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Parceria entre a UFRRJ e moradores criará 50 hortas nas lajes da Rocinha

Trabalho visa produzir alimentos e mel e possibilitar modelo sustentável de geração de renda  - Arquivo pessoal
Trabalho visa produzir alimentos e mel e possibilitar modelo sustentável de geração de renda Imagem: Arquivo pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, no Recife

16/05/2022 06h00

Uma parceria entre pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e moradores da Comunidade da Rocinha implantará 50 hortas urbanas nas lajes da parte alta da comunidade. O trabalho visa produzir alimentos, mel e espécies medicinais, além de possibilitar um modelo sustentável de geração de renda e produção de orgânicos a partir de cogumelos nativos da Mata Atlântica.

Inicialmente, os 50 moradores utilizarão suas próprias lajes para a produção de espécies vegetais e a criação de abelhas sem ferrão, que além de produzir o mel auxiliam no processo de polinização das espécies nativas da floresta.

Quem explica o trabalho a Ecoa é o coordenador do projeto, professor José Lucena Barbosa Júnior, do Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFRRJ, que morou com a família na Rocinha por quase 20 anos.

"Em conversas com amigos de infância a gente se perguntou se não haveria a possibilidade de contribuir com a comunidade a partir da minha atuação como coordenador de um programa que tem tudo a ver com grandes desafios da Rocinha: conter a pressão do crescimento da favela sobre a Floresta da Tijuca e a insegurança alimentar de uma parcela de sua população", disse o docente.

A partir dessas conversas, o professor procurou colegas da universidade e deu início ao esboço de uma proposta de reflorestamento e recuperação da borda da Floresta da Tijuca, utilizando o SAF (Sistema Agroflorestal) associado à ideia de processamento e comercialização de alimentos dentro da favela.

Parceria com lideranças comunitárias

horta na Rocinha - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Moradores da comunidade poderão trabalhar nas hortas e se beneficiarem dos alimentos e da venda do mel
Imagem: Arquivo pessoal

Como ex-morador e conhecedor da dinâmica interna da Rocinha, José Lucena acionou lideranças comunitárias e apresentou a ideia a um morador que fazia um trabalho de conscientização ambiental com crianças da comunidade, utilizando hortas em escolas e em uma laje na parte alta da Rocinha.

"O projeto foi nascendo e foi apoiado no edital da Fundação Carlos Chagas de Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, chamado 'favela inteligente'. O projeto se propõe a articular o manejo, produção e processamento de alimentos e outros produtos oriundos da própria comunidade, como estratégia de geração de renda e combate a insegurança alimentar na Rocinha", explica o professor.

Segundo ele, uma área de um hectare, aproximadamente, será reflorestada utilizando a técnica do SAF, com a introdução de espécies vegetais nativas da Mata Atlântica, como ipês, juçara, cambuci, araçá, uvaia e outras sob ameaça de extinção naquele ecossistema.

A participação dos moradores será organizada em uma associação, com vistas à geração de negócios sociais dentro da Rocinha. Além disso e do combate à insegurança alimentar na comunidade, haverá o incentivo a jovens em situação de vulnerabilidade, que serão apresentados a uma alternativa de melhoria de vida dentro do tema da sustentabilidade.

Quanto ao potencial de geração de renda, o docente destaca que a comercialização do mel das abelhas sem ferrão pode possibilitar renda de até R$ 1.500 por mês a cada morador participante. Sem falar no consumo de produtos muito mais saudáveis e nutritivos em suas próprias casas.

"De forma participativa, as hortas serão montadas utilizando materiais de baixo custo. Preferencialmente materiais reciclados na própria favela, e com mão de obra dos próprios moradores em regime de mutirão. Há recursos dentro da proposta aprovada para a montagem de pelo menos 50 lajes produtivas", acrescentou.

Parte dos recursos vem de doações

Horta na Rocinha - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A proposta é articular o manejo, produção e processamento de alimentos vindos da própria comunidade
Imagem: Arquivo pessoal

Os recursos destinados ao projeto cobrem alguns gastos previstos na proposta, mas não cobrem outros que são fundamentais para a sua execução, como o aluguel de uma parte alta da favela que serve de apoio para as ações do projeto, que é pago por uma liderança.

Além disso, conta José Lucena, há gastos com alimentação e deslocamento dos moradores que não podem ser cobertos pelo recurso obtido. Para essas demandas, um dos moradores à frente da comunidade arrecada recursos por meio de doações.

Flávio Ismael Gomes consegue manter toda essa estrutura com doações de terceiros e "bicos" que realiza como eletricista e jardineiro em bairros de classe média próximos da Rocinha. A Ecoa, Flávio conta que os moradores ainda estão se acostumando com o projeto.

" Estou iniciando com um grupo de 26 pessoas. Com essa parceria com a UFRRJ, os outros vão aderir também. A aceitação é boa, mas eles ficam um pouco assustados porque é tudo muito novo. Nós tivemos uma experiência com três hortas e foi muito bacana. Agora é trazer essas 50 hortas e com pouco tempo a gente vai conseguir trabalhar a geração de renda e a qualidade de vida dessas pessoas", avaliou.

Para ajudar nos custos extras dos moradores participantes do projeto, você pode fazer uma doação pelo PIX: 021.507.347-96 (chave-cpf).