"Uma superchuva estava para cair. Não aguentei. Saí da academia e fui até uma loja comprar uma barraca", contou.

Um novo lar

O casal passou a auxiliar Adilson e seus cães. Outros moradores da região também ajudaram com doações e até conseguiram veterinário para ver os cachorros. Até que Michelle decidiu criar a vaquinha virtual. Deu certo: mais de R$ 4 mil foram arrecadados.

A nova casa de seu Adilson com placa anunciando seu serviço como vidraceiro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A nova casa de seu Adilson com placa anunciando seu serviço como vidraceiro
Imagem: Arquivo pessoal

O dinheiro serviu para ele comprar coisas essenciais e pagar o aluguel de um imóvel onde possa morar. Os vizinhos também ajudaram doando móveis usados e outros itens para a casa, bem como providenciando o carreto para levar tudo.

"O aluguel em São Paulo não é barato, e ele se mudou para um bairro distante do centro. É uma casa que tem uma garagem para ele montar a vidraçaria e cujo proprietário aceitou os cães", explicou Michelle.

Seu Adilson agradece todo o apoio que teve e diz que não esquecerá a ajuda que recebeu. "Estou muito feliz junto com o Pitbuzão, o Seu Madruga, a Chiquinha e a Dona Florinda, que são os meus cachorros que todos vocês ajudaram a tirar da situação de rua depois de 5 meses e 25 dias", disse ele em uma mensagem enviada aos seus antigos vizinhos.

"Já fiz a placa da vidraçaria e mandei instalar. Já estou deixando meu contato em algumas casas de balada da região da Mooca, onde moro agora, e do centro, onde trabalhei atendendo meus antigos clientes", contou.

O vidraceiro está no ramo desde 1998 e acumulou clientela ao longo dos anos. "Sem contar que eu moro na cidade de São Paulo há 35 anos. Portanto, posso dizer que conheço boa parte da cidade que eu amo de coração. Pretendo passar o resto da minha vida aqui."

Enquanto se reergue, Adilson está aceitando ajuda via PIX: 11984475837 (chave celular).