Topo

No Piauí, instituto valoriza a cultura e a economia local com ações sociais

O Instituto Novo Sertão foi fundado em Betânia do Piauí - Divulgação
O Instituto Novo Sertão foi fundado em Betânia do Piauí Imagem: Divulgação

Maiara Marinho

Colaboração para Ecoa, em São Paulo (SP)

05/04/2022 06h00

A 500 km de Teresina, capital do Piauí, a estrada levou o José Brito Filho até o sertão. Lá, em Betânia do Piauí, ele conheceu uma realidade diferente daquela que havia deixado em São Paulo alguns anos antes. Após ter percorrido outras regiões do Nordeste para promover ações sociais, ele teve como destino a zona rural sertaneja, que à época sofria com a maior seca dos últimos 50 anos.

O ano era 2012. Acompanhado de um grupo de pessoas, aquele jovem de 24 anos articulou uma rede de solidariedade para levar água através de doações às famílias vítimas da seca. Durante três anos fez o trajeto entre a capital piauiense e Betânia, uma média de oito horas de carro. Ao perceber que o trabalho social na região seria mais efetivo ao ser contínuo, mudou-se para a cidade de 6 mil habitantes e deu início ao Instituto Novo Sertão.

"De 2012 a 2015, era mais doação de água, alimentos, roupa, coisas assim. Quando a gente configurou como Instituto mesmo, começou a trabalhar com educação, cultura e depois com agricultura familiar e geração de renda", relata José, que é diretor do Instituto.

Educação, cultura e geração de renda são os principais programas

Atualmente, o Novo Sertão desenvolve alguns projetos de educação e esporte por meio da Escola FutSertão; de arte e cultura com a Companhia de Teatro, a Balé Contemporâneo e a Banda Sinfônica do Instituto; e de geração de renda com a agricultura familiar que deu origem à primeira Feira Agroecológica da cidade. Com o objetivo de empoderar crianças, jovens e adultos e, assim, transformar sua realidade, todas as ações são motivadas por princípios educacionais, pelo fortalecimento e resgate da cultura sertaneja.

"Na época da pandemia a gente teve que dar uma pausa em muita coisa, mas foi nesse mesmo período que a geração de renda na agricultura familiar começou. A insegurança alimentar cresceu de forma exponencial e entendemos que dar cesta básica não ia adiantar, então a gente começou a focar na produção de alimentos", diz.

A produção em Betânia do Piauí impacta a vida de pelo menos 200 pessoas diretamente, além dos cerca de mil consumidores da feira. Hoje, o Instituto apoia outras organizações em diferentes cidades com assistência técnica para expandir a produção local e incentivar a economia circular.

José Brito Filho, diretor do Instituto Novo Sertão - Divulgação - Divulgação
José Brito Filho, diretor do Instituto Novo Sertão
Imagem: Divulgação

O Instituto também apoia a construção de cisternas, perfuração de poços e revitalização de açudes para enfrentar os períodos de seca. Recentemente criaram um programa de mobilização da juventude em defesa do marco das águas. "Para transformar mesmo essa realidade somente com políticas públicas", comenta José.

Mesmo assim, as ações do Novo Sertão são significativas, uma vez que impactam em média 400 pessoas semanalmente em todos os programas ao longo dos últimos seis anos, além das mais de 30 famílias produtoras de alimentos, nos últimos dois anos. Por isso, José acredita que o maior legado do Instituto é o fortalecimento da esperança da população sertaneja em relação ao seu território.

"Durante muito tempo o Sertão foi estigmatizado ou o lugar de onde as pessoas têm que sair para viver bem. A gente faz um trabalho para que elas entendam e sintam que podem ficar bem permanecendo ali. E o nosso maior resultado é essa mudança de pensamento local de que é possível ter proteção e prosperidade estando na própria terra, produzindo o próprio alimento", comenta.

Da horta para a feira

Rosinalva da Silva Rodrigues é produtora rural e moradora de Suspiro, em Betânia do Piauí. Ela é uma das pessoas impactadas diretamente pela produção e comercialização local. No seu quintal tem alface, coentro, mamão, pimentão, couve, pimentinha, cebola, tomate e limão. "A produção é uma das minhas principais fontes de renda, junto com o Bolsa Família", explica.

Ela é uma das pessoas assistidas pelo Instituto Novo Sertão, que ofereceu o aporte necessário para que ela pudesse produzir o alimento e comercializar o excedente para consumo barato e saudável nas demais casas da região. "A prioridade é o alimento na minha mesa e na mesa de outras famílias", diz.

Quando as famílias iniciam o processo de plantação, o Instituto provê assistência técnica e os itens necessários para a plantação e o cuidado com a terra.

Há mais de 10 anos fora de São Paulo, José explica que saiu de lá porque estava cansado da dinâmica da cidade e diz que no Sertão tem a paz e a tranquilidade que nunca teve. "O Sertão me adotou", relata. Ao chegar no Piauí, descobriu "uma riqueza escondida, um lugar cheio de potencial".