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Auxiliar de limpeza desempregada ajuda a combater a fome em Diadema (SP)

Elaine produzia as refeições com seu salário, depois que ficou desempregada arrecada doações - Arquivo pessoal
Elaine produzia as refeições com seu salário, depois que ficou desempregada arrecada doações Imagem: Arquivo pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, no Recife

20/05/2022 06h00

O passado de fome nunca saiu das lembranças da auxiliar de limpeza Elaine Gomes, de 43 anos. Os tempos difíceis compartilhados com a mãe e três irmãos serviram, segundo ela, para exercitar a empatia. Elaine sempre disse que quando crescesse e tivesse o próprio dinheiro arrumaria uma maneira de ajudar pessoas. Atualmente, mesmo desempregada, ela distribui 100 refeições para moradores de rua todas as semanas na cidade de Diadema, na região do ABC paulista.

Elaine conta que todo o trabalho é feito com a ajuda do marido, o fiscal de loja Romeson Gomes, 33 anos. O trabalho teve início em 2015, mas ganhou novo significado durante a pandemia do novo coronavírus, com o aumento das pessoas em situação de fome.

As refeições sempre foram custeadas pela auxiliar de limpeza até 2020, ano em que passou a integrar a estatística do desemprego provocado pela crise sanitária. "Meu dinheiro ia todo para as marmitas e meu marido mantinha a casa. Quando fiquei desempregada, prometi que não pararia, até porque o número de pessoas que precisavam de ajuda tinha crescido ", disse a Ecoa.

A profissional diz que tudo o que passou na vida serviu de aprendizado, e que ajudar o próximo deveria ser algo comum à sociedade. "Passei muita fome. Dos 5 aos 15 anos foram tempos muitos difíceis, vivíamos em lixão procurando comida e roupas. Mas acredito que isso me fez refletir e ser uma pessoa melhor", ressaltou.

Casal distribui 100 refeições

Cem marmitas são produzidas e distribuídas pelo casal todas as sextas-feiras. Os cardápios, explica Elaine, são variados. Ela diz que gosta de cozinhar e que está sempre mudando as opções. "Amo fazer coisas diferentes, pois faço as marmitas para eles como se estivesse fazendo para minha família, com muito amor e bem caprichadas", disse.

Os pratos sempre têm arroz, feijão, macarrão, polenta "e uma mistura", que pode ser frango, carne moída, salsicha ou linguiça. "A comida é feita na minha pequena cozinha, faço tudo sozinha, só na hora de encher que minha filha me ajuda", destacou.

Fome Diadema - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Elaine entrega 100 refeições todas as sextas-feiras e pede doações aos seus 94 mil seguidores das redes
Imagem: Arquivo pessoal

Para manter as entregas, Elaine busca doações. No seu perfil no Instagram, onde acumula quase 94 mil seguidores, ela pede ajuda aos internautas, que têm contribuído. No entanto, nem sempre as contribuições conseguem sanar totalmente a necessidade. Quando isso ocorre, o casal tira do próprio bolso.

"Graças a Deus tem dado certo e estou conseguindo dar continuidade a esse ato de amor ao próximo", disse.

Ela e o marido convidam as pessoas para conhecerem o esforço do casal. Nas redes sociais estão os registros das ações e de como as refeições são montadas. Elaine diz que se sente abençoada por ter saúde e por poder levar a solidariedade até a população vulnerável.

"Eu me sinto grata e não sei o que seria de mim se não pudesse mais fazer isso. Passo as semanas me movimentando para que dê tudo certo nas sextas-feiras. Manter esse trabalho é tão importante para mim quanto o ar que respiro", ressaltou.

Para conhecer o trabalho de Elaine, basta acessar o perfil dela no Instagram. Doações em dinheiro podem ser feitas por PIX: 11 937404717 (chave-celular).