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Parceria evita desperdício de 215t de comida e distribui 338 mil refeições

Distribuição de refeições pela ONG Sefras  - Divulgação
Distribuição de refeições pela ONG Sefras Imagem: Divulgação

Gabriela Monteiro

Colaboração para Ecoa de São Paulo

14/04/2022 06h00

Nos noticiários, não se fala em outra coisa: o brasileiro sente fome. Em 2021, imagens de mães fazendo longas filas em frente ao açougue para coletar ossos de carne em Cuiabá (MT), ou coletando restos de um caminhão de lixo no Rio de Janeiro, chocaram o país.

Elas eram um reflexo do que os dados já apontavam: a fome atingiu 19,1 milhões de brasileiros em 2020, parte de um contingente de 116,8 milhões de pessoas que convivem com algum grau de insegurança alimentar — número que corresponde a 55,2% dos domicílios, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Penssan.

Pensando nisso, uma empresa resolveu contribuir de alguma maneira para mudar o cenário. Em maio de 2021, a Unilever criou a iniciativa "Unidos pela Comida", liderada pela marca de maionese Hellmann's.

"Não houve um 'dono da ideia', foi um trabalho realmente coletivo que envolveu mais de 20 funcionários de maneira voluntária. Ficamos todos indignados ao relacionar alguns fatos sobre a situação: enquanto um terço da produção de alimentos é desperdiçada no Brasil, segundo a ONU, 9% da população está vivendo em situação grave de insegurança alimentar. A realidade, agravada pela pandemia, era desesperadora, mas entendemos que por sermos parte de uma das maiores indústrias de alimentos do país tínhamos o poder e a responsabilidade de fazer algo", conta Agatha Matias, gerente de marketing e cofundadora da ação Unidos Pela Comida.

Os primeiros passos

A saída encontrada foi coletar, entre os produtos das marcas da Unilever (como Knorr, Mãe Terra, The Vegetarian Butcher, Hellmann's, Arisco, Maizena e Cremogema), o maior número possível de alimentos próprios para consumo e que estivessem na rota do desperdício. Eles são, então, entregues a ONGs parceiras para serem transformados em marmitas e distribuídas para pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Só no primeiro mês de projeto, 7 toneladas de alimentos foram salvas e transformadas em mais de 13 mil refeições em São Paulo, segundo dados da própria Unilever. "Após nove meses de projeto, de maio de 2021 até fevereiro deste ano, além de São Paulo, a iniciativa conseguiu alcançar outros dois estados — Rio de Janeiro e Pernambuco —, salvou mais de 215 toneladas de alimentos e distribuiu mais de 338 mil refeições para pessoas em vulnerabilidade social", diz Agatha.

O grupo preferiu trabalhar com refeições prontas e não somente os insumos para cozinhá-las porque a situação econômica do país impede que muitos consigam até mesmo comprar um botijão de gás — que atingiu o valor de R$ 160 em algumas regiões, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) atualizados em março. Isso representa uma alta de 35% em relação ao valor praticado há um ano, quando o botijão era vendido por, em média, R$ 83,11.

Parcerias para tirar a ideia do papel

A ONG Sefras — Serviço Franciscano de Solidariedade, que já vinha atuando no combate à fome desde o começo da pandemia distribuindo marmitas, é uma das principais parceiras no projeto. A ONG existe desde os anos 2000 e é o braço do trabalho social da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, instituição com mais de 300 anos de história.

"A Unilever oferece os produtos, que são coletados na empresa pela organização Infineat e entregues em nosso Galpão Franciscano, para alimentos não perecíveis, ou em nosso contêiner refrigerado, para proteínas congeladas. Nossa logística, por sua vez, envia os produtos para nossas cozinhas. As refeições chegam aos nossos públicos de duas formas: são 1.800 marmitas diárias oferecidas em 5 comunidades, e 2.400 refeições no prato oferecidas nos nossos serviços de atendimento", explica o frei José Francisco de Cássia dos Santos, Diretor Presidente do Sefras.

Os alimentos enviados pela Unilever costumam incluir macarrão, maionese, carnes congeladas, temperos para comida, legumes em conserva, pães, vegetais e frutas frescas e, no inverno, sopas e mingaus. Para complementar os pratos, o Sefras inclui itens como arroz, feijão, farinha e óleo, que são comprados ou doados por outras empresas e pessoas.

"Nós também envolvemos também nossa equipe de chefs de cozinha e nutricionistas para garantirmos que as receitas seriam gostosas e nutritivas", pontua a gerente de marketing. As refeições preparadas diariamente pelos franciscanos têm 500 g e sempre contam com carne, vegetais, legumes e arroz e feijão (que, às vezes, podem ser substituídos por macarrão com molho).

Há ainda outras empresas e organizações envolvidos no projeto, como Infineat, Rede Rua, Gastromotiva, Bonduelle, Bauducco, Bem da Madrugada, Renata, Samaritanos e Coop.

Planos de expansão

Com o sucesso da ação, o objetivo do grupo de mais de 20 funcionários da Unilever agora é aumentar a atuação do Unidos Pela Comida. "Por isso, continuamos prospectando indústrias, varejistas e ONGS que queiram fazer parte da iniciativa. Além disso, deixamos o projeto sempre aberto internamente para quem mais quiser se juntar a ele", conta Agatha.

Para o frei José Francisco, essa é uma semente que não só pode, como deve germinar ainda mais. "O que temos percebido no trabalho diário com os nossos públicos é que as crises econômica e social têm jogado cada vez mais pessoas na miséria. E a fome é um sintoma mais evidente e dramático disso. As filas de pessoas que precisam de alimentos têm aumentado em nossos serviços de atendimento. O projeto tem um potencial imenso de chegar a mais pessoas", conclui.